Chama Gloriosa Chalkboard é uma nova rubrica no blog onde iremos
analisar lances, jogadas ou momentos dos jogos do Benfica que, apesar de
importantes, passam normalmente despercebidos a um olhar menos atento.
Com a ausência de Javi Garcia por castigo, Matic teve, contra o Vitória de Setúbal, oportunidade para mostrar como vai a sua adaptação a pivot defensivo, tendo voltado a aparentar algumas dificuldades em ser agressivo no espaço quando a bola circulava pela sua zona, especialmente na primeira parte. Não é esta, porém, a razão porque escrevo este artigo. Durante a segunda parte, já com o resultado em uns confortáveis 4-1, o sérvio quase está na origem de mais um golo do Vitória de Setúbal ao perder a bola na entrada da área de Artur quando a equipa saía em construção. Muitos apontarão imediatamente o dedo à lentidão de Matic, mas terá sido essa a principal causa da jogada?
Pegamos no lance no momento em que Jardel, pressionado por um contrário,
procura dar consequência à circulação baixa do Benfica fazendo a bola
chegar ao pivot. Aparentemente, a jogada nada tem de extraordinário mas o
erro de Matic é tão simples quanto importante.
Matic recebe a bola com o campo "fechado", i.e. com os apoios virados para o lado da bola, existindo uma zona enorme do campo que não está a controlar visualmente. O adversário percepciona muito bem a situação e pressiona imeditamente de forma agressiva com o sérvio, completamente surpreendido, a não ter a mínima chance de retirar a bola da zona de pressão. A jogada só não tem consequências de maior porque o jogador sadino, por qualquer razão, acaba por procurar uma falta que manifestamente não existe no lugar de concluir uma situação que, com toda a probabilidade, seria de golo iminente. Todo o lance teria sido facilmente evitado se Matic tivesse optado por uma orientação dos apoios (posicionamento) que lhe permitisse controlar o espaço, a bola e, claro está, o adversário.
7 comentários:
Excelente. Continua a rubrica, não a deixes morrer. É importante que na blogosfera benfiquista haja mais deste tipo de análise e menos discursos banais e estéreis.
Matic tem uma dificuldade enorme como médio mais recuado. Isto porque, a meu ver, não o é. Procura sê-lo, porque Jesus lhe pede isso, mas é um jogador de outra passada, de uma dinâmica superior e que exige outro tipo de movimentos. O facto de ser alto não pode nem deve (embora pareça) ser a condição para que Jesus o ponha ali. É um jogador que bem trabalhado pode funcionar bem como médio de transição - num 433, um 8. Acho que seria o melhor substituto do Witsel, por exemplo. Isto se estivesse trabalhado para tal, coisa que não está porque tem sido obrigado a jogar, quando joga, nesta posição que em nada o favorece.
E não favorece porquê? Acima de tudo, porque não tem a cultura posicional quase perfeita que o modelo do Jesus exige para aquela posição. Num esquema em que, por vezes, há 20 metros de distância no miolo do terreno entre o pivot e os alas e médio ofensivo, é imperioso que o médio defensivo seja alguém com uma capacidade poscional e de antecipação acima da média. A recepção tem de ser constantemente orientada, um, dois toques e a bola já lá não está - Javi nisso é sublime. Matic quer tê-la, quer levá-la, quer correr com ela, descobrir outras soluções.
Acho que está a ser muito desaproveitado.
Estou de acord a 100% como a análise do Ricardo.
Muito obrigado aos dois pelos comentários.Ricardo, obrigado também pela força e vou fazer tudo para que a rubrica não morra.
Mas indo ao que interessa: fazes uma excelente descrição do Matic, mas eu discordo da conclusão que dela retiras. Acho que o sérvio pode dar um pivot defensivo bastante interessante, desde logo porque tem as características físicas adequadas (a altura é importante na forma como a equipa defende o jogo mais directo e na complementaridade que existe com os centrais). É certo que, para já, não transmite a mesma segurança que o Javi em termos de resposta defensiva (muitas vezes mais aos adeptos que à própria equipa dentro de campo), mas penso que isso virá com a cultura de posição, quando conseguir ser mais agressivo e controlar melhor o seu espaço.
O problema maior tem sido mesmo a segurança que dá em posse, como o post ilustra. O que ele tem de fazer é ajustar o seu critério às zonas onde normalmente tem bola (fase de construção) e a partir daí até pode acrecentar mais que o Javi porque o seu potencial técnico é superior. Este ano em Portimão (e também com o Olhanense na Luz) teve um jogo muito bem conseguido neste aspecto que, apesar de ter sido potenciado pelo bloco muito baixo do Portimonense, deixou algumas pistas para aquilo que pode fazer. Aguardemos para ver o que o futuro nos dirá e se o Jesus mantém a aposta para lá desta época.
Estarei atento a esta nova rubrica.Quanto ao Matic estou totalmente de acordo com o Ricardo.SB.
Além do problema da saída da bola, Matic tem 2 outros grandes problemas, lacunas, na posição de trinco. Visto estar muito habituado a posições mais ofensivas no terreno, estende a pressão até junto da linha defensiva contrária, o que se por um lado pode originar recuperações de bola que dão origem a golos, como salientou o PB do céu encarnado relativmente ao 3-1 contra o setúbal, por outro lado abre grandes espaços entre ele e os defesas o que facilita contra-ataques perigosos se o Benfica não recuperar a bola. Outro problema é a compensação que faz relativamente aos centrais, ocupando posições incorrectas como foi o caso do golo do setúbal, visto que recuou demasiado no terreno, sem que outros jogadores do setúbal estivessem nessa área deixando que um grande buraco ficasse aberto à frente dos centrais na entrada da área. Tendo o Jardel dobrado o emerson acompanhando o jorge gonçalves à linha, seria o emerson a compensar ao meio no lugar abandonado pelo jardel, como o matic ocupou esse lugar indo quase até ao primeiro poste, a entrada da área ficou liberta para o remate do neca. Esta falta de compensação na entrada da área já originou vários golos dos adversários por posicionamento incorrecto do matic. Independentemente das características físicas, o facto de ele desconhecer completamente o posicionamento e rotinas do lugar, deveriam evitar que jesus o continuasse a meter lá, tanto mais que após meia-época a ser treinado para esse lugar, continua sem evolução aparente. Concordo com o ricardo, o matic é mais um médio de transição, com boa capacidade para fazer passes a rasgar e com boa capacidade técnica para segurar a bola. Insistir nele a trinco é cavar a sepultura quando não temos o javi.
Obrigado pelo comentário, Bcool973.
A coerência colectiva no pressing pode ser um problema, tens toda a razão, mas não é só culpa do Matic. É a equipa, no seu todo, que tem de pressionar em bloco e é por isso que existem referências para isso e não pressiona cada um por si. É óbvio que os jogadores têm liberdade, mas existem situações identificadas para se aplicar o tal comportamento pressionante. Nesse lance o Matic apanhou o jogador do vitória de costas e teve a percepção de que poderia ganhar a bola e originar uma transição rápida, carregou em cima dele e ganhou. Se conseguir ser agressivo nestas acções e sair apenas quando está previsto não vejo mal.
Do segundo ponto discordo completamente porque me parece que esse não é o comportamento previsto. O Jesus promove uma relação de grande complementaridade entre o "6" e os centrais e no golo do Setúbal o Matic teve o comportamento correcto - completar a linha de 4 cá atrás -, pecando apenas por ter demorado muito a alinhar ao lado do Luisão. O Emerson não tinha a mínima hipótese de fechar no meio porque ficou logo fora da jogada com o lançamento lateral. Porque não perguntar onde estava o Witsel ou apontar o dedo ao mau corte e à infelicidade do Luisão?
Ao ver o jogo de ontem e ver as movimentações do Javi, quer na cabeça dos centrais, quer nas compensações, penso que há diferenças significativas entre o Javi e o Matic na abordagem ao jogo em termos de posicionamento na psoição.
Quanto ao lance, Phant, acho que umm trinco não pode recuar tanto como o fez Matic porque cria um espaço demasiado grande à sua frente. quando ele percebeu o erro tentou compensar, mas já foi tarde. Sim o Luisão abordou muito mal o lance, pois entrando de lado e protegendo-se em vez de entrar de frente para o lance origina apenas o desvio em vez do corte do remate. Contudo e tendo em conta a movimentação da equipa, o Witsel estava a km do lance na origem, acho que não faz sentido ir marcar o primeiro poste sem um adversário por lá, mas pior que isso, é não ver o espaço criado à frente e demorar uma eternidade a corrigir a deficiente movimentação. Acho que com o Javi lá, não tínhamos sofrido o golo. Aliás a diferença de arranque entre um e outro jogador é algo crítico também para a posição, pois um futebol mais pausado não se compadece com a posição de trinco.
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