E o futebol está de volta. No primeiro jogo oficial da época, Benfica e Trabzonspor defrontam-se pela primeira vez na história das competições da Uefa, numa eliminatória que se espera bastante disputada. Na sequência de posts anteriores, apresento mais uma vez uma análise sobre o adversário dos encarnados no acesso à Champions, desta vez sem uma base tão sólida como no passado, dado o início de época e a dificuldade em obter jogos da equipa turca (a análise terá apenas um jogo como base - a partida de preparação do Trabzonspor frente aos romenos do Otelul). Não deixem ainda de ler (e reler!) a excelente e já habitual análise do Rui Malheiro aos adversários do Benfica na Europa.
Organização ofensiva
- Equipa organizada em 4x4x2 losango. Após uma temporada histórica - segundo lugar na Liga Turca com o título a ser perdido para o Fenerbahce na última jornada... por diferença de golos - a equipa de Trabzon tenta reinventar-se depois de ver partir alguns dos seus principais jogadores (Selçuk Inan e Ceyhun para o Galatasaray, Jajá Coelho para o Al Ahli, Egemen Korkmaz para o Besiktas e Umut Bulut para o Toulouse). Equipa com forte identidade turca - muita garra e muita vontade - com boa segurança defensiva (característica muito notada no ano transacto) e uma ligação entre meio-campo e ataque bastante rápida e perigosa. Em termos individuais destaque para Burak Yilmaz, autor de 19 golos no último campeonato da Turquia.
- Em 1ª fase, a construção de jogo ocorre, normalmente, com o primeiro passe a ser feito para um dos centrais, dando-se primazia a uma saída de bola paciente e em segurança com os laterais bem abertos e subidos. Giray Cakar - o patrão da defesa - é geralmente o mais solicitado para dar início às jogadas, revelando boa precisão em lançamentos longos para os atacantes, com destaque para o reforço Paulo Henrique que funciona já como a grande referência quando a equipa usa um futebol mais directo (p. ex. golo contra o Uerdingen no primeiro jogo da pré-temporada).
- Em 2ª fase o padrão existente é, por norma, o de um futebol apoiado com os dois centrais a servirem como grandes referências, ora fazendo a bola circular de um corredor para o outro, ora entregando curto a Zokora que baixa para apoiar e oferecer linhas de passe no sector mais recuado. Para além do costa-marfinense, também o argentino Colman gosta de vir buscar jogo e solicitar os laterais em largura ou, em alternativa, ser ele mesmo a progredir com bola através de iniciativas individuais. Em posse, o argentino joga quase sempre por dentro, deixando o corredor direito entregue ao aguerrido Serkan (bastante perigoso nos envolvimentos atacantes). A circulação tem, geralmente, bastante qualidade com os vários intervenientes do meio-campo a sentirem-se bastante confortáveis em posse, fazendo a bola circular de forma paciente, por vezes com algum relaxamento excessivo e alguma falta de objectividade. À excepção de Zokora - que privilegia a segurança e o critério - todos os elementos do meio-campo parecem ser bastante susceptíveis ao pressing adversário, com os centrais a acumularem, também, algumas perdas de risco.
- Em 3ª fase, as responsabilidades recaem quase todas no trio que actua à frente de Zokora. Na meia direita, o argentino Colman alterna regularmente passes com progressões rápidas no terreno em acções individuais, mostrando-se perigoso quando embalado. Boa precisão com o seu pé direito, seja a encontrar colegas desmarcados ou a finalizar ele próprio as jogadas. Actuando mais pelo centro, Alanzinho revelou ser um jogador extremamente fiável no que respeita à posse, denotando grande qualidade técnica. Não foi fácil vê-lo falhar um passe ou perder uma bola. Bastante rápido, tenta regularmente incursões individuais sem, no entanto, ser demasiado displicente (pelo menos neste jogo). Mais pela esquerda, o polaco Adrian Mierzejewski parece privilegiar um jogo sem grandes recortes, actuando simples a 1/2 toques. Bom pé esquerdo. Trocas posicionais entre os 3 elementos é um recurso possível e bastante frequente dada a sua versatilidade para actuar em várias funções. Normalmente, Adrian Mierzejewski aproveita as bolas paradas a seu favor no lado direito para trocar de lado com Colman ou Alanzinho e tentar, assim, criar alguma confusão no adversário. Transparece, no entanto, alguma falta de criatividade, sentindo-se que a equipa tem algumas dificuldades para criar situações de perigo em ataque posicional.
- Na frente, Paulo Henrique - o substituto do goleador Jajá Coelho - entrou bem na equipa, marcando por duas vezes na pré-temporada e mostrando-se perigoso em acções no último terço. Parecendo lento e algo forte fisicamente, não é o típico avançado de área, revelando boa capacidade e mobilidade para decidir em profundidade. A principal alternativa ao brasileiro será o polaco Pawel Brozek, um jogador bastante sóbrio e oportuno a aparecer em zona de finalização.
- Burak, que não tive oportunidade de ver jogar, parece ser, depois da saída de várias das figuras do ano passado, o elemento "mais" desta equipa. Mortífero com o seu pé direito em acções junto à área contrária, é também conhecido pela sua agressividade e velocidade . O seu substituto natural como segundo avançado será Halil Altintop, reforço que chegou este ano proveniente do Eintracht Frankfurt.
- Mudança de atitude média/alta. A maior ameaça está nas transições rápidas após recuperações em zonas altas do terreno, onde têm capacidade para fazer a diferença com o trio de médios que actuam "à frente" de Zokora e também com os 2 avançados. Alanzinho, Colman e Altintop são três jogadores muito úteis e agressivos no pressing e tentam constantemente potenciar estas situações. Atenção, também, às saídas rápidas do lateral Serkan pela direita. Bolas longas (de Giray) a solicitar os avançados possíveis.
Organização Defensiva
- Equipa organizada, normalmente, num bloco médio/alto. A procura da posse de bola é feita através de uma zona pressionante, geralmente com uma postura bastante activa e agressiva com especial ênfase na transição da 1ª para a 2ª fase do adversário . Destaque para Colman, Alanzinho e Altintop muito agressivos e úteis no pressing. Fundamental o desempenho táctico do médio mais recuado (Zokora), bom posicionalmente e incisivo na recuperação de bola.
- A defesa, depois da saída de Ergemen Korkmaz para o Besiktas, dá mostras de alguma inconsistência, seja devido a erros individuais (potenciais excessos na tentativa de sair a jogar) ou à falta de coordenação da linha defensiva (pouca preocupação no uso estratégico do fora de jogo e desorganização). Alguma indefinição na lateral esquerda com Brozek e Celutska (lateral direito de origem) a disputarem um lugar para o jogo de amanhã, com o checo a parecer levar vantagem. Os laterais possuem forte vocação ofensiva (Serkan principalmente, mas também Piotr Brozek), sentido algumas dificuldades em termos defensivos (Serkan no 1x1 e P. Brozek a fechar por dentro - ver relatório do Rui Malheiro). Potenciar acções de 1x1 com Gaitán na esquerda, tendo Enzo Pérez ou Witsel a acreditar sempre na finalização ao segundo poste. Giray é um central bastante forte fisicamente e dominador pelo ar. Mustafa Yumlu tem um perfil semelhante. Ambos, tal como Glowacki, com algumas dificuldades com a profundidade.
- Tolga - o capitão de equipa e habitual suplente - mostra-se seguro e sóbrio na linha de baliza e bastante consistente a sair dos postes, fazendo bom uso dos seus 192cm.
Transição Ataque/Defesa
- Boa reacção global à perda de bola, com todos os jogadores bastante disponíveis para recuperar a organização. Zokora está normalmente bem posicionado e é bastante inteligente e agressivo na procura da bola o que o torna o principal bloqueio para parar as transições do adversário.
- Os laterais podem estar posicionados muito alto no campo, pelo que existirão espaços para explorar em transição ofensiva. Potenciar estas situações encurtando tempo e espaço a Giray e Zokora, de forma a obrigar a equipa do Trabzonspor a encontrar outras opções em 1ª fase (Glowacki/Mustafa solicitados mais vezes).
Bolas paradas - favor
- Livres laterais batidos por Adrian, de pé esquerdo, ou Colman de pé direito. Excelente precisão no cruzamento. Normalmente, 5 jogadores atacam a bola: Paulo Henrique, Burak/Altintop, Giray, P. Brozek/Celutska e Glowacki/Mustafa. Alanzinho e Adrian ou Colman ficam na entrada da área para a segunda bola; Serkan e Zokora os jogadores mais recuados. Livres frontais batidos por Colman de pé direito e Adrian de pé esquerdo. Boa precisão.
- Cantos executados por Adrian ou Colman. Mais uma vez, colocam 5 jogadores na área: Paulo Henrique, Burak/Altintop, Giray, P. Brozek/Celutska e Glowacki/Mustafa; Combinações improváveis. Equipa com boa envergadura física, com capacidade para criar perigo na sequência de lances de bola parada (p. ex. golo de Giray frente ao Uerdingen)
Bolas paradas - contra
- Nos livres laterais colocam 1/2 jogadores na barreira, dependendo da distância à baliza. Adrian fica na entrada da área, Alanzinho fica mais na frente. Restantes marcam homem a homem. Nos livres frontais mais próximos da baliza colocam 4/5 jogadores na barreira (podem saltar). Apenas Alanzinho fica mais adiantado.
- Nos cantos, P. Brozek/Celutska fica no primeiro poste e Colman fecha o espaço entre a pequena área e o primeiro poste. Adrian fecha na entrada da área e Alanzinho fica mais avançado; restantes jogadores marcam homem a homem.
Outras observações
- Senol Gunes, segundo a imprensa, deverá apostar numa estrutura mais prudente para defrontar o Benfica no Estádio da Luz, recuperando a habitual formação táctica da época passada (4x5x1 com 3 médios ofensivos - ou 4x2x3x1), sendo que o uso do 4x4x2 em losango continua a ser hipótese (talvez no decorrer do jogo). O ex-seleccionador turco (3º lugar no Mundial-2002) terá, inclusive, anunciado o "onze" que entrará amanhã em campo, pelo que o Trabzon jogará em Lisboa com: Tolga; Celutska, Giray, Glowacki e Serkan; Zokora e Colman; Adrian, Alanzinho e Burak; Paulo Henrique.
- Senol Gunes, segundo a imprensa, deverá apostar numa estrutura mais prudente para defrontar o Benfica no Estádio da Luz, recuperando a habitual formação táctica da época passada (4x5x1 com 3 médios ofensivos - ou 4x2x3x1), sendo que o uso do 4x4x2 em losango continua a ser hipótese (talvez no decorrer do jogo). O ex-seleccionador turco (3º lugar no Mundial-2002) terá, inclusive, anunciado o "onze" que entrará amanhã em campo, pelo que o Trabzon jogará em Lisboa com: Tolga; Celutska, Giray, Glowacki e Serkan; Zokora e Colman; Adrian, Alanzinho e Burak; Paulo Henrique.
- A equipa fez uma pré-temporada positiva. Saldo dos jogos de preparação cifra-se em: 5 jogos, 2 vitórias e 3 empates (6/4 em golos). No banco têm alguns jogadores capazes de alterar o rumo da partida. Destaque para o rápido e agressivo número 11, Mehmet Çakir, que parece em boa forma neste início de época (muito activo, p. ex, frente ao Charleroi, sendo o autor do golo e sofrendo penalti falhado por Altintop na segunda parte). Pode actuar como segundo avançado ou como ala pelo lado direito. Engin também uma boa opção para dar mais dinâmica à ala esquerda (velocidade e 1x1). Mais atrás Ferhat é alternativa para lateral esquerdo e Baris Atas pode actuar como lateral ou interior direito. Aykut Akgun (forte fisicamente e bastante certo em posse) e Sezer Badur são outras das opções para o meio-campo (com o Otelul, Aykut actuou como trinco no lugar de Zokora e Sezer substituiu Adrian).
6 comentários:
Em todo lugar seremos Trabzon...
Bize her yer Trabzon...
Pois, eu também acho que sou Miguel em todo o lugar....
Em relação ao post, está excelente e não me surpreende!
Parabéns e muito obrigado!
Grande análise, Obrigado!
fantástico como sempre
De nada. Obrigado eu por perderem um bocadinho a ler.
Mt obrigado Phant!
5 estrelas!!!!
http://orgulhosamentelampiao.blogspot.com
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