O "ala" Nicolás Gaitán

A necessidade de tornar o argentino um jogador de ala

16:40

Quarta-feira, 3 Novembro de 2010 por Phant

Uma das boas surpresas da noite de ontem, na Luz, foi a exibição do argentino Toto Salvio que, na ausência de Pablo Aimar, avançou para o onze e deu muito boa conta de si na meia direita do ataque encarnado. Um jogo pleno de raça e atitude do número 8 argentino que mostrou que pode ser uma possibilidade real para integrar o onze titular.

Vem esta boa exibição de Salvio a propósito daquilo que me parecem ser as funções naturais de um jogador que actua na linha média do Benfica, seja na ala esquerda ou na ala direita. O que a seguir apresento são dois heat maps que registam os espaços ocupados por Gaitan e  Salvio em ambos os jogos já disputados, esta época, frente ao Lyon na Liga dos Campeões.

 

Lyon 2-0 Benfica - Nico Gaitán (ataque da esquerda para a direita)

Benfica 4-3 Lyon - Toto Salvio (ataque da direita para a esquerda)

Estes heat maps permitem avançar para uma análise de desempenho abrangente mas não é aí que quero chegar, pois nem se trata de uma análise a jogos com as mesmas características. O importante aqui é que o mapa regista, numa escala do amarelo ao vermelho (da menor para a maior intensidade), as regiões onde os jogadores tiveram posse de bola o que permite ter uma noção mais ou menos exacta dos espaços que ocuparam .

O que quero fazer ver é o seguinte: enquanto o Salvio se desdobrou em várias tarefas, movimentando-se em grande parte da faixa direita do campo, lutando pela bola atrás e avançando com ela até próximo da linha de fundo, o Gaitán não passou uma única vez a linha de três quartos do campo, tendo sido menos participativo, também, em zona defensiva.

Bem sei que os jogos escolhidos não são ideais para retirar grandes conclusões mas o essencial aqui está na movimentação do Gaitán e não no seu desempenho. Um ponto que muito lhe critico é ele procurar pouco a linha de fundo e privilegiar o cruzamento de zonas mais atrasadas e sempre de pé trocado (na esquerda procura o pé direito, na direita procura o pé esquerdo). Penso, sinceramente, que fazer um esforço para tornar o seu jogo um bocadinho mais vertical (não sei se são instruções do Jesus) traria grandes melhorias no seu rendimento, ele que, claramente, não está formatado para jogar na ala.

Na minha opinião, deve ter como objectivo privilegiado das suas acções o aproximar-se da linha de fundo, indo para cima do defesa, usando e abusando do cruzamento, ponto onde sabemos que é forte. Reparem que digo privilegiar e não monopolizar o seu jogo ao que refiro. Não tenho dúvidas do talento do jogador e também sei que é missão do Benfica ajudar a limitar as resistências que impedem esse talento de vir ao de cima. Ensinar-lhe movimentações de jogador de ala só o ajudaria a crescer dentro do campo e dentro da equipa porque, tenho quase a certeza, se tornaria um jogador mais influente e mais confiante. O resto, mais atitude e mais vontade na procura da bola e nas acções defensivas, só depende dele próprio. Ele que saberá melhor que ninguém da importância deste ponto para se afirmar definitivamente no futebol europeu.

Esta análise não é definitiva (o Gaitán já terá feito jogos muito melhores do que aquele em Lyon) mas dá uma ideia daquilo que falta ao argentino para se tornar um jogador mais influente na manobra encarnada. Penso, sinceramente, que este formatar do jogador a extremo seria uma excelente solução tanto em termos individuais como em termos colectivos, ajudando-o a ele e, claro, ajudando a equipa.

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