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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Benfica vs Juventus: de Lisboa a Turim, com os olhos em Wembley


Quando a «Juve» treinou no relvado do Casa Pia e os espinafres eram arma secreta italiana. Não perca o jogo de preparação entre o Benfica e a Juventus, mais logo, a partir das 18 horas.

Maio de 68. A data é normalmente recordada pela revolta estudantil de proporções revolucionárias que estalou em França e rapidamente ganhou eco noutros países, mas na mesma altura o Benfica tinha em jogo o acesso a mais uma final da Taça dos Campeões Europeus. Para os «encarnados» a partida significava um agradável regresso ao ambiente das grandes «soirées europeias» do início da década, mas ao adversário também não escasseavam pergaminhos. A equipa de Heriberto Herrera, na altura a mais querida das gentes transalpinas, apresentava-se na Luz como campeã italiana e as páginas douradas do seu passado não deixavam dúvidas quanto à legitimidade das aspirações da «Juve» na eliminatória.

A primeira mão estava marcada para o Estádio da Luz e a poucas horas do início do «grande espectáculo» o relevo ia todo para a preparação da equipa de Turim. É que «signor» Herrera quis que os jogadores despertassem bem cedo para um pequeno-almoço rápido onde os espinafres foram o grande destaque; ao almoço nova presença de espinafres à mesa (entre a canja de galinha, o frango e o bife) forçavam a interrogação: seria tão formosa verdura o ingrediente secreto da força italiana? Para além da ementa, outra curiosidade: os homens da Juventus foram obrigados a treinar fora do Estádio da Luz. A razão de ser de tal proibição foi bastante simples: a direcção da «Juve» informou atempadamente que seria impossível, em Turim, facultar o relvado da equipa para treino dos portugueses e, como amor com amor se paga, em Lisboa os italianos foram forçados a utilizar o relvado de Pina Manique, cedido pelo Casa Pia. Sem polémicas, diga-se. Outros tempos.

Quanto ao jogo, ganhou o Benfica por 2-0, num resultado prometedor que representava, só por si, um passo seguro para Wembley. Depois de uns 10 minutos ilusórios, com os italianos a jogar no campo todo, começou a definir-se o figurino do jogo: defesa cerrada da «Juve» - hoje os jornais falariam em «autocarro» - e ataque constante do Benfica. O nulo ao intervalo indicava bem qual o vencedor das pequenas batalhas da grande guerra que era o jogo. Bercellino vigiava aguerridamente Eusébio e o bombeiro Castano – ou líbero em futebolês – acudia a todos os fogos provocados pelas labaredas «encarnadas». Entretanto, o tempo passava e a meta italiana – o empate - mantinha-se intacta; as possibilidades benfiquistas, por outro lado, oscilavam. A Luz, impaciente, erguia-se a cada remate de Eusébio, vibrava a cada jogada de Jaime Graça e tremia a cada incursão de Monichelli, o extremo-esquerdo transalpino. Até que, já com a segunda parte bem alta, eis que chega o tão ansiado prémio benfiquista: Torres inaugura o marcador em cabeceamento a um passe de Simões e, poucos minutos depois, Eusébio marca o segundo, isolado frente à baliza de Anzolin. O Benfica estava no bom caminho. O caminho de Wembley e da sua quinta final da Taça dos Campeões Europeus.

A exibição foi vincadamente positiva e no final da partida Coluna não tinha dúvidas: -“A vantagem de dois golos dá-nos passagem para Londres”. E deu mesmo, pois uma semana depois os «encarnados» foram a Turim confirmar as palavras do capitão – só ele estava autorizado a falar aos jornalistas no final dos jogos - e vencer por uma bola a zero. Confirmado o apuramento, a questão a que faltava responder foi colocada por Bercellino, defesa italiano, que logo no final do primeiro encontro desabafou perante os jornalistas: “Eusébio? Quem o pode travar?” Aparentemente ninguém podia. Bom, ninguém a não ser Sir Bobby Charlton e o seu Manchester United, é claro.

2 comentários:

Foi no jogo em Turim que a plateia gozou com o Eusébio por tentar marcar um livre a uns 40m da baliza, certo?
Mais um grande artigo Phant, já tinha saudades de te ler.

Foi exactamente como dizes. Todo o estádio ria enquanto o Eusébio se preparava par bater o livre, ainda muito longe da baliza. Imagino a cara de espanto dos italianos quando a bola só parou no fundo das redes. Hehe.

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