No entanto, o misticismo destes derbies esmoreceu demasiado nos últimos anos, devido à gritante perda de identidade dos nossos rivais, vendendo a sua honra ao desbarato a implacáveis subjugadores azuis e brancos. Mas o campeonato da segunda circular é, nesta fase, fundamental para toda a época. Com efeito, para Benfica e Sporting, esta pode ser a última oportunidade de se afirmarem como candidatos a alguma coisa este ano. Distantes do Porto, sobretudo o Benfica, é certo que uma das duas equipas, senão mesmo as duas, perderão pontos. E à(s) equipa(s) que isso acontecer, é o fim da época.
O Sporting, perdendo pontos, perde toda e qualquer hipótese de chegar ao título, e complica imenso a luta pelo segundo lugar. Isto porque com os défices de qualidade e de motivação dos últimos anos, estar mais perto do topo que o Benfica não lhe garante propriamente melhores condições para lá chegar do que ao Benfica.
Quanto ao Benfica, a nove pontos da liderança, tudo o que não seja ganhar será uma tragédia. O título está fora de hipótese já (e entregue, a meu ver), mas o segundo lugar é exigível. Não ganhando, não só o segundo lugar pode ficar a uma distância já a rondar os 10 pontos, como ainda por cima o tónico da equipa para o futuro será terrível. Já são três derrotas no campeonato, perder mais pontos, com a agravante de ser em casa e frente a um rival, pode ser a machadada final na nossa época.
No jogo da Liga dos Campeões, voltei a ver muito pouca ambição, muito pouca crença e atitude, com honrosas e pontuais excepções. Mas no geral, de treinador a jogadores, reina a passividade, o desinteresse e algum desespero por não saber como voltar a encarrilar uma equipa que ainda há poucos meses se exibia como poucas no continente europeu. Que equipa teremos para o jogo com o Sporting? Teremos raça e fome de vitória? Ou fretes e inacção? E tacticamente, saberemos finalmente cobrir melhor os espaços a meio campo quando em processo defensivo, ou continuaremos a deixar que o adversário faça tudo com calma e tranquilidade?
Não estou nada optimista, como aliás não tenho estado em jogo nenhum esta época. Há deficiências grosseiras no plantel, há demasiados jogadores fora de forma, há demasiado conformismo por parte de todos os elementos do Benfica, e sendo assim parece-me evidente que ganhar ou não, será um pouco uma questão de sorte, como foi de certa forma contra o Hapoel, onde apesar de termos atacado bem mais que o adversário, nunca conseguimos ser verdadeiramente incisivos, nem no ataque nem na defesa.
Apesar da enorme descrença que vejo, das grandes dificuldades para assumir um estilo de jogo, finalmente tomei uma posição definitiva sobre o que deve ser a abordagem táctica do Benfica, e a sua equipa tipo. Não é a abordagem ideal, porque para essa considero que faltam de facto jogadores. Mas penso que um 4-3-3, mesmo sem jogadores muito abertos na frente, é a nossa melhor solução. Quanto à equipa-tipo, algo como: Roberto, Coentrão, David Luiz, Luisão, Maxi Pereira, Javi Garcia, Ruben Amorim, Pablo Aimar, Salvio, Gaitan e Kardec.
Vantagens? Desta forma, em todas as posições, teríamos jogadores verdadeiramente talhados para aí renderem. E mesmo não sendo Salvio e Gaitan dois jogadores muito dados a movimentos de linha, seriam a melhor garantia de todas as existentes no plantel para dar alguma largura a este sistema. Desvantagens? Logo à cabeça, Saviola. Perde claramente espaço o que, convenhamos, é um tremendo desperdício. Penso que ainda assim poderia ser colocado no centro do ataque, um pouco à semelhança de outras equipas europeias que jogam em 4-3-3, e em que o avançado centro não é propriamente uma referência de área (Villa no Barcelona, nomeadamente). Poderia também de alguma forma ocupar um dos outros lugares mais laterais da frente de ataque, mas aí estaria menos confortável.
Perde-se Cardozo, mas também face à época que espero dele, não me parece muito grave. E Kardec é claramente uma solução muito mais típica para preencher um 4-3-3, como aliás se viu durante a pré-época. Que azar andar lesionado, mas tenho a certeza que ainda nos poderá ser útil este ano. A meio campo, penso que finalmente se iria encontrar algum equilíbrio. Com Javi a desempenhar aquele papel fundamental de omnipresença sectorial à frente dos centrais, com Amorim a ser uma peça táctica fundamental para ir fechando tanto na meia direita como na meia esquerda, e ainda com Aimar (ou Martins) a ser a garantia de criatividade na linha média.
E, resumindo, seria esta a minha abordagem ao jogo que, para o bem e para o mal, vai marcar o nosso campeonato sem dúvidas nenhumas. O Sporting do pouco que tenho visto, parece-me uma equipa ainda muito hesitante nas questões tácticas, pelo que a abordagem não pode ser a de antecipar o seu modelo de jogo, mas antes procurar dominá-los de princípio a fim, exibindo um estilo de jogo o mais completo possível. Caso contrário, estaremos a dar avanço aos adversários... é que eles sabem perfeitamente quais são as nossas fragilidades actuais, portanto a esta hora estarão certamente a afinar uma forma de as aproveitar. E se de facto o Benfica deixar, dificilmente ganhará o jogo.
Toca a arregaçar as mangas, concentrar humildade e trabalho, e com o apoio das bancadas poderemos vencer este importantíssimo desafio. O campeonato da segunda circular pode fazer a diferença entre ainda haver ou não campeonato depois deste desafio.
Fotografia: Isabel Cutileiro
2 comentários:
Nunca o Benfica a disputar uma 5ªjornada esteve tão longe de ser feliz.
Empatar ou perder, é cavar um fosso com dois dígitos.
É imperativo vencer, não há volta a dar!
Abraço
Custa a aceitar, mas este texto é cruelmente realista.
Um cenário que não seja a vitória será o fim de um sonho que prefiro nem pensar muito nele...como diz o red, estamos na 5ª jornada e tão longe de sermos felizes :/
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