Depois do golpe que lhe permitiu encarar com tranquilidade acrescida o conturbado período eleitoral de 2009, Luís Filipe Vieira parece ter percebido finalmente qual a forma de acordar o monstro que estava adormecido há demasiado tempo. Diria que toda a contestação de que foi alvo, uma prova inequívoca que apesar dos fracassos recentes a massa adepta não deixou de ser exigente, levou-o a subir talvez o maior de todos os degraus da gestão de um clube desportivo - alcançar a fórmula desportiva ideal.
Depois de anos a alimentar uma gestão desportiva incompetente, da qual a época 2007/08 será o maior exemplo, escudou-se em Rui Costa para resistir ao descontentamento, atirando-o às feras logo no seu primeiro ano de direcção desportiva. Mas depois de tanta tormenta, depois da contestação e das eleições, Vieira acreditou nos seus instintos empresariais e emocionais (um ponto forte que lhe atribui quem com ele lida todos os dias), e garantiu o homem que foi o grande responsável pela mudança radical do Benfica: Jorge Jesus.
A convicção de que Jesus era o homem que faltava para que a estrutura do Benfica evoluísse decisivamente para o sucesso, a convicção de que a aposta em Quique Flores não podia mais continuar, valeram ao Benfica o regresso aos tempos de glória. Com Jesus, veio para o Benfica muito mais que um treinador. Veio uma cultura de exigência e de vitória. Veio uma cultura de focar atenção apenas e só na própria equipa, tentando sempre enaltecer e engrandecer os méritos próprios, muito mais do que procurar as fraquezas dos outros. Veio o profissionalismo na gestão da disciplina de grupo, dos horários de trabalho e nos ritmos de treino.
Vieira soube beber da enorme sapiência de Jesus, e montou à sua volta a estrutura ideal para promover o trabalho que estava a ser feito. Cortou nas suas aparições públicas, que eram mais para suprir o trabalho que na realidade no dia-a-dia não era feito no clube, focou o discurso institucional do clube apenas e só no clube, mensagem que rapidamente passou para os adeptos também. Deu as armas para que o plantel pudesse ser reforçado com a qualidade que se viu, embora muitos dos instrumentos financeiros me causem alguma dúvida e apreensão, tema que certamente abordarei no futuro.
Acima de tudo, Vieira soube ver que com Jesus, se tinha aberto uma porta dourada para o tão ansiado êxito que buscava para o clube. E agarrou-se a essa oportunidade com unhas e dentes, transfigurando-se a si próprio, pedindo transformação aos seus colaboradores, tudo para que esta nova era pudesse ter sucesso.
Agora chegará provavelmente o trabalho mais difícil, a tarefa de gerir um grupo campeão. 2006 está bem presente na memória de todos, e os anos que lhe seguiram também. Quem se vai vender, quem se vai comprar, a gestão dos activos, dos investimentos e dos financiamentos, serão decisivos para capacitar o Benfica de margem para atacar a hegemonia ou, pelo contrário, de voltar a decair após um triunfo brilhante.
Veremos agora o que o futuro nos reserva. Para já, foi um ano brilhante de Luís Filipe Vieira. Nas acções, nas atitudes, no discurso. Que seja para continuar.
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