Popular Posts

domingo, 21 de março de 2010

Factos e Protagonistas - Recordar Marselha




Por Fernando Seara - crónica semanal no jornal "a bola"

1 O grito de afirmação internacional desta equipa do Benfica ecoou no Vélodrome e estendeu-se à Europa inteira. Foram 90 minutos de Benfica à Benfica. De tenacidade e de raça. De força feita de convicção, coragem, classe e sofrimento. De muitos e muitos predicados, todos eles devidos e todos eles merecidos pelo grupo de trabalho que honra o emblema, dignifica o clube e distingue Portugal. Diz-se que o Marselha jogou pouco. Seria melhor observar que jogou na estrita medida em que os jogadores e a estratégia do Benfica o deixaram jogar. E isso faz esta época toda a diferença relativamente a passados recentes. Não apenas a categoria dos jogadores. Mas a ideia de jogo interiorizada, os mecanismos assimilados, a confiança de cada um e em todos os outros, o conhecimento do que se pode e deve fazer, o cumprimento escrupuloso do seu papel. E, concomitantemente, o estudo do adversário, a preparação de cada jogo com minúcia e cuidado, tudo feito com a humildade de quem sabe muito de futebol, não se ilude com ondas de entusiasmo nem tropeça na armadilha dos favoritismos fáceis ou das vitórias antecipadas. Este Benfica artista é também um Benfica operário, trabalhador, esforçado. Benfica de estrelas que no relvado não têm primazias nem galões. Defendem e atacam, jogam e disputam o jogo lance a lance, como se em cada jogo tivessem de demonstrar o que valem e conquistar o lugar que ocupam. Esperemos que, com tanta carga competitiva e tão pouco tempo de recuperação, exibam hoje, no Algarve, tudo o que já mostraram à exaustão saber e poder fazer. Sim, porque para uma grande equipa não há competições acessórias. Todas são principais. E todas são para ganhar. Esta é, definitivamente, a águia que nos leva a voar nas asas deste sonho que todos os benfiquistas merecem e perseguem.

2 Os mapas que apresentamos ajudam-nos a perceber a continuidade da participação de alguns clubes na Liga dos Campeões e a quase renovação anual no que respeita à Liga Europa. Na Liga dos Campeões, nos últimos anos e nestes quartos-de-final, encontramos habitualmente os grandes nomes do futebol inglês, mais o Barcelona e o Bayern Munique. E, este ano, deparamos com a intromissão do Inter, de José Mourinho, o CSKA de Moscovo e a presença gaulesa do Lyon e do Bordéus. Na Liga Europa, constatamos que nos últimos anos há uma constante renovação e que o Benfica, com duas participações nos quartos-de-final, é uma das marcas europeias com dupla referência. Agora, e face ao sorteio, o encontro com o Liverpool — que tem, nesta Liga Europa, a sua tábua de salvação competitiva na presente época — será quase que uma final antecipada, sem que ignoremos que o vencedor deste jogo vai disputar o acesso à final com o Valência ou o Atlético Madrid. Mas os quadros são bem elucidativos acerca da relativa estabilidade na Liga dos Campeões e a relativa renovação na Liga Europa. São também os milhões bem diferentes de uma e de outra competição a reflectirem-se na hierarquia das potências do futebol europeu.

3 Um apontamento de tristeza pelos acontecimentos de Alvalade que pelas más razões levaram o nome do nosso país aos noticiários desportivos. Sabemos bem que a violência no desporto é multifactorial e muitas vezes incontrolável pelas estruturas dos clubes e pela organização do espectáculo. E não se pode esquecer os acontecimentos de Madrid, igualmente tristes e reprováveis. Porém, o desforço nunca é justificável. Por isso, dos responsáveis leoninos só se poderiam exigir comportamentos pedagógicos que incutissem nos seus adeptos serenidade e bom senso. Ao contrário, a declaração de Salema Garção apelando ao ambiente de incomodidade na recepção do adversário e de Simão Sabrosa acabou por constituir mais um dispensável rastilho que poderá ter consequências disciplinares. Creio bem que as palavras do dirigente leonino não traduziram o seu pensamento. Muito menos as interpretações que delas se fizeram. Terá sido um deslize. Mas, convenhamos, foi uma intervenção que, decerto, não repetirá atentas as responsabilidades que exerce.

4 Um benfiquista do coração está a lutar pela vida. Com algumas cadeiras de distância, acompanhei-o em alguns jogos do Benfica. Vibrámos com as exibições desta época, enaltecemos a liderança de Luís Filipe Vieira, a perspicácia de Rui Costa e a sabedoria que se sente e pressente de Jorge Jesus. Agora que vamos defrontar o Sporting de Braga e o Liverpool gostava de o voltar a ver naquele estádio. Nestes dois jogos não será possível, acredito. Mas, meu caro comendador Horácio Roque, cá estaremos para um abraço vitorioso no final da Liga. Força comendador! 

0 comentários:

Enviar um comentário