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segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Spartak Moscovo v Benfica: a primeira vez em terras soviéticas

FOTO: A CAPITAL

Quando o Benfica eliminou um «Torpedo» de pólvora seca e Vítor Baptista era um caso para Freud. Não perca, esta terça-feira pelas 19:45 17:00, a partida entre Spartak de Moscovo e Benfica em mais uma jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões.

O Benfica volta à Rússia apenas um ano após a última visita – desta vez com viagem marcada para Moscovo -, mas desde a estreia encarnada em confrontos europeus frente a equipas soviéticas passaram já trinta e cinco anos. O início de Setembro em Lisboa tinha trazido uma temperatura de tarde de Verão em noite de quase Outono e a expectativa era grande para ver o campeão de todas as Rússias. O FC Torpedo de Moscovo, clube ligado à indústria automóvel da capital russa, trazia na bagagem três títulos de campeão da URSS e cinco taças soviéticas, para além da cabeça fria e da mecânica colectiva tão características das equipas do leste europeu. Estávamos em 1977 e ambas as equipas viviam inevitavelmente na ressaca motivada pela privação das duas maiores lendas futebolísticas da sua história: tanto Benfica, como Torpedo, já não podiam contar com os contributos de Eusébio e Eduard Streltsov – «O Pelé (e porque não Eusébio?) Russo».

Ao bater das 21 e 30 iniciou-se uma partida que seria de desilusão para os encarnados. Apesar de forte para consumo interno, desde a perda de Eusébio e seus pares que o Benfica se arrastava pelas noites europeias carregado de uma vil tristeza por não possuir plantel de estatura idêntica ao que, na década de 60, escrevera façanhas dia sim, dia não no livro do futebol mundial. Entre os jogadores existia esperança numa vitória frente ao Torpedo, mas o futebol materializado em campo não acompanhou a vontade de ganhar que irrompia das bancadas. A louca mania de despejar bolas na área contrária como se um (bom) gigante fosse descer das nuvens para cabecear lá do alto, criava cabelos brancos ao mais careca dos adeptos presentes na Luz e fazia imaginar que o desfecho não seria o esperado. O tempo passava e na frente apenas se vislumbrava um Nené de costas voltadas para o golo e um Celso servido em más condições; mais atrás era Chalana que se enrolava com a bola, enquanto Pietra e Shéu faziam chover futebol dos céus; na desinspirada equipa encarnada só Toni e Humberto puxavam a locomotiva na direcção certa mas, valha a verdade, nem uma só vez se viu perigo sério junto à baliza de Zarapin. O jogo foi tão insonso que o tímido zero-zero final não surpreendeu ninguém, nem mesmo os próprios «torpedos» que, apesar de uma escandalosa perdida de Filatov nos minutos finais, levavam para Moscovo o resultado que desejavam.

Na URSS as bandeiras também haviam de ser vermelhas, mas os aplausos não tinham o mesmo sentido. Bom, pelo menos até se conhecer o resultado final. O jogo, esse, foi idêntico ao de Lisboa - aborrecido, sonolento e entediante - e resumiu-se a noventa minutos em branco mais trinta de trabalhos forçados, com o Benfica a ceder o ataque ao Torpedo por completa inoperância no ataque e muita incapacidade no meio campo; uma (por vezes aflitiva) defesa foi o grande ganha-pão benfiquista durante todo o jogo. Com Iurine no bolso de Eurico e Sakharov no bolso de Pietra, ao Torpedo faltaram ideias e imaginação para ultrapassar a muralha encarnada. E quando, qual raio de sol no negrume da noite moscovita, isso acontecia havia um Manuel Bento na baliza a defender tudo. Subitamente, os guerreiros de Mortimore tinham levado o jogo à última decisão: os «penalties». Bola dentro, bola fora, bola dentro, bola fora e Chalana tinha nos pés a hipótese de fazer 0-3; não a desperdiçou e mesmo com o 1-3 de Belenkov, a penalidade decisiva ia pertencer ao Benfica. Bento avançou, e depois de já ter parado o primeiro penalti do Torpedo, desferiu um pontapé colocado e classificou o Benfica para a eliminatória seguinte da TCE. Uma dupla festa, pois Eurico fazia vinte e dois anos nesse mesmo dia e pode festejá-los junto aos companheiros… com vinte contos a mais no bolso (tanto ele, como todos) devido à vitória e à exibição do seu guarda-redes. 

No meio do triunfo, havia um caso para Freud resolver: o de Vítor Baptista, homem e jogador. No desvairado dianteiro da Luz residia a grande esperança do Benfica num golo em Moscovo, mas já depois de quase ter ficado em Lisboa devido a um desentendimento com os dirigentes em pleno aeroporto (relacionado com a sua indumentária), Vítor Baptista decidiu na tarde do próprio jogo poupar-se para a selecção e… nem sequer se equipou. Mas há mais: na véspera da partida o excêntrico setubalense surpreendeu tudo e todos ao decidir furar uma orelha para nela ostentar um brinco que, ninguém suspeitava, ainda muito daria que falar no futebol português. É verdade, foi em Moscovo que «começou» a (na altura já longa) história do «rapaz do brinco».

2 comentários:

O jogo é às 5 da tarde e não à hora que dizes... Entre a Russia e Portugal há 3 horas de diferença!

Txiii. Claro que é às 17h. Obrigado pela correcçao.

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