O Mundial 2010 aproxima-se a passos largos da hora das decisões finais. Hoje o Brasil foi mandado para casa pela Holanda, num jogo que é para mim um paradigma do que tem sido o futebol deste Mundial. Com efeito, a Holanda ganhou, ganhou justamente, mas ganhou sem jogar muito. Não vimos propriamente uma Holanda a jogar ao ataque, a criar lances de perigo... a superiorizar-se de facto ao adversário. Mas ganhou com justiça.
O Brasil foi uma sombra de si mesmo durante todo o Mundial, como aliás a Holanda também tem sido. Duas equipas que abandonaram a sua matriz histórica de um futebol de ataque, bonito, atraente, para abraçarem uma estratégia muito mais conservadora, procurando sobretudo não sofrer golos e correr o menos possível.
Como é possível que esta abordagem se tenha propagado tanto no Mundial, num evento em que é suposto sim jogar o melhor possível, da forma mais bonita possível, pois é de facto a grande oportunidade para mostrar ao mundo do que se é capaz?
A explicação para mim é muito simples. As selecções deixaram, e logicamente, de ser uma prioridade no futebol mundial. Só de quatro em quatro anos são realmente importantes e são colocadas no topo da hierarquia do futebol. Portanto, e cada vez mais, as selecções estão abandonadas a treinadores sem classe, sem provas dadas, ou muitas vezes a treinadores já fora de época, já sem ambição ou sem a necessária actualização. É triste ver uma equipa como o Brasil entregue a um retranqueiro como Dunga (que muito admirei como jogador), jogando com Gilberto Silva e o inexplicável Felipe Melo à frente dos centrais, estáticos e sem rasgo. É triste também ver uma Holanda que ainda em 2008 tanto espectáculo deu (apesar de não ter chegado longe no Euro), estar entregue a alguém como van Marwjik, apostando também em dois trincos bem fixos à frente da área, dispersando depois talentos como Sneijder, Robben ou Kuyt no meio da floresta defensiva dos adversários.
Vemos um Capello já muito longe daquilo que é a exigência do futebol actual. Ainda assim, consegue ser melhor que a generalidade dos ingleses que podiam ser candidatos ao lugar. Vemos a Espanha a jogar um futebol razoável, mas já sem a eficiência que teve em 2008. Até poderá chegar muito longe, tal como a Holanda pode ser campeã do Mundo. Mas já não é a mesma coisa...
Nem vale a pena falar de tragicomédias como Queiroz ou Domenech, passando por Marcello Lippi (que desilusão!). Comprova-se apenas o óbvio... grande parte das principais selecções mundiais estão entregues a treinadores que dificilmente teriam lugar num qualquer clube de grande dimensão na Europa. Ou, reformulando, dificilmente lá teriam sucesso pelo menos.
Tenho de enaltecer Joachim Low, tenho de enaltecer Maradona, tenho de enaltecer Marcelo Bielsa, Aguirre e Tabarez. Provavelmente os melhores treinadores da prova, os únicos que se preocuparam logo desde o início em fazer com que as respectivas selecções jogassem para ganhar, para dar espectáculo e marcar uma posição neste evento. Talvez se chegue ao fim, e nenhum destes venha a ter o sucesso que realmente desejaria. Talvez a vitória final caiba a um dos medíocres que têm a sorte de liderarem selecções que se apoiam na espinha dorsal de clubes vencedores do continente europeu. É muito possível. Mas o Mundo far-lhes-á justiça, e agradecerá certamente o oásis de futebol que nos proporcionaram a nós, adeptos.
1 comentários:
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