Os pilares do Benfica campeão

Em conversa com o meu amigo do blog "Benfiquistas? Dez ou Vinte!" ao longo da época, fomos discutindo muitas vezes as fundações do plantel, aquele grupo de jogadores que, mais do que os outros todos, ajudavam a criar o espírito vencedor, o espírito de entre-ajuda, até a disciplina. Aqueles jogadores que traziam de forma mais persistente a noção das responsabilidades para o balneário. Aqueles sem os quais teria sido, sem dúvida, mais complicado criar um grupo ambicioso, unido e disciplinado.

Inevitavelmente, chegámos sempre a quatro jogadores... possivelmente a um quinto, mas menos vezes. E, agora pode ser fácil falar, mas de facto coincidiu essa análise com o que Jorge Jesus ontem revelou na SIC Notícias, na excelente entrevista que deu a Rui Santos no Tempo Extra. Os capitães, Nuno Gomes e Luisão, juntamente com David Luiz e Ruben Amorim foram os jogadores mais importantes para transmitir a todos a responsabilidade e as ideias da equipa. Foram o núcleo duro que mereceu a maior confiança do técnico.

Os capitães são uma escolha óbvia, por inerência da responsabilidade que lhes foi incumbida no plantel, e que não é um acaso. Nuno Gomes tem uma história no clube que o coloca num patamar de respeitabilidade tremendo, como aliás se vislumbra facilmente na relação dos colegas com ele. Apesar da sua reduzida importância desportiva nos dias de hoje, mantém uma importância grande em defesa dos seus colegas. Quem com ele lida diariamente tece-lhe os maiores elogios em matéria de benfiquismo, valores e atitudes. Sendo alguém tão experiente no futebol ainda para mais, é natural que Jesus veja nele uma muleta para por vezes fazer passar mais rapidamente as suas ideias para o grupo.

Luisão é também ele um líder nato, e sendo habitual titular e habitual capitão, fá-lo notar muitíssimo em campo. É um jogador com grande rodagem internacional, que já viveu muitos momentos capitais no futebol, e portanto é uma autêntica reserva emocional da equipa, em momentos em que a equipa se intranquiliza. É o patrão que mais se aproxima de ser uma espécie de treinador em campo, em particular nos momentos defensivos. Momentos defensivos que, como Jorge Jesus disse ontem na SIC Notícias, são responsabilidade essencialmente do treinador. Ora, Luisão como líder e personificando uma espécie de treinador em campo para o sector recuado, está naturalmente muito próximo do seu treinador em todas as concepções de jogo que são treinadas no Benfica.

Finalmente, dois jogadores que não sendo capitães, já o foram também no Benfica, fosse em amigáveis de fim de época (Ruben Amorim), ou mesmo em jogos a doer, como foi o caso de David Luiz em Coimbra. São dois jogadores bem mais jovens que Nuno Gomes e Luisão, com menos anos de casa como jogadores do plantel profissional. Foram durante a época o expoente máximo do Benfiquismo fervoroso, da representação em campo dos milhões de adeptos que sofriam por fora.

David Luiz desempenhou o papel fundamental de substituir Javi Garcia como protagonista da primeira fase de construção sempre que o espanhol se encontrava marcado por adversários. Foi muitas vezes a injecção de adrenalina e de crer que a equipa precisou em momentos de maior descrença ou de maior cansaço. Foi sem dúvida um jogador que ao longo do ano soube ouvir muito o seu treinador, como o comprova a sua meteórica evolução entre as duas metades do ano, que fizeram dele um jogador de top mundial. Responsável, disciplinado, bem disposto e com grande paixão ao clube, percebe-se desde há muito que David Luiz tem todo o perfil para ser um daqueles jogadores no qual o treinador confia para por um colega na ordem, para inventar soluções em campo para um jogo mais atado.

Finalmente, Ruben Amorim. Incrível como, apesar de não se afirmar como indiscutível titular, é dos jogadores mais queridos da massa adepta. Benfiquista dos sete costados, a sua classe em campo e fora dele mostram um jogador muito inteligente e bem formado, uma personificação perfeita do modelo de jogador à Benfica que todos nós um dia desejámos ser. Ter sucesso no relvado, com o manto sagrado vestido, servindo o clube até para lá das nossas forças, acreditando sempre que é possível fazer mais e melhor. Com uma excelente relação com todos os colegas, um velho conhecido também do treinador, e sendo não só dos jogadores com maior noção do que é jogar pelo Benfica, como também dos mais perfeitos tacticamente na equipa, também era fácil de adivinhar que é um daqueles jogadores que qualquer treinador, num clube desta dimensão, gosta de ter à disposição para ajudar a liderar um projecto tão complexo e ambicioso.

A estes quatro grandes senhores do balneário benfiquista, a minha vénia. Têm a minha maior admiração, e a eles dirijo um enorme elogio pelo exemplo que são dentro e fora de campo. Somos campeões muito por causa deles, sem com isto menosprezar ninguém.

Fotos: Isabel Cutileiro

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