A Colónia de Férias da Covilhã

Com certeza já todos repararam que a equipa da Federação Portuguesa de Futebol, o chamado Clube Portugal (ou de forma inacreditavelmente presunçosa - a equipa de todos nós), está em estágio na cova da Beira, mais propriamente na cidade da Covilhã. Não vou entrar minimamente na discussão sobre o local, embora tenha as minhas maiores dúvidas sobre o êxito que se propõem atingir com o local: adaptação à competição em altura.

Quando Scolari ingressou na FPF, o seu currículo era bastante modesto: campeão brasileiro com o Grémio, vencedor de várias taças e outros campeonatos no Brasil, bi-campeão sul americano, campeão asiático e campeão Mundial com o Brasil em 2002. Um currículo obviamente modesto que fez desconfiar 2/3 da comunicação social da valia do brasileiro. Durante a sua longa permanência na FPF, puseram em causa desde a escolha do hotel para se instalarem num qualquer estágio, até à falta de cabelos no topo da cabeça do brasileiro. Afinal de contas, o homem claramente não dava indicações de ter competência para tão grande desafio.

Eis então que entra na equação Carlos Queiroz. No currículo, títulos vários nos escalões de formação. Como treinador de equipas a sério, uma supertaça e uma Taça de Portugal. E muitos anos como colocador de pinos nos treinos ministrados por Alex Ferguson no Manchester United. A comunicação social babou-se com tamanho currículo, e fez uma chinfrineira tremenda até que Madaíl lhes fez a vontade, e foi buscar o homem para a FPF. É um seleccionador que dá jeito à FPF, pois assim tranquiliza gente que andava descontente com a independência de Scolari, e dá jeito à comunicação social, que andava descontente com o discurso frontal e por vezes rude de Scolari. Passava a ter na FPF antes uma pessoa afável, que fala com uma voz doce e meiga, e licenciado. Ah... este sim, o seleccionador claramente vocacionado para levar a equipa a grandes feitos.

Nem depois de uma qualificação inenarrável, com Portugal a levar com 3 ou 4 bolas nos ferros no play-off de acesso ao Mundial, depois de não ter conseguido a qualificação directa num grupo bastante acessível, elevaram a exigência para com o homem. Pelo contrário, continuou a ser a melhor invenção depois da roda, e só não faz mais porque Scolari pode ter tido resultados, mas destruiu as bases para um futuro risonho. Nem sequer ligaram ao facto de todos os grandes chavões que Queiroz trouxe para a FPF, e que se destinavam a romper com Scolari (o que lhe granjeou ainda mais simpatia), estão a ser cumpridos. A meritocracia afinal de contas é uma treta, pois está longe de convocar os jogadores que a cada momento estão em melhor forma. E, pior, não se destina a formar um núcleo duro como fez Scolari, pois as escolhas mudaram sempre imenso.

Chega a preparação para o Mundial, e um sem número de coisas ridículas acontecem. Em vez de alguém dar um murro na mesa e exigir trabalho sério, o que se vê? Uma contemplação parola a tudo o que está a ser feito, esquecendo a razão e abarcando numa onda de ridículo que envergonha todos os que nela participam. Fez-se uma festa de apresentação dos convocados e marcou-se uma festa grandiosa no Estádio Nacional para preparar a despedida da selecção para a África do Sul. Na Covilhã, marcou-se um hotel no topo da serra, e outro ao pé do Estádio. Os jogadores descem a serra para se concentrarem no 2º hotel, para depois percorrerem de autocarro os 200 metros que os separam do estádio. Tudo normal.

Interrompem-se treinos para se oferecerem máquinas de café, ficando uma por quarto. Assim todos podem tomar café no seu quarto sem terem de ter o desprazer de encontrarem colegas de selecção enquanto tomam cafeína. Passa-se 80% do tempo a jogar futvolley, esquecendo que a modalidade a praticar na África do Sul é um pouco diferente. Os poucos treinos tácticos que são vislumbrados, mostram os avançados a defender e os defesas a atacar. O jogo de preparação contra Cabo Verde acaba sem golos e sem futebol. Há treinos na véspera de um jogo com os Camarões que mais parece uma sessão de babysitting com crianças de escolas da zona, abrilhantado ainda pela presença do grupo musical Taxi, que promove também os dotes musicais de alguns elementos, entre os quais o palhaço-mor que é o seleccionador.

No meio disto tudo, os Nunos Luzes da nossa praça vão-se derretendo para as câmaras de televisão com a saudável balda que deve estar a deixar Fábio Coentrão, ainda em modo Jorge Jesus, espantado com a falta de seriedade de tudo o que se passa à sua volta. O povo protestou uma vez contra a pequena duração e seriedade de um dos treinos, e a FPF lançou um comunicado oficial no seu site para dizer que não tinha havido protesto nenhum. Os jogadores e o seleccionador aparecem em todas as campanhas publicitárias e programas de televisão, aparecem as notícias dos prémios de jogo e do salário diário de todos eles, há reuniões médicas mais publicitadas do que intervenções do Presidente da República e, espantem-se, parece que até já houve um treino de futebol na Covilhã.

Sou só eu a achar que está montado um circo tremendo, sem precendentes, à volta da FPF? E que só está a agradar aos prostitutos intelectuais que promoveram Queiroz a salvador da pátria em nome do seu ódio a Scolari? E que há muita gente a fazer uma ridícula figura a defender de forma cega esta balda total que vai envergonhar Portugal daqui a menos de três semanas?

Eu há vários anos que não vejo um jogo da FPF, mas tenho-me entretido imenso a ver notícias de factos relacionados com a equipa, e muito me tenho rido. Nunca vi algo tão amador e festivamente parolo como esta preparação para o Mundial. Enquanto uns que também andaram em depressão (caso da Argentina) estão a aproveitar esta espécie de pré-época para aquecer os motores e mostrarem realmente o que querem fazer na competição, o Clube Portugal parece ter-se transformado numa Colónia de Férias com um programa de discutível interesse, proveniente da genial mente desse mago chamado Carlos Queiroz. Vão ter o que merecem, parece-me a mim.

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