FOTO: PATRÍCIA DE MELO MOREIRA/AFP
A Luz tremeu no culminar de uma semana em que a saída de Javi Garcia abalou os alicerces do meio-campo encarnado, mas o Benfica acabou a festejar uma vitória sobre o Nacional que lhe deu a liderança, ainda que partilhada, no campeonato. Por si só, a relevância de liderar a tabela classificativa numa fase tão prematura da época não é muita, mas a importância emocional de tal feito não deve, também, ser descontada. Mas passemos ao tema principal do texto: como conseguiu o Nacional travar o Benfica, especialmente durante a primeira parte?
Numa palavra: compactação. Pedro Caixinha assumiu-o depois do jogo e a observação da partida não deixou grandes dúvidas. A estratégia do Nacional passou por encurtar espaços ao Benfica mantendo as linhas compactas e anular a saída dos encarnados pela zona central através de uma presença constante - Rondón - na zona de Witsel. A aula de compactação de Caixinha desenhou-se através de um 4-1-4-1 com pressão individual por zona a partir da linha de meio-campo e transição ofensiva muito rápida e vertical pelos extremos e, principalmente, por Rondón. Com a cedência da posse de bola ao Benfica, o Nacional agrupou-se naturalmente em bloco baixo, e apesar das manobras defensivas nem sempre terem sido perfeitas os madeirenses controlaram sempre bem o adversário.
Não que seja uma novidade, mas o Benfica apresentou grandes dificuldades para ultrapassar a teia montada pelos «alvinegros». O Nacional forçou a saída por Garay e Luisão e até permitu que o Benfica construísse como gosta: pelos corredores laterais. O problema é que as saídas em «atropelo» pelos flancos por parte de Maxi-Salvio e Melga-Enzo nunca tiveram o efeito desejado pela boa acção defensiva e empenho total dos laterais-extremos do Nacional. Pior: o Benfica forçou a entrada pelos corredores, mas nunca soube sair deles. Quando bloqueado por onde normalmente consegue ser forte, não consegue jogar, e numa partida em que Rodrigo e Martins nunca se conseguiram soltar das marcações quando solicitados (Witsel nem accionado conseguiu ser), o problema ficou ainda mais evidente. O Benfica até pareceu ter intenção de «trabalhar» os espaços no bloco contrário, mas a impaciência e más decisões dos centrais e o não aproveitamento do que lhe era «oferecido» pelo adversário - essencialmente pela identidade da equipa em organização ofensiva - ditaram uma primeira parte pouco conseguida e muito distante do último terço. A prova disto mesmo é que a única chance do Benfica no primeiro tempo não surgiu numa situação de organização, mas sim de uma transição rápida depois de uma das poucas saídas curtas por parte dos «alvinegros» (Vladan bateu quase sempre longo) que, certamente, não agradou a Pedro Caixinha, que nunca mostrou intenção de ter a bola durante demasiado tempo - saídas rápidas em transição e rápida recomposição no seu meio-campo com as linhas bem compactas eram o objectivo.
Na segunda parte, Jesus disse que corrigiu alguns posicionamentos, mas não tive essa percepção. É certo que Matic, ao contrário de Witsel, baixou muitas vezes para o meio dos centrais na primeira fase de construção, mas os efeitos não se notaram por aí além e a receita para a vitória acabou por ser dada por Melgarejo, depois de Salvio ter indiciado isso mesmo ainda na primeira parte: mobilidade, drible, ultrapassagem do adversário directo e, depois, eficácia na finalização das (poucas) chances conseguidas. Não sei se notaram, mas o Benfica conseguiu 3 golos em 3 remates na direcção da baliza. É quase certo que, no futuro, a equipa se deparará com situações semelhantes e caberá a Jesus trabalhar soluções para ultrapassar o problema. Desta vez, as individualidades e a eficácia resolveram, mas nem sempre será assim.
No vídeo abaixo, algumas situações da primeira parte referentes ao que foi descrito:
7 comentários:
Na primeira parte os laterais adiantaram-se sempre muito e foram acompanhados pelos extremos e mesmo por Carlos Martins que, quando baixava, era bem acompanhado pelo Nacional. Witsel ficou sempre bloqueado na saída, bem acompanhado pelos jogadores do Nacional. Sobraram Luisão e Garay e a bola longa sem qualidade. Na segunda parte, além da entrada de Matic que deu mais apoio a Luisão e Garay (e melhor qualidade de passe), Enzo Perez entrou mais em jogo como opção de construção e o próprio Witsel, na posição do costume foi mais eficaz que Carlos Martins, possibilitando mais opções que apenas Luisão-Garay, através da alternância Matic-Enzo-Witsel. Com isso a nossa posse de bola (e a qualidade com a mesma) subiu e desbloqueou o jogo.
Obrigado por esta excelente lição
A mostrar aos comentadeiros da nossa comunicação social o que eles não são capazes de ver.
Pena posts como este andarem escondidos em blogs e dificilmente chegarem a mais pessoas.
Parabéns ao autor
Um dia que tenhas tempo gostava de discutir isto contigo. Abraço, Ludwig
Obrigado a todos pelos comentários.
Claro, Lud. É quando quiseres.
Muito bom! Ao nível, ou mesmo melhor, do que faz o LE.
Os troca letras e os troca tintas dos pasquins podiam aprender algo aqui.
Witsel ficou sempre bloqueado na saída, bem acompanhado pelos jogadores do Nacional.
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