O 21º capítulo da pré-temporada

Não vou nesta crónica acrescentar nada ao muito que já se disse, escreveu, especulou e analisou sobre a situação do Nuno Gomes. Posso por exemplo recomendar um excelente post do Pedro Ribeiro no seu blog, que diz tudo sobre a situação e aquilo que a possibilita. Mas apesar de não acrescentar nada, sempre me proponho a partilhar convosco a forma como vejo esta situação.

Futebolisticamente, não sou fã do Nuno Gomes. A desilusão do Nuno Gomes pós-Itália face aquilo que eu esperava dele pelo que fez cá no período pré-Itália talvez me turve a visão sobre um jogador que acabou por, quase sempre, andar perdido na frente de ataque sem companhia à altura. De qualquer forma, quando nestes últimos anos passou para a condição de suplente, também desportivamente provou o seu valor. Jogando menos, conseguiu ir acrescentando algo à equipa em vários momentos, se calhar menos vezes do que era desejável, mas também as oportunidades foram escasseando.

Mas para mim o cerne da questão não está na prestação desportiva do Nuno Gomes que, queira-se ou não, é um dos maiores goleadores da nossa história. O foco está na importância do Nuno Gomes na equipa, como um dos poucos bastiões de Benfiquismo e Mística, algo cada vez mais fundamental num balneário invadido por armadas sul-americanas e num clube gerido por pessoas que não faziam ideia do que era o Benfica até lá entrarem. E depois, não menos importante, porque é o capitão da equipa. E não se trata do caso do capitão de equipa como se trata o caso de um qualquer Weldon, perdoem-me.

Em termos de mística pouco há a dizer. Quem resta além do Nuno Gomes? Moreira e Ruben Amorim? Num clube tão órfão de referências, de mística e de Benfiquismo, num clube em que nos queixamos tanta vez que os nossos profissionais não entendem a importância de jogar no Benfica, deixamos sair alguém como o Nuno Gomes? Tantas vezes anda a direcção preocupada em copiar maus exemplos do FC Porto, e que tal olhar para bons exemplos como o Pedro Emanuel? Nas últimas épocas pouco jogava mas andava ali no balneário, havia uma voz de comando a respeitar e a manter até ser forjada uma outra voz de comando que lhe pudesse suceder.

O tratamento dado a um jogador tão especial como o Capitão da equipa diz tudo. Já sabemos que nos estágios, contrariamente ao FC Porto por exemplo, não existe particular respeito pela hierarquia na equipa. Cada um faz o que quer esteja ou não presente o Capitão, mas daí até se deixar o líder do grupo sem contrato e sem saber com o que contar para a próxima época, já me parece claramente demais!

Já perceberam que acho importante que o Nuno Gomes tenha o contrato renovado. Mas até poderia tolerar a decisão contrária, como aceitaria a decisão de renovar. Agora há uma questão vital: de que depende a definição desta situação? Não era para se sentarem todos à mesa no fim da época e ficar tudo definido logo? Porque razão se deixa o CAPITÃO neste limbo todo este tempo? Quem ganha com isto? Que forças se andam a esgrimir para adiar a definição deste caso?

Que imagem passa para o balneário? Um clube que não sabe se há-de manter ou não o seu capitão, um dos principais jogadores dos últimos 20 anos e com mais de 10 anos de casa? Mas isto é concebível?

De uma coisa eu sei, é que já em 2009 a paródia foi a mesma, e não fosse o Benfiquismo do Nuno Gomes e a atenção do Rui Costa a não deixar as coisas caírem no esquecimento, e provavelmente o mais que provável desfecho de 2011 teria sido antecipado em dois anos. Será que as repreensões do Capitão a elementos da estrutura em situações passadas estarão a pesar?

Só sei que isto é uma palhaçada completa, e é mais um mau sinal nesta pré-época. Ao fim e ao cabo, tudo se resume aquilo que o Pedro Ribeiro enuncia no seu blog. Temos um clube sem valores e que agora já nem reconhece aos seus melhores atletas o valor que eles têm, seja desportivo seja "meramente" pessoal.

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