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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Balanço da pré-época

A pré-época chegou ao fim, depois de mais uns jogos no Algarve e da Eusébio Cup. Foi o final da fase de preparação, que agora começam os jogos a doer. Dia 7 teremos o confronto com o Porto para a Supertaça, onde mais do que o troféu estará em jogo a oportunidade de iniciar a época com uma vantagem psicológica importante sobre o rival.


Não me vou alargar muito sobre os últimos jogos disputados, pois tirando o jogo da Eusébio Cup todos eles mereceriam crónicas alongadas. Como estive fora até ontem, prefiro sim passar em revista aquilo que resultou da pré-época. A nossa forma de actuar, a equipa que está construída, o que falta fazer.


Em primeiro lugar, a grande nota de destaque vai para o ensaio muito sério de um novo sistema de jogo, que logicamente Jesus e bem trabalhou para compensar a saída de Di Maria, que em grande parte torna o 4-1-3-2 do ano passado num sistema menos dinâmico do que era com o argentino. Além disso, o 4-3-3 (ou 4-3-2-1, ou 4-1-2-2-1) permite aproveitar os muitos avançados do plantel, em contraponto com a escassez de centrocampistas que temos, a meu ver.


Avançando já para o plantel, o Benfica tem algumas lacunas que podiam ter sido resolvidas com facilidade. Perante a enorme qualidade das opções válidas que o Benfica tem, não se compreende que tenha de ter um Luís Filipe ou um Menezes no plantel. Por sectores, para já acho que as soluções válidas são as seguintes:

  • Guarda-Redes: Roberto, Oblak e Júlio César, com o espanhol a ser previsivelmente o titular. Não só pelo que custou, mas porque parece ter finalmente arrebitado um pouco. Mostrou-se mais calmo no Algarve, mais confiante e até começou a mostrar algumas qualidades que realmente não são comuns em guarda-redes "banais". No entanto o jogo da Luz frente ao Tottenham voltou a revelar falhas preocupantes, como a incapacidade de decidir nas bolas cruzadas para a área.
  • Defesa Esquerdo: Só temos Coentrão, como opção credível. Sabendo que ele terá tarefas muito exigentes (pois com a falta de extremos à sua frente, ele terá de ser um verdadeiro carrilero), sabendo que a época é longa, cheia de jogos importantes e intensos, fico apreensivo em não termos um bom substituto para ele. Os que há são demasiado fracos... a diferença qualitativa faz corar de vergonha.
  • Defesas Centrais: Temos Luisão, David Luiz e Sidnei. Os três brasileiros mostram muita qualidade, e não será certamente por aqui que teremos problemas de plantel. Embora falte, a meu ver, um quarto central com qualidade suficiente para substituir sem dramas os outros três. Pode ser Roderick (não acredito muito), dificilmente será Fábio Faria... e decididamente não compreendo a dispensa de Miguel Vitor.
  • Defesa Direito: Maxi Pereira, apenas e só. Ruben Amorim não pode ser o suplente directo de dois lugares, portanto conto com ele para o meio campo, onde rende muito mais. Vai passar mais uma época sem concorrente à altura, e depois lá mais para a frente voltaremos à história da manta ser curta para tanta competição...
  • Médios defensivos: Javi Garcia e Airton. Talvez a posição melhor preenchida do Benfica, com dois jogadores de enorme qualidade para o lugar. Javi Garcia mais táctico e posicional, Airton mais rotativo e com maior capacidade para armar jogo. Os dois trincos clássicos, mas cada um com nuances próprias que podem servir para mexer com as características do jogo da equipa. Quanto a mim qualquer um dos dois é já neste momento melhor que o melhor Petit que vimos na Luz, o que diz muito.
  • Médios ofensivos: Gaitan, Aimar, Martins, Amorim e César Peixoto. Quase consumada a transferência de Ramires, é evidente a falta de soluções no meio campo. Em primeiro lugar, falta um extremo para dar a profundidade que a equipa não tem este ano, com a saída de Di Maria e o incompreensível empréstimo de Urreta. Acredito que Gaitan até pode substituir Ramires (sem ser tão completo, obviamente), e com Amorim sempre à espreita. Afinal de contas, o argentino sempre se mostrou muito à-vontade em actuar pela direita, no Boca Juniors. Para criação de jogo estamos bem servidos, embora face à especificidade da posição e dos jogadores que temos, a integração de Miguel Rosa ou David Simão podiam ser soluções de qualidade para dar mais conforto ao treinador nesta posição chave. E na esquerda, Peixoto faz bem o lugar, mas nunca poderá passar de crónico suplente... falta portanto aqui um jogador, claramente. Penso portanto que o Benfica para já tem falta de dois médios de qualidade.
  • Avançados: Jara, Saviola, Weldon, Nuno Gomes, Kardec, Cardozo e Rodrigo. A grande fartura do plantel, que continua a ser reforçada a peso de ouro. Com a chegada de Rodrigo, penso que Weldon perde de vez a carruagem, apesar dos golos decisivos que marcou no ano passado. De resto não há muito a dizer... qualidade com fartura, diferentes soluções de jogador para jogador, mas já quase todos com o seu lugar bem definido quando jogam. Que delícia tem sido ver o Jara jogar... está a corresponder totalmente ao que esperava dele.
A abordagem táctica para a nova época baseia-se muito na interiorização do nosso jogo ofensivo devido à falta de alguém que o estique para as faixas laterais, tarefa que fica guardada apenas para os laterais. Por um lado o Benfica tem ganho uma capacidade impressionante para entrar em rápidas trocas de bola que massacram totalmente as defesas contrárias que jogam mais abertas, mas por outro conduz-nos a uma previsibilidade que não é boa conselheira, sobretudo porque territorialmente fica fácil de nos anularem. Adicionalmente, e vi isto tanto no suposto 4-3-3 agora treinado, como no 4-1-3-2 da época passada, estamos a ter sérios problemas de cobertura nos flancos, onde os nossos laterais têm aparecido quase sempre sozinhos em situação defensiva. Contra equipas que explorem bem os flancos, podemos ter grandes problemas.


Ainda não consigo dizer se estamos mais ou menos fortes que na época transacta por esta altura. No ataque diria que sim, embora a tal questão do excessivo jogo interior possa ser um grande handicap em vários jogos. Mas no resto, mostrámos um entendimento fantástico entre os jogadores da frente, mesmo os novos que chegaram, o que se traduziu em muitos golos (mais que na pré-época do ano passado) e bom futebol. Mas reforço que me parece crítico enfrentar a época com apenas cinco centrocampistas ofensivos de qualidade (ou 4, se não contarmos com Peixoto), num sector que a meu ver pede numa situação ideal sete jogadores (para disputarem três posições). A mediocridade confrangedora de Menezes deve valer-lhe a dispensa, a venda de Ramires é um rombo difícil de ultrapassar, e faltam soluções... se queremos atacar realmente a Champions com seriedade e sem por em causa o campeonato, então parece-me evidente que falta fazer ainda bastante trabalho no mercado de transferências.


Chamo à atenção para a defesa, onde temos cinco opções válidas para quatro lugares. Peixoto e Amorim a contarem para as laterais, desfalcam ainda mais as opções de meio campo (não podem ser suplentes directos de dois lugares, senão fica muito curto), Faria face aquilo que conheço dele é um claro erro de casting, e não vejo no Roderick a qualidade que por exemplo permitia a Miguel Vitor chegar, ver e vencer na equipa principal do Benfica. Relembro que na época passada, onde ainda tínhamos o Miguel (por estas contas que fiz, tínhamos então 6 opções para 4 lugares), perdemos a chance de disputar a Liga Europa com o resguardo de alguns jogadores em Anfield Road. Deu no que deu. Este ano com menos opções na defesa, será que a Champions é mesmo um alvo sério? Coloco as minhas dúvidas...


Aposto que Jesus entrará para o jogo da Supertaça no 4-3-3, pois foi a táctica que melhor resultou tanto ofensiva como defensivamente. Mas penso que dificilmente terá Martins e Aimar a jogarem ao mesmo tempo, o que em condições normais abriria vaga ou a Ramires (que deve sair entretanto), ou a Amorim (forçado a jogar a lateral direito). Assim talvez haja uma aposta em Peixoto para o meio campo, para garantir mais apoio ao trinco que jogar (que a meu ver será Airton), visto que não acredito que Jesus possa jogar com Javi a trinco e Airton um pouco mais à frente. Isto como acredito que Jesus evitará mesmo jogar com Martins e Aimar em simultâneo, embora essa hipótese não seja mesmo de descartar.


Não vi ainda jogos do Porto nesta época, mas dos resumos que vi parecem-me uma equipa que também não aproveita especialmente as faixas laterais, o que é uma boa notícia para nós. Mas as surpresas podem acontecer, e teremos de estar preparadas para elas. 


Do que vi da pré-época, o nosso onze mais forte actualmente é o seguinte:
Roberto, Fábio Coentrão, David Luiz, Luisão, Ruben Amorim Airton, Aimar, Martins, Jara, Cardozo e Saviola. Penso que o Gaitan se recuperar até ao jogo da Supertaça pode ocupar por exemplo o lugar de Jara, permitindo até uma hibridação do 4-3-3 para 4-1-3-2 durante o jogo se for necessário, e no meio campo não dou como certo que joguem Martins e Aimar.

Se a qualidade de jogo é uma realidade incontornável, incontornáveis são também as dúvidas que ainda subsistem. Temos de ir ao mercado, não há volta a dar... se não quisermos continuar com uma manta demasiado curta para as competições que vamos disputar.

Foto: SL Benfica

3 comentários:

Em relação à Champions o plantel é obviamente curto e inexperiente.

Falta gente experiente e só contratámos miúdos, donde se percebe que o objectivo primordial é novamente interno.

A única questão a favor é o ciclo fds - 4ª feira, que permitirá melhor recuperação dos jogadores, mas continua a ser curto, sobretudo em ambas as faixas.

E esta questão não deixará de ser importante, pois garantirá que podemos apresentar o modelo alternativo ao apresentado nesta pré-época.

Infelizmente, estámos mais fracos! A equipa está mais entrusada, mas nao tem a mesma consistência. Ramires e Di Maria, são perdas que nos vão sair caras...embora tenham sido baratas!

*entrosada.

P.S. Concordo com a parte do Roberto e do Amorim..(em particular)

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