Derrota da sobranceria

23:00

quarta-feira, 29 Setembro de 2010 por trainmaniac

O Benfica voltou a sair da Alemanha derrotado, desta vez pelo Schalke 04. A tradição continua a pesar e ainda não foi desta que saímos de território alemão com uma vitória na bagagem. Jesus apostou na mesma equipa que alinhou contra o Marítimo, mas o desgaste de alguns jogadores e a falta de lucidez (ou seriam nervos) de outros garantiram que a performance não era repetida.

Do outro lado, o Schalke claramente atabalhoado, sem grande organização e consistência, que se limitou a aproveitar tudo o que o Benfica não jogou. De facto, depois dos primeiros 20/25 minutos de jogo, o Benfica pouco fez em campo. Atacou pouco, quase sempre mal, e defendeu sem arte, se exceptuarmos o jogo imperial de Luisão, e já agora de Roberto.

A derrota de hoje é expressiva porque do outro lado, viu-se bem, estava uma equipa perfeitamente ao alcance. Aliás, se Saviola e Cardozo tivessem novamente tido a inspiração necessária em momentos chave, se calhar apesar da exibição teríamos saído vitoriosos. Mas isso faz parte da sorte e do azar de um jogo, e uma equipa que joga 70 minutos como jogou o Benfica, é evidente que está muito mais sujeita ao azar do que à sorte. É quase uma das leis do jogo, e perante isso a derrota não surpreende.

O Benfica perdeu, e perdeu a sobranceria que se apoderou do Benfica este ano. Clube com maus hábitos em vários quadrantes, sem fome e hábito de vitória, tudo e todos embandeiraram em arco após a conquista de um campeonato. Importa referir que antes do campeonato passado, já o Benfica tinha vencido mais 31, para os mais esquecidos. Foi ver cartazes gigantes "Benfica Campeão" até em sítios despropositados como no Caixa Futebol Campus, onde um desses cartazes invade uma superfície enorme, como se ser campeão nacional no Benfica fosse algo assim de tão extraordinário. No estádio, pedem-nos para cantar o "Campeões, nós somos campeões", mesmo que esta já seja uma nova época, e nesta fase o que importaria era lutar a apoiar rumo a nova conquista, em vez de andarmos a festejar eternamente o que já passou.

Mas isto são apenas pormenores... importantes, muito importantes. Até vejo neles de certa forma a admissão dos responsáveis do Benfica da sua incompetência, ao assumirem que com eles realmente o Benfica ser campeão é mesmo algo de extraordinário e para ser falado para lá das calendas. Mas houve muito mais, e o jogo de hoje voltou a provar o que eu disse durante a pré-época, o que disse no início da época, e o que voltei a repetir recentemente nas boas vitórias que finalmente tivemos. O plantel tem muito menos qualidade que na época passada, está muito mais à mercê do momento de forma de 3 ou 4 jogadores, e se o do ano passado era curto para a 2ª divisão da Europa, o deste ano então é quase uma afronta à Liga dos Campeões. A não ser que se abdique, em definitivo, das competições nacionais, de modo a que os jogadores-chave apareçam em grande nos jogos europeus.

Sem ser exaustivo, que reparo que não existe alternativa a Maxi Pereira. O uruguaio em péssima forma, e ninguém pode ser lançado no seu lugar. Na esquerda, Coentrão é necessário no meio campo, pois para já provou ser o único do plantel a exercer com competência aquele lugar, deixando a Peixoto o lugar de defesa esquerdo. Alternativa a Peixoto? Não há. Alternativa a Coentrão no meio campo? Não há. Depois quando acontece, em jogos como os de hoje, de os dois estarem desgastados (normal numa equipa que vai jogar aos fins de semana e depois a meio da semana), ninguém pode entrar... é vê-los a arrastar. E quando se lesionarem ou forem castigados? Nem quero pensar.

Mesmo no centro da defesa, há um substituto natural de David Luiz (Sidnei), já não há de Luisão (era Miguel Vitor... Fábio Faria fica a milhas de distância em termos qualitativos). No meio campo, além do caso da esquerda já citado, à direita a única real opção de qualidade chama-se Ruben Amorim. Com todos os outros, é ver um Benfica desequilibrado, com Javi Garcia a ter de suportar sozinho o meio campo, num papel que até mete dó... batalha imenso, e mesmo assim não chega. Gaitan? Salvio? Excelentes jogadores, mas alguém sabe mesmo onde rendem melhor? Aposto que o próprio Jesus sabe, mas não tem como não os utilizar ali.

Estamos a falar de posições-chave... as laterais da defesa e do meio campo, sobretudo. A sobranceria de não ter acautelado isso devidamente no defeso, trouxe-nos aqui: sem soluções para mais do que procurar fazer um campeonato decente. Que, face ao diferencial de qualidade que temos para o nosso maior rival, seria conquistar o segundo lugar. Triste Benfica, que após uma época finalmente brilhante, após um defeso e muita falta de humildade, se vê obrigado a voltar à eterna luta pelo segundo lugar, o factor mais constante da vigência directiva de Luís Filipe Vieira e seus pares.

E nesta questão, ninguém está isento. Jesus insiste em não montar um plano alternativo sobretudo para desafios mais complexos (como o de hoje), os jogadores porque muitos estão claramente com macaquinhos na cabeça, e nem falo da direcção, porque a incompetência quando é a mais, deixa-me desconfiado.

Não é o fim do mundo, se vencermos o Braga no Domingo mantemos a trajectória ascendente que vimos fazendo nos últimos tempos, mas ninguém vá ao engano... este ano, pedir mais do que o segundo lugar e pedir mais do que uma participação digna na Champions (que até pode passar pelo terceiro lugar do grupo), é fixar objectivos que não foram, manifestamente, acautelados quando era altura de os acautelar. Face ao que foi preparado para esta época, face aos problemas internos e externos que existem, penso que as metas realistas foram as que acabei de definir.

É pena, mas parece ser a nossa sina. A sina de quem aplaude a mediocridade anos a fio...

Nota: Andávamos o ano passado a gozar com os resumos escritos de jogos feito no site oficial dos andrades, mas este ano no Benfica desde a "boa exibição" frente à Académica, passando pelo que se diz hoje da nossa exibição (segundo o site oficial, também foi boa), deixa-me sem grandes palavras. É curioso é ver que este tipo de atitudes editoriais nos sites oficiais acontecem em clubes supostamente tão diferentes, mas preocupantemente iguais em algumas questões institucionais.

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