E pronto, está apresentado o Benfica 2011/12. Não consigo estar optimista para o nosso futuro desportivo, e a pálida apresentação (em todos os sentidos) da noite de hoje voltou a mostrar-me que, para já, não há grandes motivos para elevar as expectativas, por muito que algumas das contratações me agradem.
Começou com música e danças africanas, quase a imitar a cerimónia sul-africana de abertura do Mundial 2010, e continuou com tiros nos pés com o Benfica a apresentar vários jogadores que já estão mais que dispensados, como Julio Cesar, Roberto ou mesmo Daniel Wass, quase que procurando mostrar que todos estão a ter as suas oportunidades e que se não ficarem será apenas e só porque não têm valor.
Passado que está o Guadiana, e passado que está este jogo de apresentação que terminou com uma vitória de 1-0 frente ao Toulouse, já muitas coisas se podem concluir. Algumas positivas, como por exemplo o vasto leque de opções de qualidade do meio campo para a frente, outras negativas como a falta de sensibilidade de Jorge Jesus para liderar um conjunto de pessoas.
Vamos por partes, e começarei pelo positivo que de bom existe. De facto, do meio campo para a frente há muitas opções de qualidade. Não estou certo que o treinador seja capaz de aproveitar esse amplo leque de opções da melhor forma, mas que ele existe, isso existe. Desde logo para 2 lugares nas alas, temos claramente quatro jogadores de grande qualidade: Gaitan, Urreta, Enzo Perez e Nolito. Quase ponho as mãos no fogo por qualquer um deles, e podem ir rodando durante a época, podendo a equipa aproveitar as nuances que cada jogador oferece de diferente em relação aos outros, consoante as características do adversário. Pérez e Urreta claramente mais verticais, mais velocistas, mais próximos do conceito clássico de um médio ala, e Nolito e Gaitan jogadores de movimentos mais interiores e de triangulações. Até por isso é bom ter várias opções, porque de facto diferem entre si o suficiente para darem à equipa armas de diversos tipos.
No centro do terreno, há imensa qualidade, e até é onde a meu ver devia surgir pelo menos uma dispensa. Não pela falta de qualidade do atleta, mas por não haver necessidade. Aimar, Witsel, David Simão, Bruno César e Ruben Pinto (já nem contando com Carlos Martins) têm muita qualidade, e eu apostaria pelo menos na saída de Bruno César. Parece-me muito desenquadrado do futebol europeu e nem prevejo que vá conseguir recuperar o que o distancia deste futebol tão cedo, pelo que o empréstimo a um clube europeu seria ideal. Além do mais, como alternativa directa a Aimar sugeria David Simão, que me oferece desde já garantias suficientes até para ser titular do Benfica sempre que for necessário. Witsel surge como uma alternativa diferente, e por isso não o vejo como concorrente de Aimar ou David Simão, mas sim uma solução táctica distinta. Tem imensa qualidade e cobre muito bem o espaço entre as duas áreas, será a solução perfeita para um meio campo mais seguro e tranquilo… aqui penso sempre num 4-2-3-1 ou, vendo as soluções que temos no plantel, um 4-3-3. Mas o mestre da táctica é que sabe…
Mais para a frente, Cardozo, Saviola e Jara garantem qualidade, e ainda se pode contar com Gaitan ou Urreta, por exemplo. Mora parece fora de jogo, no que me parece ser mais uma contratação da prospecção do Benfica que o Jorge Jesus rejeita logo à partida por via desse facto. Ainda temos Nélson Oliveira e Rodrigo no Mundial de sub-20, e talvez um deles fique para completar o leque de avançados, saindo Mora e talvez Rodrigo. Bom, qualidade não falta, e se é verdade que não existe uma alternativa directa a Cardozo, não é menos verdade que não é preciso o Benfica jogar sempre com um avançado com aquelas características para os golos surgirem, sobretudo quando elementos como Urreta, Nolito ou Enzo Perez são jogadores com boa capacidade finalizadora, mesmo partindo das faixas laterais.
Do meio campo para trás, estão as grandes dúvidas. Entre Matic, Javi e Nuno Coelho, há qualidade. Javi não é preciso dizer nada, e Nuno Coelho (que parece contar apenas para a estatística dos portugueses, é mais um jogador que a prospecção do Benfica descobriu e que pelos vistos não conta para o treinador) no pouco que jogou mostrou qualidade e uma óptima capacidade táctica. Matic é um jogador muito diferente, e continuo a achar que no 4-1-3-2 habitual sofrerá bastante em jogos mais complicados em que tenha de alinhar, contra equipas pressionantes. Ele tem mostrado ser um jogador impecável para jogar uns passos mais à frente, sem ter nas suas costas o peso do equilíbrio defensivo da equipa dele depender. Contra equipas mais fracas, que abdiquem até de atacar (como foi o caso hoje do Toulouse), certamente funciona e talvez até ofereça melhores soluções que Javi Garcia. Já noutro tipo de jogos, pois eu tenho grandes dúvidas.
Há Ruben Amorim também, que pode ser uma boa alternativa a Witsel, ou a Javi, ou mesmo proporcionar outras variantes tácticas. A recuperação física pelo que me dizem tem corrido muito bem, e certamente que é um jogador para ir aparecendo de Setembro em diante.
Hoje estreou-se Emerson na lateral esquerda, que revelou uma presença em campo muito interessante nos primeiros 45 minutos, caindo fisicamente na segunda parte. Gostaria de ver mais enquanto não começam os jogos a sério, mas já não há tempo. E se Capdevila realmente vier, provavelmente será titular no 1º jogo oficial sem sequer ter feito um só jogo amigável com a equipa. Vale pelo menos que com a sua experiência, certamente a entrada na equipa será muito menos traumática do que em casos normais.
Ao centro da defesa além do capitão (ausente hoje…), Garay dá garantias, tal como Miguel Vitor. Por mim, três centrais de qualidade como são estes chegam perfeitamente. É escolher um quarto (eu escolheria Fábio Faria, pela óptima pré-época que tem feito, e por ser mais um português, contrariamente ao Jardel que é brasileiro), e este sector quanto a mim fica fechado. À direita haverá Maxi Pereira (haverá mesmo?) e… nada!
E neste ponto, permitam-me que perca a cabeça com o nosso treinador. Tem Daniel Wass, jogador descoberto pela nossa prospecção, com um perfil muito interessante. Um jogador certinho, já com alguma experiência de 1ª divisão, internacional dinamarquês… e calçou 3 ou 4 vezes nos últimos 15 minutos de jogos amigáveis! Para o seu lugar, inventou André Almeida, um médio de 19 anos que sempre que jogou, e apesar do seu voluntarismo, sempre mostrou não ter neste momento qualquer qualidade sequer para jogar em jogos amigáveis pelo Benfica. A cereja no topo do bolo aconteceu no jogo de hoje, com um trinco (Nuno Coelho) a entrar para o lugar de André Almeida, e Wass a ver navios, humilhado pelo fanfarrão que treina a equipa diante de todos. Como é isto possível? Como quer Jorge Jesus gerir um balneário, um grupo? Claro que assim é preciso revolucionar plantéis todas as épocas, ninguém atura uma pessoa tão mal formada e teimosa como Jorge Jesus. E da SAD, ninguém força o treinador a acertar o passo? Preciso de aludir a outros clubes para provar que noutros sítios isto nunca aconteceria?
Na baliza, o forrobodó total. Foram apresentados Artur, Julio Cesar, Roberto e Eduardo, sendo ainda certo que ainda há Mika contratado também este ano, e que fará parte do plantel. Ainda faltam sair dois, mas a uma semana dos jogos oficiais lá andam todos, contribuindo para um ambiente de balneário que já podia e devia ser melhor nesta fase, que já devia beber de uma maior estabilidade no plantel, de uma maior certeza de todos os jogadores de que ficam no plantel. Ter 4 guarda-redes a lutar por 2 lugares a uma semana do início da competição? Poupem-me a este ridículo, por favor!
Em jogo jogado, o Benfica para já está exactamente igual ao que foi na época passada. Uma transição defensiva má demais para ser verdade, e que não se explica pela ausência de A ou B, porque é sobretudo o processo colectivo que está a falhar, novamente. Não vejo de facto nenhum trabalho de fundo, e citando Jorge Jesus, no processo defensivo o seu sucesso ou insucesso depende mais do trabalho do treinador que do trabalho dos jogadores. Foi o treinador que o disse, numa entrevista à RTP N depois de conquistado o campeonato 2009/10.
No ataque, também as mesmas virtudes e os mesmos defeitos. A criatividade e qualidade técnica dos jogadores asseguram de facto uma capacidade de criação de jogadas de ataque muito acima da média (nem foi o caso hoje, contra o Toulouse). E, citando novamente Jorge Jesus, o sucesso do processo ofensivo é sobretudo obra do talento dos jogadores, em menor parte do treinador. Mas os mesmos defeitos, de certa forma relacionados com o enorme defeito que é o nosso processo defensivo. Continua a ser um ataque desenfreado, sempre em aceleração, como se o mundo fosse terminar no instante seguinte. Torna-se tudo mais cansativo para os jogadores, fica mais complicado para todos eles de tomarem as decisões correctas e, claro, minimiza a capacidade de recuperação no terreno em caso de contra-ataque. Como é possível isto ainda acontecer, quando era um defeito já detectado em 2009/10?
Acho que falta muito trabalho, e só falta uma semana. É por isso que não estou confiante. Não sei como estará a preparação do Trabzonspor, mas se os turcos estiverem bem preparados e estudarem as movimentações tácticas do ano passado (se não se quiserem fiar nos amigáveis deste ano), têm uma oportunidade de ouro para nos porem fora da Champions, o que seria mais do que ruinoso vendo o investimento que tem sido feito no plantel do Benfica. Para mais, uma equipa que a uma semana do seu primeiro jogo a doer ainda consegue apresentar 29 jogadores, dos quais nem fizeram parte nomes como Luisão, Maxi, Rodrigo, Nelson Oliveira, Mika ou Carole, está claramente a brincar ao futebol. Quando estabilizará o plantel? Quando serão feitos os cortes? Quando é que vai começar a haver um pingo de evolução?
Isto é preocupante, e não só a falta de capacidade do treinador tem ficado bem patente, como também patente tem ficado a falta de estrutura que este clube tem, e por isso é que a meu ver falar de Carraça, Rui Costa ou Manuel Sérgio só pode ser um desvario causado pela adrenalina da chuva de contratações que temos tido. Trabalho da estrutura? Zero ! O treinador manda e desmanda, pede mais jogadores, dispensa outros que vieram este ano e pede novos logo de seguida, não se apressa a definir o plantel, nada… e tudo isto parece normal aos olhos da maioria.
Oxalá eu esteja enganado, mas uma época que começa com praticamente 20 caras novas a entrarem no plantel nunca na vida pode augurar nada de bom. Tal como só por uma vez vi uma equipa ser campeã devido aos reforços de Inverno, não acredito minimamente na capacidade de uma equipa revolucionada poder atingir grandes feitos. É, no mínimo, muito improvável. As dinâmicas de grupo, até as relações extra-profissionais entre os jogadores, não se conquistam numa semana. Muito menos quando comandados por um homem tão mau na gestão de recursos humanos como é Jorge Jesus. Que tem mesmo sido uma desilusão. Gestão de expectativas, gestão táctica, gestão de talentos, pedidos de jogadores, etc… tem sido mau demais para ser verdade. Já era altura de perceber que se aos 57 anos só tem no palmarés quatro títulos não é por ser o melhor treinador do mundo. Devia reduzir-se à sua dimensão, e trabalhar com humildade. Humildade perante os jogadores que comanda e perante as outras equipas que nos enfrentam.
E, claro, a direcção continua ausente de tudo isto. Se isto correr mal, certamente se apressará a sair a terreiro para culpar o treinador, se correr bem já adivinho entrevistas eufóricas em horário nobre. Até lá, é sorrir e acenar, certo?
Termina a pré-época do Benfica, e a minha preocupação inicial não esmoreceu. Tal como no ano passado, eis uma época que se inicia e que não me cheira nada bem…