A homilia de Jesus

Jorge Jesus deu ontem à noite na RTP N a sua primeira entrevista em directo depois da conquista do título nacional. No programa Trio de Ataque, terreno habitualmente adverso às nossas cores pelas manifestas alianças dos nossos adversários, o nosso treinador pautou-se pela transparência, por aquela sua forma cristalina de estar no mundo do futebol.


Hugo Gilberto esteve numa noite inspirada, acutilante, bem preparado, adjectivos que raramente acharia possível associar à personagem. E encontrou em Jorge Jesus um excelente comunicador, naquele seu estilo muito particular. Foi sempre frontal, directo, não se esquivou, e... por vezes ficou a sensação que até falou demais.
Numa entrevista tão sumarenta, muitos foram os tópicos de particular relevância. Destaco apenas aqueles que me pareceram mais importantes:

• Di Maria está praticamente vendido, com pé e meio fora do Benfica, como assumiu Jorge Jesus. Nesse sentido, Gaitan é claramente o seu substituto, aludindo Jesus às várias posições que faz no meio campo ofensivo.
• Ficou a sensação de que Cardozo também está com um pé fora do Benfica.
• Impossível ignorar a forma como Jorge Jesus foi apanhado desprevenido quando o jornalista falou de Huntelaar como possível reforço. Jesus sorriu, meio encavacado lá disse que o jornalista estava bem informado, e confirmou o interesse. Tendência para a política de reforços deste Verão?
• Na questão dos guarda-redes, Jesus foi cristalino, uma vez mais. Definiu o que é um guarda-redes de topo, qual a diferença entre um bom e um muito bom. Disse com todas as letras que o Benfica está atrás de um guarda-redes de topo, e que Quim em princípio não fica no Benfica. Pelo menos, ficou essa ideia no ar... e de que maneira!
• A crença de Jesus no seu trabalho esteve novamente em destaque. A forma como declarou que uma substancial parte do poderio de algumas equipas europeias é construída ficticiamente pela comunicação social, prova que Jesus não se atemoriza com nomes, com clubes, e que encontra no trabalho a chave para o sucesso.
• Revelador também o silêncio e a negação de um esclarecimento sobre a questão de eventualmente ter sido contactado novamente este ano pelo Porto para se transferir para aquela agremiação criminosa. Disse tudo, sem dizer...
• Particularmente cáustico a abordar as ausências de jogadores do Porto em alguns jogos. Revelou que o Porto só ganhou ao Benfica quando não jogou com Falcao, e que Hulk perdeu no jogo disputado no estádio da Luz, alinhando de início. Ficou, portanto tudo dito.

Houve, claro, muito mais. Tanto que aconselho uma visita ao site da RTP para verem a entrevista se não conseguiram vê-la. Foi engraçado ver o representante sportinguista com a sua habitual cagança e paixão pelas tácticas, ver reduzido o seu grande pseudo-conhecimento táctico a meras palavras bacocas de quem na realidade não percebe rigorosamente nada do que está a dizer.


Quanto aos dados que ficaram lançados para o futuro, encheram-me de confiança. Acredito que o projecto do Benfica para o próximo ano, com Jorge Jesus inequivocamente ao leme e controlando toda a estrutura do futebol benfiquista, é muito ambicioso e não nos defraudará. E se Jorge Jesus acha que muito dificilmente não seremos bi-campeões, quem sou eu para desconfiar depois do que já vi do seu trabalho?

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