O futuro presidente da Liga

Fernando Gomes, ex-administrador da SAD do Porto, é o mais que provável sucessor de Hermínio Loureiro na presidência da Liga. O portuense conta com o apoio dos clubes da Liga Vitalis, e com apoios que se vão perspectivando também entre os clubes primodivisionários.

Muitas dúvidas se levantam sobre a imparcialidade de um nome ligado até há bem pouco tempo a uma máquina criadora de teias de influência que ainda hoje perduram no futebol nacional, sobre a sua capacidade para liderar uma máquina sujeita a pressões inimagináveis no seu dia a dia.
Fernando Gomes é formado em Economia, e foi o responsável no FC Porto pela gestão financeira da SAD nos últimos anos, uma gestão que quanto a mim aproveitou algumas benesses conseguidas pela SAD, e que balanceou com critério a despesa e a receita, condicionando claramente a política desportiva do clube. Permitiu grandes investimentos, mas exigiu sempre garantias de recuperação da dívida contraída. E foi fazendo várias intervenções públicas sobre temas relacionados com o desenvolvimento financeiro do futebol, realidade para a qual se acordou demasiado tarde em Portugal. Matérias como as verbas da Liga dos Campeões a distribuir por clubes não participantes ou as perspectivas económicas que um campeonato ibérico abriria, estão entre as mais destacáveis.

Demitiu-se no passado mês de Janeiro, alegando razões pessoais que se rumorizaram na altura ter sido apenas o motivo encontrado para esconder divergências entre ele e os restantes administradores no que toca à política de contratações seguida nos últimos tempos. Creio que não é algo relevante para se aferir da sua imparcialidade, porque pouco importa se saiu zangado ou não.

Pelo que me garantem, é uma pessoa capaz de ser imparcial. Acima de tudo um profissional, que honra a entidade que lhe paga o salário e a qual defende. Rigoroso e imaginativo são outras qualidades que lhe reconhecem, qualidades que aliás serviram para estabelecer pontes de contacto com Domingos Soares de Oliveira, administrador da SAD do Benfica, em questões de foro essencialmente económico das duas sociedades. Foi aliás o único contacto que as duas SAD tiveram nos últimos anos, só possível devido à postura claramente diferenciada de Fernando Gomes face aos restantes administradores do FC Porto.

Agora que ficou definido que a Liga manterá sob sua jurisdição a disciplina e a arbitragem, ganha nova importância o convite que terá endereçado a Ricardo Costa e Vitor Pereira para manterem as funções que já desempenham. Vejo grandes falhas no trabalho de Vitor Pereira, mas simultaneamente uma independência que não era nada habitual no futebol nacional, sobretudo em postos dirigentes da arbitragem. Quanto a Ricardo Costa, seria uma excelente notícia caso ele aceitasse o convite, algo que parece que não irá acontecer. Também terá dirigido convite às restantes pessoas da comissão executiva, tentando ao fim e ao cabo que toda a equipa actual se mantenha em funções, tirando Hermínio Loureiro. Parece-me um reconhecimento justo da competência da equipa actual, que não foi mais longe apenas e só porque os clubes, os que realmente têm poder na Liga, não quiseram. E uma prova de que Fernando Gomes é acima de tudo um profissional, ou senão teria facilmente optado por querer uma Liga totalmente nova, como certamente o Porto defende.

Garantem-me também que rejeitou o apoio do Porto nos últimos dias, procurando desde já uma equidistância que se deseja em relação a todos os clubes. Tem como uma das suas missões juntar os três grandes na busca de soluções para um futebol mais atractivo, e consequentemente mais rentável, algo em que duvido que tenha êxito devido à conhecida e eterna guerra promovida pelo clube sediado em Contumil.

O perfil profissional parece indicar-me que se tratará de um bom presidente. O Benfica sobretudo já fez questão de realçar o bom trabalho que conseguiu desenvolver em conjunto com ele nos últimos anos, e penso que o irá apoiar na corrida à presidência. É alguém que me parece ser sério, que pelos vistos dá garantias de isenção e que quer deixar a sua marca no futebol português. Não uma marca meramente casuística eventualmente tentando garantir vitórias a alguns clubes como aconteceu num passado bem recente com alguns dirigentes da Liga. A marca que ele quer deixar, é a efectiva revitalização do futebol em Portugal, algo que certamente lhe encheria bem mais o currículo que vitórias sempre duvidosas do seu clube do coração.

Ricardo Costa também é boavisteiro, e tem tido a acção que se conhece na Comissão Disciplinar. Começo a dissipar as minhas dúvidas de que Fernando Gomes poderá ser da mesma estirpe. Se conseguirá relançar o futebol em Portugal e ser realmente imparcial? Não sei, mas suspeito que tudo fará efectivamente para o conseguir.

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