E se não formos campeões?

A pergunta arrepia. Francamente, o meu desconforto a desenvolver um tema destes é tal, que é como se estivesse a auto-flagelar-me enquanto dedilho no teclado para escrever. Quanto a mim, esta hipótese é meramente académica, mas mesmo uma teorização deste género tem de ser considerada, uma vez que é passível de acontecer.

Como aguentaríamos o choque? Como acordaríamos no dia seguinte? Como é que o Benfica resistiria a uma desilusão destas?

Há quase trinta anos que o Benfica não dava o espectáculo que esta equipa dá este ano, mesmo se tivermos em linha de conta enormes campanhas europeias na Taça dos Campeões protagonizadas por outras grandes equipas do Benfica neste período de tempo. Jogamos de forma intensa, organizada e bonita, com um futebol de ataque, positivo e mobilizador. Seria a injustiça de todos os tempos esta equipa não ser coroada com a glória no final da época.


Faltam cinco finais para a glória, onde o Benfica tem de somar pelo menos 10 pontos nos 15 em disputa. Recepção complicada ao Sporting, ida dificílima ao Dragão, e uns jogos mais "amigáveis" de permeio, com uma vantagem pontual confortável à entrada para esta jornada. Cabe na cabeça de alguém não sermos campeões? Sinceramente, espero que caiba na cabeça dos jogadores e treinador, pelo menos. Para não facilitarem, ainda para mais agora sem a Europa para queimar energias importantes nesta fase da época. É possível perder o campeonato, e se a equipa estiver consciente disto, estará ao mesmo tempo mais perto de o conquistar.

Evito pensar na amargura, na tristeza, na raiva e na fúria que sentiria se nos escapasse este título. Evito, mas não consigo... a par com os pensamentos positivos, vem esta sombra. Uma sombra que só sobrevive ainda pelo medo de falhar que demasiadas épocas medíocres criou em mim. É um daqueles fantasmas que está quase a ser aniquilado com a vitória deste ano, mas que até se verificar andará sempre atrás de mim, perseguindo-me e atemorizando-me.

Ao mesmo tempo, este fantasma que vigia este final de temporada, e que força um falhanço que poderia ter consequências demasiado desastrosas no Benfica, financeira e socialmente, é também o fantasma que acabará por exponenciar a alegria quando o árbitro apitar pela última vez no jogo que nos valerá o 32º campeonato nacional da nossa história. Quanto mais receio, maior a alegria no fim...

Quanto mais imagino a desilusão de um eventual falhanço, demasiado estrondoso a acontecer, mais imagino o oposto. As avenidas das cidades portuguesas carregadas de benfiquistas, agitando o vermelho vivo das nossas camisolas, dos nossos cachecóis e das nossas bandeiras, entoando um coro de êxtase capaz de se fazer ouvir na Lua, numa verdadeira orquestra de sentimentos perfeitamente afinados, perfeitamente alinhados e conjugados, que fazem de nós um clube verdadeiramente especial.

Já consigo ver o autocarro descapotável avançando lentamente na procissão de glória até ao Estádio da Luz, cheio que nem um ovo para vangloriar os campeões. Cheio para marcar o fim de uma era demasiado negra, cheio para coroar o novo rei do futebol português, cheio para marcar definitivamente o mérito e o trabalho de uma grande equipa que muito fez pelo futebol esta época.

De qualquer forma... muita cabeça fria até ao fim, utilizar a folga que temos para encararmos com um à-vontade diferente os desafios que faltam, conseguindo com isso abordagens mais efectivas e menos forçadas às partidas em disputa.

Cerrar fileiras, dar o máximo... estamos a três semanas da maior festa do país!

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