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segunda-feira, 19 de julho de 2010

De novo reis em Guimarães

Não há duas sem três, e o Benfica voltou a vencer o Troféu Cidade de Guimarães. A precisar de ganhar, a equipa produziu uma exibição exuberante e com nota artística para vencer o Vitória de Guimarães, num jogo marcadamente ofensivo, com muitos espaços dados de parte a parte, e com vários jogadores a mostrarem-se já num plano muito elevado nesta fase da preparação para a nova época.


Jesus escalou o seguinte onze para esta partida: Roberto, César Peixoto, David Luiz, Sidnei, Ruben Amorim, Airton, Gaitan, Aimar, Carlos Martins, Saviola e Kardec. Foi portanto uma equipa muito próxima do que será o onze base desta época, com as repetidas ausências na defesa, e com dois homens do meio campo para a frente a reclamarem um lugar aos habituais titulares na época passada - Airton e Kardec.


O jogo começou da melhor maneira para o Benfica, encostando às cordas o adversário e explorando os muitos espaços que o Guimarães concedeu. O maior leque de soluções de jogo que Kardec oferece em relação a Cardozo fizeram-se sentir, sendo redobrada a mobilidade do ataque encarnado, com Kardec muito à vontade na dupla função de servir de pivot ofensivo, e também a cair no espaço, a criar jogo, tal como Saviola preferencialmente gosta de fazer. A somar a isso um excelente Carlos Martins e um Gaitan perfeitamente adaptado ao jogo de toque curto e tabela, o resultado foi esmagador e demolidor.


Kardec assinou o 1-0, de cabeça, na sequência de um canto de Carlos Martins, e ainda nos primeiros dez minutos Saviola, a passe de Kardec, aumentou a contagem. O Benfica pelo meio ainda desperdiçou mais duas oportunidades flagrantes, o que mostra bem o que foi a avalanche ofensiva do Benfica. A tendência manteve-se durante praticamente todo o jogo, porque o Guimarães não conseguia acertar com as marcações aos nossos jogadores, ainda para mais exibindo nesta fase da época ainda alguma desorganização que é pouco habitual no Vitória. A pressão alta do Benfica resultou bastante bem durante este jogo, sendo poucas as vezes que o Benfica consentiu contra-ataques perigosos, e quase todos eles coincidiram com a presença de Javi Garcia em vez de Airton (na segunda parte), período em que o menor fulgor físico do espanhol se fez claramente sentir, uma vez mais.


Roberto, necessariamente em destaque, assinou algumas boas intervenções, uma delas fantástica a salvar um golo certo, e que parecia dar-lhe a confiança necessária para dar a volta à complicada situação em que se meteu neste início de época. Mas na sequência do canto perde de forma inacreditável um lance pelo ar na pequena área, e o Guimarães reduz para 2-1.


Na segunda parte, além da entrada de Javi Garcia, entraram também Jara para o lugar de Saviola e Felipe Menezes para o lugar de Ruben Amorim, que entretanto tinha sido puxado de lateral direito para interior direito com a lesão de Aimar e entrada de Luís Filipe. Os traços do jogo no essencial mantiveram-se, com Gaitan, Martins, Jara e Kardec a serem um quebra-cabeças para a defesa adversária. Kardec apontou o 3-1 num excelente movimento colectivo, e pouco depois Jara com um grande pontapé de fora da grande área fez o 4-1. E, de novo, Roberto em acção... livre apontado para a zona da marca de grande penalidade, o guardião salta à bola, falha... e o Guimarães faz o segundo golo no jogo. Isto já depois de uma outra bola aérea onde Roberto tinha hesitado de forma incompreensível... começa a ser complicado saber que atitude tomar para proteger o jogador e o investimento colossal que nele foi feito.


O jogo entrou depois numa fase muito mais desgarrada, com as duas equipas partidas a meio campo, sendo que no Benfica a debilidade física de Javi Garcia e a incompreensível exibição de Menezes ajudam a explicar muita coisa. Aliás, tirando duas ou três recepções de bola e passes curtos a meio campo, sempre com execução muito lenta, não me lembro de ver o brasileiro em acção em mais lances. Martins ainda teve tempo para mais um grande golo neste torneio, apontando directamente um livro lateral na esquerda que surpreendeu Serginho, o guarda-redes do Guimarães. E o Guimarães em mais uma bola parada voltou a marcar, num lance em que finalmente Roberto não pode ser culpado. Mas volta a estatística a pesar... 5 ou 6 remates na direcção da baliza, 3 golos e um punhado de intervenções a deixar à beira de um ataque de nervos os adeptos do Benfica.


No geral foi uma muito boa exibição da equipa, a mostrar processos ofensivos completamente assimilados, muito variados, criativos e a aproveitar a versatilidade que Kardec (e depois Weldon, no seu lugar) oferece. O nº 31 está numa forma fantástica, mostra uma evolução incrível desde que chegou ao Benfica. Muito forte no jogo aéreo, o que lhe permite não só marcar golos como finalmente fez, como também ganhar a esmagadora maioria dos duelos com os defesas fora da grande área, é muito rápido com e sem bola, mostra saber desmarcar-se (desmarcação a fazer lembrar Jardel, no segundo golo que marcou), tem mostrado boa visão de jogo, qualidade de passe e de remate. Está a tornar-se num ponta de lança muito completo... Cardozo que se cuide!


O grande dilema que sai de Guimarães é, novamente, a baliza. Jesus ao não ter apostado na rotatividade dos guarda-redes impediu que agora qualquer troca se faça com imenso ruído em seu redor. Depois do estágio na Suíça, e vendo o nervosismo que Roberto voltou a demonstrar com o Aris, talvez tivesse sido boa ideia rodar os guarda-redes em Guimarães, até para proteger o jogador. Assim fica mais difícil, mas é evidente que o espanhol está num momento psicológico muito delicado, o que até é difícil de compreender visto que estamos apenas a jogar amigáveis. A quantidade de falhanços é realmente abismal, e começa a ser impossível esconder o desconforto que existe na massa adepta, mas também no treinador... cujas expressões e declarações sobre o assunto deixam antever que ele próprio não sabe como descalçar esta bota.


Penso que nesta fase o mais importante é resguardar o jogador, porque caso contrário ele será definitivamente queimado (e com razão), e condenará desde logo o pesado investimento que a SAD realizou. Dar a oportunidade a outros, nos amigáveis que faltam, além de justo parece-me a única medida possível para evitar novas hecatombes, essas já com efeitos muito mais perenes. Por muito que, cá fora, se faça ruído em torno da suposta falta de confiança que Jorge Jesus tem no atleta. Mas acho preferível o ruído cá fora, do que a instabilidade lá dentro.


Boa vitória em Guimarães, continua é a faltar o acertar de agulhas no sector defensivo. A falta dos titulares explica muita coisa, não pode explicar tudo. Referência especial para Carlos Martins, considerado o melhor jogador do torneio, e que está a mostrar uma forma e uma alegria em campo que contagia. Já gostei muito da forma como se impôs na equipa no ano passado, mas quem sabe se este ano não o veremos ainda em melhor nível. Até a cadência das lesões parece ter diminuído bastante, o que só o beneficia. Parabéns, Carlos!

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