FOTO: A CAPITAL
Quando o Benfica eliminou um «Torpedo» de pólvora seca e Vítor Baptista
era um caso para Freud. Não perca, esta terça-feira pelas 19:45 17:00, a partida
entre Spartak de Moscovo e Benfica em mais uma jornada da fase de grupos da
Liga dos Campeões.
O Benfica volta à Rússia apenas
um ano após a última visita – desta vez com viagem marcada para Moscovo -, mas
desde a estreia encarnada em confrontos europeus frente a equipas soviéticas
passaram já trinta e cinco anos. O início de Setembro em Lisboa tinha trazido
uma temperatura de tarde de Verão em noite de quase Outono e a expectativa era
grande para ver o campeão de todas as Rússias. O FC Torpedo de Moscovo, clube
ligado à indústria automóvel da capital russa, trazia na bagagem três títulos
de campeão da URSS e cinco taças soviéticas, para além da cabeça fria e da
mecânica colectiva tão características das equipas do leste europeu. Estávamos
em 1977 e ambas as equipas viviam inevitavelmente na ressaca motivada pela
privação das duas maiores lendas futebolísticas da sua história: tanto Benfica,
como Torpedo, já não podiam contar com os contributos de Eusébio e Eduard
Streltsov – «O Pelé (e porque não Eusébio?) Russo».
Ao bater das 21 e 30 iniciou-se uma
partida que seria de desilusão para os encarnados. Apesar de forte para consumo
interno, desde a perda de Eusébio e seus pares que o Benfica se arrastava pelas
noites europeias carregado de uma vil tristeza por não possuir plantel de
estatura idêntica ao que, na década de 60, escrevera façanhas dia sim, dia não
no livro do futebol mundial. Entre os jogadores existia esperança numa vitória
frente ao Torpedo, mas o futebol materializado em campo não acompanhou a
vontade de ganhar que irrompia das bancadas. A louca mania de despejar bolas na
área contrária como se um (bom) gigante fosse descer das nuvens para cabecear
lá do alto, criava cabelos brancos ao mais careca dos adeptos presentes na Luz
e fazia imaginar que o desfecho não seria o esperado. O tempo passava e na
frente apenas se vislumbrava um Nené de costas voltadas para o golo e um Celso
servido em más condições; mais atrás era Chalana que se enrolava com a bola,
enquanto Pietra e Shéu faziam chover futebol dos céus; na desinspirada equipa
encarnada só Toni e Humberto puxavam a locomotiva na direcção certa mas, valha
a verdade, nem uma só vez se viu perigo sério junto à baliza de Zarapin. O jogo
foi tão insonso que o tímido zero-zero final não surpreendeu ninguém, nem mesmo
os próprios «torpedos» que, apesar de uma escandalosa perdida de Filatov nos
minutos finais, levavam para Moscovo o resultado que desejavam.
Na URSS as bandeiras também
haviam de ser vermelhas, mas os aplausos não tinham o mesmo sentido. Bom, pelo
menos até se conhecer o resultado final. O jogo, esse, foi idêntico ao de
Lisboa - aborrecido, sonolento e entediante - e resumiu-se a noventa minutos em
branco mais trinta de trabalhos forçados, com o Benfica a ceder o ataque ao
Torpedo por completa inoperância no ataque e muita incapacidade no meio campo;
uma (por vezes aflitiva) defesa foi o grande ganha-pão benfiquista durante todo
o jogo. Com Iurine no bolso de Eurico e Sakharov no bolso de Pietra, ao Torpedo
faltaram ideias e imaginação para ultrapassar a muralha encarnada. E quando,
qual raio de sol no negrume da noite moscovita, isso acontecia havia um Manuel
Bento na baliza a defender tudo. Subitamente, os guerreiros de Mortimore tinham
levado o jogo à última decisão: os «penalties». Bola dentro, bola fora, bola
dentro, bola fora e Chalana tinha nos pés a hipótese de fazer 0-3; não a
desperdiçou e mesmo com o 1-3 de Belenkov, a penalidade decisiva ia pertencer ao
Benfica. Bento avançou, e depois de já ter parado o primeiro penalti do Torpedo, desferiu um pontapé colocado e classificou o Benfica para a eliminatória seguinte da TCE. Uma dupla festa, pois Eurico fazia vinte e dois anos nesse mesmo dia e pode festejá-los junto aos companheiros… com vinte contos a mais no bolso (tanto ele, como todos) devido à vitória e à exibição do seu guarda-redes.
No meio do triunfo, havia um caso para Freud resolver: o de Vítor Baptista, homem e jogador. No desvairado dianteiro da Luz residia a grande esperança do Benfica num golo em Moscovo, mas já depois de quase ter ficado em Lisboa devido a um desentendimento com os dirigentes em pleno aeroporto (relacionado com a sua indumentária), Vítor Baptista decidiu na tarde do próprio jogo poupar-se para a selecção e… nem sequer se equipou. Mas há mais: na véspera da partida o excêntrico setubalense surpreendeu tudo e todos ao decidir furar uma orelha para nela ostentar um brinco que, ninguém suspeitava, ainda muito daria que falar no futebol português. É verdade, foi em Moscovo que «começou» a (na altura já longa) história do «rapaz do brinco».
2 comentários:
O jogo é às 5 da tarde e não à hora que dizes... Entre a Russia e Portugal há 3 horas de diferença!
Txiii. Claro que é às 17h. Obrigado pela correcçao.
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