LIGA PENSA REERGUER O PROJECTO20:59Sábado, 23 outubro de 2010 por Phant
Mais uma vez a palavra mudança surge no horizonte. Numa altura em que têm sido apresentadas algumas ideias para reformular o futebol em Portugal – nomeadamente o seu segundo escalão - abrem-se as cortinas para a discussão de um tema que considero bastante interessante: os méritos e deméritos da plataforma das equipas B.
A formação de jovens futebolistas em Portugal segue um modelo baseado na existência de vários escalões divididos segundo as diferentes faixas etárias dos jogadores. É usual a existência de equipas de Iniciados (Sub-15), Juvenis (Sub-17) e Juniores (Sub-19). Um modelo deste género tenta potenciar a evolução dos jovens num ambiente de igualdade – essencialmente em termos competitivos – mas falha na transição para o futebol sénior, numa fase em que os jogadores tanto podem cair para o lado do sucesso, como para o lado do fracasso.
A reactivação da plataforma das Equipas B procura, precisamente, quebrar este hiato que se verifica entre o futebol júnior e o futebol sénior – onde muitos jogadores se “perdem” - potenciando assim o aparecimento de jovens talentos num ambiente que já conhecem e onde podem ser acompanhados diariamente pela estrutura do clube formador. Tenho para mim que a aposta nas equipas B tem tudo para ser um sucesso, desde que assente numa série de premissas que considero essenciais. Vejamos:
Traços Gerais
- A reactivação do projecto das equipas B deve ser acompanhada por uma reestruturação do modelo futebolístico da actual Liga Orangina prevendo a entrada directa das formações secundárias no actual segundo escalão do futebol nacional.
- Estas equipas devem ser um prolongamento dos escalões de formação e não da equipa principal. Devem servir para continuar a formação dos jovens e não para dar rodagem aos jogadores menos utilizados da primeira equipa e muito menos aos dispensados com mais de 23 anos que não arranjaram colocação noutros clubes.
- Neste sentido, deve ser impossibilitada a inscrição de jogadores com mais de 23 anos (eventualmente 25) e limitado, de forma rigorosa, o número de estrangeiros não formados no clube (inscritos em competições oficiais por três anos entre os 15 e os 21 anos), partindo do princípio que não há violação dos direitos de livre circulação no espaço europeu.
Benfica
- O Benfica deve assumir um modelo de gestão da sua equipa B cuja base seja, na esmagadora maioria, os seus escalões de formação. Um modelo sensato onde os jogadores integrantes do plantel da formação secundária devem ser provenientes da equipa de Sub-19 do clube.
- Não deve, por regra, haver contratações milionárias de jogadores para integrar directamente o plantel da equipa B. A base de actuação deve ser preparar os jovens formados no clube (80%) para, num horizonte máximo de 4 anos, integrarem o plantel da equipa principal, dando-lhes todas as condições para terem uma transição para sénior o mais tranquila possível. O eventual recrutamento de jogadores deve dar preferência a jogadores portugueses em destaque nas competições secundárias do futebol nacional (15%) e a estrangeiros para posições chave (5%) .
- A revitalização da plataforma das equipas B deve potenciar ao máximo a criação de uma filosofia Benfica. O modelo de jogo deve ser em tudo idêntico ao da equipa principal, desde a disposição inicial dos jogadores (4-1-3-2), aos movimentos colectivos (posicionamento alto da linha defensiva quando não há posse de bola, defesa em linha, bloco alto) e à estratégia da equipa (controlo da posse, adiantar as linhas, exercer pressão na saída de bola).
- Também o treinador deve ser, por norma, jovem e proveniente dos escalões de formação ou ex-jogador em início de carreira como treinador. O objectivo será, também, formar treinadores, identifica-los com a filosofia e estilo do clube e prepara-los para assumir outras equipas ou, quem sabe, até a equipa principal.
Baseando-se nestas premissas (não exaustivas) o Benfica podia, já esta época, ter uma formação secundária composta pelos seguintes jogadores:
Guarda-Redes: Jan Oblak, Douglas Pires
Defesas: Abel Pereira, João Pereira, Roderick, Mário Rui, Rúben Lima, Diogo Figueiras
Médios: David Simão, Miguel Rosa, Leandro Pimenta, Saná, Yartei, Rafael Costa, Romeu Ribeiro, André Soares
Avançados: André Carvalhas, Evandro Brandão, José Coelho, Nélson Oliveira, Alípio, Hélio Vaz
Acredito ser perfeitamente possível manter uma equipa de reservas viável em termos financeiros e desportivos, desde que baseada nas premissas indicadas. O plantel pode parecer pouco competitivo (e até algo desiquilibrado) mas com a adição de dois ou três jogadores com mais experiência de segunda liga- para posições chave - e com uma filosofia de trabalho baseada na qualidade e na exigência não tenho dúvidas das possibilidades de sucesso da equipa. Importa ainda notar que a esmagadora maioria do plantel acima delineado já se encontra sob contrato com o Benfica, pelo que os custos com o pessoal seriam em tudo semelhantes ao que são agora, sem a existência da equipa.
Não devemos esquecer que potenciar os jovens jogadores provenientes da formação representa sempre uma estratégia de low risk/high reward, pelo que a chegada de alguns deles ao plantel principal compensaria largamente o investimento realizado. Para não falar da identidade, capital de mística e mentalidade que jogadores com “marca” Benfica, com muitos anos de casa, trariam à equipa.
Vejo a recuperação da plataforma das equipas B como um passo fundamental na revitalização do jogador português, com as repercurssões que isso tem na qualidade das equipas e do campeonato. Acredito, sinceramente, que seria um passo na direcção certa: um projecto transparente que funcionaria como um último degrau nos escalões de formação, acabando com os "clubes satélites" e, principalmente, com os favorzinhos.
2 comentários:
Neste texto, expuseste algumas ideias que eu considero fundamentais para salvaguardar o futuro do Futebol Português.
Nota-se que tens as ideias bem arrumadas sobre o assunto.
Muito bom...
Obrigado Becken.
Algo tem de ser feito para potenciar o jogador português e, assim, salvaguardar o futuro do nosso futebol.
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