o primeiro golo

A principio é simples, joga-se sozinho

Passa-se nos jogos bem devagarinho

Está-se bem no silêncio e no borborinho

Joga-se as certezas num copo de vinho

E vem-nos à memória uma frase batida

Hoje é o primeiro golo do resto da tua vida




Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo

Dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao relvado

Diz-se do passado, que está moribundo

Bebe-se o golo num copo sem fundo

E vem-nos à memória uma frase batida

Hoje é o primeiro golo do resto da tua vida




E é então que os colegas nos oferecem leito

Entra-se cansado e sai-se refeito

Marca-se por tudo o que se leva a peito

Chuta-se, remate-se e alguém nos diz: bom proveito

E vem-nos à memória uma frase batida

Hoje é o primeiro golo do resto da tua vida




Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja

Olha-se para dentro e já pouco sobeja

Pede-se o descanso, por curto que seja

Apagam-se dúvidas num mar de golos

E vem-nos à memória uma frase batida

Hoje é o primeiro golo do resto da tua vida




Enfim duma escolha faz-se um desafio

Enfrenta-se a bola de fio a pavio

Navega-se sem mar, sem vela ou navio

Bebe-se a coragem até dum jogo vazio

E vem-nos à memória uma frase batida

Hoje é o primeiro golo do resto da tua vida




E entretanto o tempo fez cinza da brasa

E outra maré cheia virá da maré vaza

Nasce um novo jogo e no braço outra asa

Brinda-se aos amores com o golo da casa

E vem-nos à memória uma frase batida

Hoje é o primeiro golo do resto da tua vida

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