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sábado, 7 de agosto de 2010

Quando o optimismo é uma asneira

Primeiro jogo oficial, e o Benfica consentiu uma derrota embaraçosa a todos os níveis perante o Porto. O campeão nacional apresentou-se medroso, sem chama e totalmente desorganizado. Para quem leu o que fui escrevendo na pré-época, sabe que a encarei de forma muito menos optimista do que no passado recente. As indicações ofensivas eram óptimas, mas as hesitações na equipa deste ano foram-me deixando um sabor amargo enquanto via o festival ofensivo que fomos vendo em alguns jogos. E, infelizmente, todos os meus receios se confirmaram no primeiro jogo a doer. Num jogo que podia ter sido uma forte estocada no nosso adversário (e partíamos numa situação muito favorável para desferir tal golpe), acaba num mar de dúvidas encarnado.


Jesus começou por errar claramente no escalonamento da equipa, numa gaffe difícil de entender. Digo que é difícil de entender porque não só eu como a generalidade da crítica (Benfiquista ou exterior) estava a ser unânime em considerar que o Benfica estava a ser muito mais consistente naquela espécie de 4-3-3 que foi exibindo. Não só ofensivamente, como também defensivamente conseguiu ser mais consistente nesta táctica. E que fez Jesus no primeiro jogo a sério? Talvez temendo a batalha do meio campo, apostou no 4-1-3-2 da época passada, táctica com aparições muito sombrias na pré-época. Mas houve mais um equívoco, também difícil de perceber porque a generalidade da crítica também foi unânime em reconhecer: da mesma forma que Airton estava a ser inquestionável no 4-3-3, Javi Garcia apesar do menor fulgor físico marcou sempre uma diferença qualitativa positiva no 4-1-3-2. E que fez Jesus? Lançou o brasileiro.

 Jesus escalou então o seguinte onze: Roberto, Peixoto, David Luiz, Luisão, Ruben, Airton, Martins, Aimar, Coentrão, Saviola e Cardozo. Frouxa atitude, com o Benfica a ser surpreendido e a consentir a pressão alta do Porto. Aimar e Martins, sempre a passo, viam os médios do Porto encostar nos centrais encarnados sem se preocuparem minimamente. No caso do português o caso assumiu contornos muito mais graves, porque teve consequências bem visíveis a grande desorganização da transição defensiva que eu já havia denunciado nas partidas da pré-época. Sem fechar o flanco, Amorim esteve quase sempre só perante dois e mesmo três adversários. Luisão foi ajudando, mas depois a manta destapava ao meio, e o Porto desestabilizou como quis a nossa equipa. Isto aliás não surpreende, porque se a ideia de Jesus é continuar a ter uma transição defensiva apoiada nos flancos, não pode apostar em Martins. No ano passado tivemos Ramires e Amorim, os dois perfeitamente talhados para a posição de interior (quer em 4-1-3-2 quer em 4-3-3), este ano Amorim parece ser a alternativa a Maxi, e Ramires foi embora. Faltam dois jogadores... um para libertar Amorim para o meio campo, outro para substituir Ramires. Não perceber isto, é hipotecar boa parte das nossas hipóteses na época.


Já tinha dito que este Benfica iria sentir grandes dificuldades contra equipas com profundidade ofensiva a jogar a toda a largura do campo. O Porto jogou com 2 extremos bem abertos nas linhas, e com isso matou completamente o Benfica. Fico muito apreensivo quando, um mês depois de se iniciarem os trabalhos, continuamos tão expostos a este jogo lateralizado do adversário.


Airton em noite perfeitamente anedótica garantiu que o Porto invadia como queria o meio campo defensivo encarnado, e no sector defensivo apenas Peixoto (o MVP do Benfica, na minha opinião) foi mostrando algum acerto. Os dois centrais andaram totalmente perdidos, a acudirem aos inúmeros fogos que o resto da equipa ia ateando, o mesmo acontecendo com Ruben Amorim, sempre sozinho no flanco direito. Martins e Aimar não entraram em campo, Coentrão fez uma boa primeira parte mas eclipsou-se na segunda, e o Cardozo esteve ao mesmo nível risível do Airton. Saviola foi tentando, mas pouco conseguiu fazer sozinho.


A atitude displicente, arrogante, sobranceira e violenta da equipa fez-me lembrar a postura do Porto na final da Taça da Liga do ano passado, e não augura nada de bom. A apatia de Jesus no banco fez lembrar Alvalade no campeonato passado, e isso também me incomodou, confesso.

A mensagem para a direcção também é forte. Montaram uma equipa demolidora no ano passado, mas este ano incorreram em erros que já tinham cometido no mercado de Inverno. Com a venda de dois titulares, e sem terem ninguém no plantel que assumisse logo a herança, apostaram em jogadores de futuro e não de presente. O mercado de Inverno de 2010, como escrevi na altura, custou-nos a Europa, porque em vez de nos providenciar armas válidas para aumentar as opções do Benfica na fase crítica da época onde fomos eliminados pelo Liverpool, deu-nos quando muito armas para esta época. E esta época, em vez de termos ido buscar armas para fazerem já a diferença, fomos buscar jogadores sem entrada imediata. Jara pode entrar imediatamente, mas Gaitan nem sequer é um jogador para fazer o lado esquerdo. Passou os últimos dois anos da sua carreira a jogar entre a direita e a posição de segundo avançado, pressupondo uma necessária e complexa adaptação para ser aquilo que o Benfica pelos vistos espera dele. Fábio Faria foi totalmente inútil, Roberto esse sim obviamente entra de caras e sem necessidade de adaptações.



Emprestámos Urreta antes de garantir uma alternativa mais a Di Maria, e vendemos Ramires sem termos um plantel que permita a Amorim render Ramires, e sem ter mais nenhum jogador que renda o brasileiro. Martins na direita não cobre o flanco da mesma forma, e isso mesmo nas suas boas exibições da pré-época foi visível.


Entretanto, o Benfica parece ter gasto mais 6M€ naquele que é, até ver, o oitavo avançado do plantel. Palavras para quê? 32M€ depois neste mercado de transferências, falta ao Benfica alguém para a esquerda do meio campo, falta alguém para o lugar de Ramires, e um suplente para Maxi Pereira que liberte definitivamente Amorim para o meio campo, onde mais do que um jogador útil consegue ser um jogador de top.


Nada de positivo há para falar hoje. Táctica, técnica e emocionalmente foi um falhanço total do Benfica, com todas as hesitações da pré-época a virem ao de cima. A máscara da grande produção ofensiva da pré-época caiu hoje dolorosamente, e mostra-nos que a equipa campeã do ano passado era, de facto, bastante mais forte do que a deste ano. Mais completa, sobretudo. O optimismo da pré-época que muitos vendiam de forma desproporcionada não tinha assim tanta razão de ser, e infelizmente vi hoje que tinha razão em nunca me entusiasmar demasiado e em dar grande importância às falhas que ia vendo.

Falta muito trabalho táctico a esta equipa, e faltam jogadores. Temos uma semana para limparmos a face e entrarmos a ganhar no campeonato, mas urge também dar um jeito neste plantel. Muitas soluções na linha avançada, muito poucas no meio campo. Isto é indisfarçável e só um optimismo desesperado pode negar.

Fotos: MaisFutebol

10 comentários:

Esta é a primeira análise inteligente e incisiva que leio ao que se passou hoje. De facto há ali bastantes equívovos e o Airton no 4-1-3-2 é talvez o maior. Com o Javi as coisas poderiam ter sido diferentes e isso percebeu-se logo nos primeiros minutos. Vi o jogo em "streaming" por isso escaparam-me muitas coisas, mas uma das que me fez confusão foi o facto de não apenas não termos profundidade ofensiva (raramente fizemos incursões pela direita com cruzamentos perigosos) como também perdermos constantemente a bola no meio do campo. Ou seja quer nas laterais quer no "miolo" parecíamos sempre em inferioridade numérica. Isso é mérito do treinador do Porto e demérito do Jesus. Ao contrário do que li noutros blogs, se calhar a olharem mais para os nomes e menos para a real produção dos jogadores, também considerei o Peixoto dos melhores do Benfica.
Fiquei preocupado pela forma como jogámos e pela aparente ausência de um modelo de jogo. O ano passado a construção de jogo começava cá atrás, com segurança da defesa e o fechar de espaços que o Javi Garcia tão bem fazia, tirando rapidamente a bola ao adversário e não o deixando pensar. Neste jogo foi o Porto quem nos pressionou logo à saída da grande área. Em situações de jogo deste tipo, sem Di Maria a equipa fica sem soluções.
Também não compreendo a política de contratações e o número - absurdo - de avançados.
Temos que melhorar mesmo muito.
Francisco

Podes só explicar-me porque a nossa equipa sem duvida muito boa do ano passado perde no dragão com um jogador a mais???

É verdade que hoje não correu bem.
Mas dai a dizer que ja se sabia, ja era previsivel, etc... é treta. Até parece quase um desejo, mas bom.

Até porque quem viu os jogos da pré-epoca viu que o Porto nao jogou nada, de repente nos ja nao temos equipa nenhuma, e os outros é que são bons.

Raio de memoria fraca que os tugas têm. Dasss.

boa analise, mas teoria da catastrofe, tb nao vamos tao longe.

houve erros tacticos, houve, houve fragilidade emocional, muitissima, houve roberto na baliza, houve, e isso tb ajudou ao lado emocional fraco...

com os tokes certos podemos voltar ao nivel da epoca passada, agr é pedido aos dirigentes e tecnicos k façam as alteraçoes certas, pk a 1 semana de começar o campeonato e com champions no horizonrte, o tempo é coisa escassa...

nao confundir optimismo com subranceria, hoje mts benfiquistas desceram a terra. sempre disse, ninguem espere um porto fraco, pk isso ja nao ha ha decadas...nao havera um campeonato facil, sempre o achei, mas se soubermos fazer as coisas, acredito k podemos chegar ao bi

cumps

Não esperava um Porto tão forte nem um Benfica tão...banal.
Sinceramente, nem nos nossos piores jogos da época passada se viu algo como ontem.
Há muito para reflectir.

nao te enganes a ti proprio, nao foi o porto k foi mt forte...o benfica é k esteve mt mal

Eu esperava que o Porto não jogasse metade daquilo que jogou.
Dai dizer que foi mais forte que o esperado.
E do Benfica esperava muito, mas mesmo muito mais.

Só quero dizer que nas minhas crónicas desta pré-época, além do destaque à produção ofensiva que chegou a ser de facto exuberante, sempre pus grandes reticências em várias das hesitações que ontem nos derrotaram em toda a linha.
O futebol não é uma ciência, mas há muitos sinais para interpretar.

Confesso que não esperava ver o Jesus levar tamanha lição do VB :S

E infelizmente, vários meses depois (estou a escrever após a sofrida vitória europeia sobre o Braga) confirma-se tudo!
Não sei o que se passou antes do particular com o Tottenham, nem antes dos tais 18 ou mais jogos seguidos a ganhar mas de facto esta época é para esquecer e com as supremas humilhações (temo que ainda faltem algumnas) que temos sofrido!
Marcar um jogo contra o Tottenham, por exemplo, antes do jogo da Supertaça foi um desclabro!
Pensaram que ia ser igual? Sedm Ramirez, sem Di Maria e com o FRoberto?
Pois sim!

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