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sábado, 1 de janeiro de 2011

2011: ano de desafios


2011 será incontornavelmente um ano de grandes desafios na SAD do Benfica. Várias são as questões desportivas e financeiras que merecerão atenções especiais ao longo destes 365 dias, umas mais evidentes, outras menos.
Começando pelo plano desportivo, que é o “core business” da SAD, 2011 será o ano em que o Benfica se assumirá ou não como real candidato a travar a hegemonia portista. Não quero com isto dizer que a conquista do campeonato seja condição essencial para o que afirmei, uma vez que é preciso encarar com realismo a tarefa que está pela frente – só muito dificilmente seremos campeões, por razões várias e de diferentes índoles. Mas é fundamental mostrar ao país, e sobretudo aos adeptos do Benfica, que mesmo não ganhando o campeonato a equipa e a sua direcção técnica têm condições para perseguir sucessos todos os anos.
Creio que em 2011, o importante é dar luta até ao fim no campeonato. Temos equipa para rapidamente nos consolidarmos como segundos classificados, e temos equipa para não perdermos mais terreno para o líder da classificação. Deve dignificar-se a camisola do Benfica, voltar a mostrar que o futebol competitivo e bonito de 2009/10 não foi um acaso e manter o comandante do campeonato em permanente alerta. Nas taças a conversa é outra. Francamente não tenho grande opinião sobre o que poderá ser uma boa campanha na Liga Europa. Pelo estatuto que devemos procurar ter, pelo que foi investido no plantel, e porque estamos na época que sucede ao vendaval de futebol que vimos em 2009/10, diria que poderíamos e devíamos ser candidatos sérios a vencer a Liga Europa. Mas uma equipa que claudicou da forma que claudicou contra segundas e terceiras linhas europeias como Lyon, Schalke e até Hapoel, será que pode ambicionar a algo tão importante? Duvido, mas até Fevereiro teremos mais certezas sobre o potencial futebolístico desta equipa para o que falta da época. Nas taças nacionais, o caminho é só um: ganhar!
Neste ano começaremos também a disputa da época 2011/12, e essa é fundamental que seja bem preparada. Há uma série de contratos a chegarem ao seu termo, e o Benfica deve emagrecer o mais possível a sua lista de jogadores… temos mais de 50 sob contrato actualmente! Não faz sentido ter mais do que os 25 jogadores do plantel, e depois 10 jogadores a rodarem em outras equipas, entre ex-juniores e um ou outro caso pontual de jogadores que sejam considerados excedentários. Já esta época devíamos ter visto resultados da aprendizagem com erros passados, mas como tal ainda não foi visível, o meu desejo é que para 2011/12 se faça algo tão básico quanto essencial: no mercado de Verão, tentar primeiro colmatar os lugares mais necessitados do plantel, e só depois das necessidades satisfeitas procurar alternativas para outras posições.
O mercado português tem de voltar a merecer atenção. O preconceito contra os jogadores portugueses é algo inaceitável num clube que até há cerca de 30 anos estava impedido estatutariamente de ter nas suas fileiras jogadores estrangeiros. Como pode o Benfica olhar com sobranceria para jogadores como Sílvio ou João Ribeiro (isto para citar apenas alguns exemplos), e acolher de forma tão entusiástica extremos e laterais que nem titulares indiscutíveis são, de equipas argentinas e brasileiras que lutam para não descer de divisão? A questão do jogador português não é um patriotismo oco, não é uma teimosia anti-comissionista, não é um devaneio provocado por um qualquer eclipse lunar. Havendo qualidade em Portugal, e acessível, é fundamental ser incorporada no Benfica. Os portugueses sabem naturalmente qual a importância do Benfica, qual a responsabilidade de vestir aquela camisola… são até condicionados nas suas vidas por isso. Um português com vida feita cá, sabe que não pode andar a dormir à sombra da bananeira se representar o Benfica. Nem quer… para qualquer português, mesmo que não seja benfiquista, representar o Benfica é a oportunidade de se notabilizar a um ponto que não é possível de qualquer outra forma.
Da mesma forma que falo de outros jogadores, falo também de talentos como Miguel Rosa ou Nelson Oliveira, que são jogadores jovens da nossa formação mas que não têm menos futebol que jogadores como Weldon ou Felipe Menezes, para não falar no caso de Mantorras.
Estas questões de mercado são tanto mais importantes, porque a segunda grande vertente onde a SAD jogará o seu futuro em 2011 é a financeira. Os sucessivos prejuízos da SAD já engoliram mais de 90% do capital social, e a falência técnica foi evitada com um custo elevadíssimo… a saída do estádio do clube, e a sua integração na SAD. O próprio clube está ameaçado caso a saúde financeira da SAD não melhore, uma vez que mais de metade dos activos do clube que lhe permitem ir cumprindo os seus compromissos são precisamente as acções da SAD. Se a SAD falir… o próprio clube irá pelo mesmo caminho. Estamos portanto numa situação limite.
No primeiro trimestre desta época 2010/11, já houve um “cheirinho” daquilo que será o ano de 2011 todo em matéria de juros associados à nossa dívida – tiveram um aumento enorme face ao mesmo período da época transacta. Em primeiro lugar, porque o endividamento galopante  traduz-se obviamente em maiores encargos. Em segundo lugar, porque as taxas de juro já começaram a subir, e subirão ainda mais ao longo de todo este ano. Tudo isto numa sociedade que mesmo em ano e título nacional, receitas recorde de bilheteira e quotizações, acumulou mais 19 milhões de Euros de prejuízo. O caminho só pode ser um… cortar custos com o que é excedentário e ter mais critério a comprar e vender.
Este novo ano trará quase de certeza a confirmação de um novo contrato para a transmissão televisiva dos jogos caseiros do Benfica, e eu aposto que voltaremos a dar as mãos aos financiadores do sistema do futebol português – a Olivedesportos. A conversa dos dirigentes do Benfica a esse propósito não me diz nada, e estou absolutamente certo que até será também a terrível situação financeira a explicar aquilo que nenhum benfiquista praticamente gostará de ver… Joaquim Oliveira mais uns 10 anos sentado na tribuna do Estádio da Luz.
Se em 2011 o paradigma de gestão da SAD não mudar radicalmente, o Benfica pode hipotecar 10 ou mais anos de sucesso desportivo. Já estamos a perder terreno para os orçamentos praticados pelo Porto (dignos de uma boa 2ª linha europeia), e poderemos perder ainda mais. Por enquanto o caminho não tem ainda de ser o desinvestimento, a alienação selvática de passes de jogadores, o downsize de toda a SAD. Nos próximos 2 ou 3 meses o paradigma tem de mudar, porque depois será tarde demais. A SAD está a alimentar uma bolha que está a crescer há tempo demais, e cujos perigos e consequências estão bem identificados nos relatórios e contas da sociedade, para quem perder algum tempo a lê-los. Além de uma actividade operacional bastante negativa, além dos juros que aumentam sem parar, é possível ver que todos os anos aumentam os empréstimos obtidos, dos mais diversos tipos, para financiar a tesouraria. Nunca servem só para pagar empréstimos que vencem… têm sempre um valor superior aos anteriores, vão servindo para pagar os empréstimos que vencem, mas também o défice económico que se agrava de ano para ano. Senão houver uma mudança completa no estilo de gestão, temo que tenhamos que percorrer um caminho idêntico ao do Sporting, enfrentando um miserabilismo que pode condenar o Benfica, pelo menos o Benfica que Cosme Damião sonhou e concretizou.
Portanto, este ano que agora começa é absolutamente vital para o clube. Desportivamente temos muito pela frente que é necessário enfrentar com garra e sede de vitória, para marcarmos em definitivo uma posição que nunca devíamos ter deixado – a de um clube lutador. E financeiramente, será um ano delicado, pois estamos demasiado perto da falência técnica, pois podemos estar à beira de hipotecar uma década ou mais do clube, porque tem de se parar com a sangria de capitais. É preciso rigor, competência e muito Benfiquismo para dar a volta, e livrar o clube dos negros horizontes que foram cultivados nestes últimos três ou quatro anos.
Que seja um 2011 à Benfica. Mas à verdadeiro Benfica!

5 comentários:

"Já estamos a perder terreno para os orçamentos praticados pelo Porto".

Aqui está uma afirmação totalmente disparatada. Ora faça lá uma análise competente a esse famoso orçamento e depois falamos. Eu não queria uma orçamento desses no Benfica.

Verifique onde é que eles gastam, e como podem ter, 45 M€ em custos que não estão cobertos por receitas correntes? E sabe qual é o resultado líquido previsto nesses 92M€ de receitas? Apenas 2,5M€.

Porque é que pensa que eles vêm agora com notícias encomendadas falar que o City está disposto a pagar 85M€ pelo Hulk? Como se isso fosse verdade. Só os papalvos dos andrades acreditam nisso.

Eu até respondia, mas como esse é o assunto menos importante de todo o texto, que é bastante grande e tem muito mais conteúdo...

Até doi, a nossa realidade actual oferece-nos um horizonte muito escuro, e ou se vira já o rumo, ou entao...

Como diz o benfiquista mais famoso dos últimos meses, este post é um abrolhos!!!

Que saudades de um Marco Ferreira... ou de uma máquina de calcular simples que impedisse certas pessoas de errar nas contas.
O verdadeiro Benfica há-de chegar!!!

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