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terça-feira, 19 de abril de 2011

Avançados... o futuro

Ando com este post na minha cabeça há alguns meses, mas por uma razão ou por outra (normalmente, preguiça) nunca o escrevi. Escrevo-o agora e não é por razão nenhuma em particular, simplesmente apetece-me finalmente falar do que acho sobre este assunto.

Quando falo de avançados, falo em particular dos pontas de lança, é nisso que me vou centrar. O Benfica tem no seu plantel Cardozo e Kardec, e por razões diferentes acho que o papel de qualquer um dos dois vai ter de ser reequacionado no próximo Verão. Indo ao caso mais simples: Kardec. Não o conhecia antes de vir para cá, e apesar de o considerar excedentário na altura em que foi contratado (e mantenho essa opinião), cativou-me logo nos primeiros jogos que fez, pelas pequenas acções que fazia no pouco tempo que tinha disponível. Alto e muito móvel, com um ataque à bola bastante interessante, logo três características que aprecio num bom avançado. Mas pouco a pouco, esse "balão" de esperança foi-se esvaziando.

Custa-me imenso ver Kardec em campo, porque o rapaz dá sempre a sensação que não percebe o que se está a passar à sua volta. Não acredito que algum dia venha a ser o avançado que o Benfica precisa, mas para o ano ainda seria de tentar emprestá-lo para ver no que dá. Creio que na liga Sagres teria lugar em algumas equipas interessantes... e depois ou se vendia, ou se reaproveitava.

Mas é Cardozo o verdadeiro caso bicudo, e a grande motivação para escrever este post. É o melhor avançado que me lembro de ver jogar no Benfica, embora não me esqueça de Yuran, Nuno Gomes ou Van Hooijdonk. Posicionalmente é normalmente impecável, tem uma leitura de jogo brutal, grande capacidade de passe, de remate e segura bem a bola de costas para a baliza. E tudo junto faz dele um grande goleador, como os seus impressionantes números o provam.

Mas... há sempre um "mas"...

Do que soube na pré-época, e escrevi na altura, tornou-se logo claro que o risco do ciclo do Cardozo no Benfica ter terminado era grande. Devo recordar que o que escrevi bateu praticamente tudo certo nos meses que se seguiram, e também no Cardozo acabei por não me enganar, infelizmente. Essa primeira sensação que tive foi por questões extra-futebol, uma vez que a transferência do paraguaio esteve quase consumada, e foi depois abortada pelo próprio e pelo clube, mas com a promessa de seguir para outros vôos. O Benfica vedou-lhe esse caminho aludindo com a questão da cláusula, mas quando depois Ramires saiu abaixo do valor da cláusula, estalou o verniz em alguns jogadores, como escrevi na altura. Cardozo foi um deles.

Não consigo deixar de admitir, com mágoa, que este Cardozo nem sempre teve a melhor atitude em campo. Sim, eu sei, ele normalmente é mais passivo em campo, mais molengão, mais deixa-andar, e depois lá aparece no sítio certo. Mas o que ele faz em muitos jogos deste ano é diferente, não é apenas a normal molenguice dele e que nunca me impediu de gostar dele. É um jogador que já por natureza precisa de ser espicaçado, como provam as suas exibições pré e pós assobiadela que levou na recepção ao Hapoel, para a Liga dos Campeões. Ou ainda a forma passiva como entrou em jogo com o Sporting, e logo depois de ter falhado o penalty se atirou com tudo para a bola para marcar o golo do empate.

Mas para lá da atitude dele, muitas vezes de autêntico amuado, há uma questão futebolística fundamental, e essa é a mais relevante para a minha reflexão. Porque a atitude poderá mudar, e com o que ele já fez no Benfica se mudar está perdoado e pronto! E com eventuais conquistas grandiosas este ano, talvez o rapaz acabe por cá ficar de corpo e alma. Mas o problema futebolístico subsiste.

O Benfica deste ano joga na mesma em 4-1-3-2, mas joga de forma diferente do ano passado. Os seus alas são jogadores mais vocacionados para finalizarem jogadas, para contactarem mais com colegas em zonas interiores do terreno, para promoverem triangulações, diagonais, algo que os ponha na cara do golo. Di Maria e Ramires não eram assim... Di Maria então é o extremo mais clássico que se pode imaginar. E com esta forma de jogar dos outros argentinos, o Cardozo tornou-se numa espécie de corpo estranho ao jogo. Tudo bem, em parte é pelo tal alheamento dele do jogo, que tem acontecido vezes demais, mas não é só. Já não é tão solicitado por exemplo para fazer os apoios frontais em que é especialista. E ele próprio parece não entender muito bem a forma de jogar dos seus colegas, uma vez que apesar de tudo bolas na área para concretizar não têm faltado, ele é que tem andado pouco na zona... um pouco como Kardec.

Vendo a lista das previsíveis contratações do próximo ano, sobretudo para as alas, salta logo à vista que voltarão a ser jogadores muito talhados para finalização, construção e conclusão das jogadas. O caso paradigmático é o de Nolito. Penso mesmo que Jesus vai finalmente apostar num 4-3-3 ou numa variação qualquer desse sistema. Ao fim e ao cabo seria a natural evolução da forma de jogar este ano, que já tem muitas movimentações ofensivas típicas de um 4-3-3, mas lamentavelmente não está estruturada de forma a ter as movimentações defensivas compatíveis com isso mesmo.

Por tudo isto, a difícil conclusão que tiro é que o Benfica ganhará mais em tentar fazer um bom negócio com Cardozo (20M€ por exemplo acho que seria um valor decente), e partir à procura de um avançado diferente. Existe ou parece existir uma saturação na relação Benfica-Cardozo, tanto pela forma de jogar do Benfica actualmente, como também por uma vontade latente do jogador de encarar uma nova aventura na sua carreira. Não se trata de não gostar de estar cá, mas parece-me óbvio que o jogador tinha determinadas expectativas no Verão passado e elas foram por água abaixo... provavelmente quererá retomar esses trilhos em Junho.

Não há nem podem haver vacas sagradas em plantel nenhum, e não caio na histeria muitas vezes generalizada de achar que substituir Cardozo é impossível. Não é fácil encontrar grandes avançados, mas o Benfica nos últimos anos encontrou Lisandro, Cardozo e Falcao, portanto confio na nossa capacidade para encontrar mais alguém de valor semelhante, e de preferência que não caia nas mãos erradas após o início das negociações.

Do Cardozo até ao fim do ano espero mais golos importantes e maior motivação, até porque este final de época pode ser propício a uma grande exposição mediática à escala global. Que nos ajude nas conquistas que temos pela frente, e que no final saia reconhecido por todos pelo excelente desempenho no nosso clube. Do Kardec nada espero. E do futuro, espero dois pontas de lança "novos". Um por mim seria Nelson Oliveira, e faltaria o titular... de preferência com as características ideais para o que será o esquema de jogo do próximo ano. Seja um 4-3-3, um 4-2-3-1 ou a simples continuação deste 4-1-3-2 e das nuances que apresentámos este ano.

Vai ser certamente uma questão para seguir com interesse este Verão. Mudanças de paradigma, de nomes, de movimentação, de intervenção no jogo colectivo, de crença e atitude... tudo isto se mistura e tudo isto se equaciona. A ver vamos!

2 comentários:

Até no ano do Quique o Cardozo tinha melhores números.
Ou começa a mostrar mais vontade de cá estar, ou rua com ele.

O Nuno Gomes foi um avançado excelente, um pouco à imagem do que é actualmente o Falcao, o Pierre também era um jogador com imensa classe, mas acho que nenhum consegue chegar perto do que foi no ano passado o Cardozo.
Alguém que marca 38 golos numa só temporada, merece crédito por muito tempo.
O Benfica que lhe dê o que ele quer, senão lá vamos rebentar muito dinheiro em jogadores às cegas.
Como diz o texto, encontramos Falcao, Lisandro e Cardozo.
Mas nem sempre correm bem estas descobertas...

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