Não aguentava mais tempo sem escrever este texto. Desde que a época acabou para o Benfica que a revolta não tem parado de crescer, até a um ponto que é para mim insustentável, me consome excessivamente e me retira até a vontade de ser cordial com quem à minha volta se relaciona.
Escrevi e reescrevi muitas vezes este texto, pois nenhuma abordagem me parecia minimamente satisfatória, com um fio condutor perceptível e lógico. Acho que nunca tinha tido tanta dificuldade em escrever como desta vez, e isso também já diz tudo sobre o meu estado de espírito actual…
A reflexão que tenho para fazer é uma reflexão a meias entre aquilo que é a minha relação com o Benfica, e aquilo que é o Benfica hoje em dia. E aqui tenho de começar pela segunda parte, pois é fundamentalmente aquilo que é o Benfica hoje em dia que condiciona a minha forma de viver o clube, de o seguir, de tentar até fazer algo para mudar um status quo que me desagrada profundamente.
E o que é o Benfica hoje em dia?
Para alguém tão apaixonado como eu é difícil de definir de uma forma 100% objectiva. Já foram muitas noites sem dormir, muitas devido às vitórias, um número muito superior pelas derrotas, muitos quilómetros feitos, muito dinheiro gasto desde quotas, a bilhetes, lugares cativos, merchandising, equipamentos, etc. Mas ainda assim mantenho alguma capacidade de me distanciar para observar a realidade a partir de um prisma suficientemente revelador.
Para fazer o retrato do Benfica dos dias de hoje, tenho de recuar ao passado. Sou Benfiquista por causa do meu pai, que apesar de não ser nos dias de hoje um fervoroso adepto, sempre me encaminhou para gostar do Benfica, mesmo nos tempos em que iniciei a formação primária então na Bélgica e onde a maior parte dos meus colegas eram, já na altura, portistas. Estou a falar do início dos anos 90.
As minhas primeiras memórias do Benfica são sobretudo de três jogadores: Vítor Paneira, Isaías e João Vieira Pinto. Quando voltei para Portugal, em meados dos anos 90, o caos já se instalara no clube. Damásio e Artur Jorge destruíram uma equipa campeã, e o Estádio da Luz chegou a ter jogos com 5.000 pessoas a assistirem. O clube estava completamente moribundo. Comecei a ir ao Estádio com mais frequência, pela mão dos meus pais e já acompanhado do meu irmão, quando Vale e Azevedo abriu o Benfica aos Benfiquistas, às famílias. Jogos sempre à tarde, preços convidativos para famílias inteiras. Até os equipamentos do Benfica eram baratos, dava para comprar desde as meias à camisola por um preço comportável. Fiz-me sócio orgulhosamente com 13 anos de idade, e por essa via ainda mais fácil ficaram as idas ao Estádio.
E ir ao Estádio era maravilhoso. A nossa equipa era uma desgraça, se exceptuarmos a primeira época de Souness em que praticámos um futebol vistoso, de qualidade. Mas havia muito para lá disso. Havia uma irreverência nas bancadas que não tolerava displicências, um saudável convívio que não se esbatia se alguém por mero acaso entornasse uma garrafa de outra pessoa. Podia acontecer a qualquer um, e no fundo sendo todos nós Benfiquistas, não fazia sentido criar-se uma escaramuça por algo tão banal, quando era o transcendental que nos unia.
Depois veio Vilarinho, e a minha primeira grande decepção como Benfiquista. Já tinha passado pela dispensa do João Vieira Pinto, mas nada me custou tanto até à altura como a saída do Mourinho. Claro que eu não previa que ia sair dali o melhor treinador da história, claro que eu não fazia ideia se íamos ser campeões naquele ano com aquele plantel tão fraco. Mas via-se algo muito profundo naquela equipa. Identidade, união, galhardia. Muitos portugueses, vários da formação, um treinador que vibrava no banco como um adepto, um futebol que melhorava de jogo para jogo após um início complicado. E depois, de súbito, Mourinho saiu.
O primeiro capítulo do meu Benfiquismo foi encerrado no dia 22 de Março de 2003. Eu estava lá, junto daquela baliza onde Simão Sabrosa marcou o último golo da velha Luz, perto da obra do novo estádio que já havia decepado uma parte da curva Sul do Estádio. O Benfica ganhou esse jogo com o Santa Clara, mas eu vim para casa completamente arrasado. Aquele monstro de betão ia cair por terra. Todo o ritual que havia conhecido durante anos ia deixar de existir. Os treinos na Luz, os jogadores a passarem pelo meio dos adeptos para se irem equipar, as rampas de acesso ao terceiro anel, as sombras das árvores à volta do Estádio, a nossa loja oficial tão modesta mas sempre tão acolhedora. O pavilhão Borges Coutinho, que em dias de jogos das modalidades e de futebol muitas vezes estava tão cheio que muitos espectadores assistiam da porta. Aquela entrada triunfal do Estádio, com a Estátua do Eusébio a marcar aquilo que era a fachada de um dos maiores estádios de sempre do Mundo do futebol.
Tudo isso acabou. Para mim foi uma traição enorme, e nunca perdoarei aos patrocinadores do novo Estádio nem aos Benfiquistas que aquele monumento fosse deitado abaixo. Estava velho, a precisar de obras e tinha uma manutenção caríssima. Só havia uma opção razoável: renovar. Ainda hoje o Real Madrid sobrevive no Santiago Bernabéu, que aliás vai passar por mais uma renovação. Mas nós em Portugal achámos que destruindo a história dávamos um passo em frente. E assim se fez… vendeu-se grande parte do complexo desportivo, onde hoje existem dezenas de prédios, e acantonámo-nos num terreno minúsculo encravado entre a Avenida Lusíada e a 2ª Circular, onde construímos um estádio bonito, é certo, mas que nem poderá almejar a receber a final da Liga dos Campeões por exemplo.
O Benfica enquanto o novo estádio não foi inaugurado, veio jogar para perto de minha casa, para o Jamor. Mas a traição foi de tal ordem que nunca fui ver um jogo que fosse aqui ao lado… e moro como morava na altura a 5 minutos a pé do Estádio. Não assisti à inauguração do novo estádio, não quis saber do Benfica durante 2 ou 3 anos. O Benfica foi campeão, fez uma boa prestação na Champions no ano seguinte, mas nem assim voltei a ganhar coragem para ir à Luz.
Entretanto acabei por voltar à Luz, bastante a medo tenho de confessar, e por lá voltei a ficar. Retomei as quotas, comprei um lugar cativo, e voltei a estar de corpo e alma na nossa Catedral. Que já não era aquela que me satisfazia, mas que era o que havia…
Em relação ao Benfica dos dias de hoje, a mistura de sentimentos é algo que me confunde brutalmente. Por um lado, o meu amor continua a ser infindável… há milhares tão Benfiquistas como eu, mas não há ninguém mais Benfiquista que eu. Aquele símbolo, a águia, o vermelho e branco, o hino do clube… tudo me diz tanto que é impossível ignorar a importância que o Benfica tem para mim. Mas por outro lado, olhando para o clube, sou muito sincero… praticamente tudo me desagrada e começo a ter sérias dificuldades em encontrar algo que me prenda emocionalmente como antigamente. Digo-o com o maior dos desgostos.
Comecei a viver o Benfica numa época muito conturbada como já tiveram oportunidade de ler. Havia pouca gente no Estádio, os treinadores duravam seis meses, não haviam cadeiras individuais no Estádio, quando chovia molhava-me lá, cresci a ver jogar craques como Tahar, Rojas ou Michael Thomas, o Benfica tinha ordenados em atraso, contas bancárias congeladas, e muito mais coisas negativas. Mas tinha uma chama que a mim me seduzia. A direcção dispensava o João Pinto, e a sala de imprensa da Luz era invadida por centenas de sócios em fúria. As Assembleias-Gerais, à 6ª à noite, enchiam o nosso pavilhão nem que fosse “só” para votar um orçamento. Mas as pessoas iam lá por muito mais. Tinham ideias para apresentar, outras para rebater, e sentiam necessidade de lá ir. Inscreviam-se centenas de sócios para falar, a paixão era tanta que não raras vezes a violência apareceu. Mas era um clube com uma massa adepta muito viva, isso é indesmentível!
Actualmente, temos um Estádio novo (que como já referi, dispensava completamente), temos um centro de estágio com condições fabulosas e uma localização ainda melhor, já não chove no meu lugar, o Benfica já não tem contas congeladas, e a nossa loja oficial já não é um cubículo enterrado no Estádio mas sim uma megastore luminosa na superfície comercial adjacente ao Estádio. Mas…
Hoje em dia a Luz é um local asséptico. Já não se transpira aquela mística de outros tempos. A estátua do Eusébio já não é mais o cartão de visita de uma majestosa entrada (que este Estádio não tem), e já não há árvores para fazerem sombra aos piqueniques antes dos jogos. Hoje em dia é pecado capital dentro do Estádio alguém se levantar com o nervosismo. É mandado sentar, com caras feias, por outros Benfiquistas.
As Assembleias-Gerais já nem são à sexta-feira, e muitas decorrem no camarote presidencial, pois chega bem para as 50 ou 60 pessoas que lá vão. Em decisões fulcrais como a fusão da SAD com a Benfica Estádio ou como na aprovação de Estatutos, estão lá 100 ou 150 sócios. A única subida do tom de voz nestas assembleias é quando um qualquer Pedro Guerra tem uma erecção no palanque a exaltar os feitos divinos do actual presidente, mesmo que isso fuja ao tema das intervenções. Hoje a direcção, jogadores e técnicos poem e dispõem do clube sem que ninguém entre na sala de imprensa ou, sequer, se faça ouvir na televisão do clube.
O Benfica de Borges Coutinho ou, para citar exemplos mais recentes, de Jorge de Brito, deu o lugar ao Benfica de homens como Vale e Azevedo ou Vilarinho. Deu lugar a pessoas como Luís Filipe Vieira, sócio do FC Porto e que no passado tanto pisou o clube enquanto dava os seus primeiros passos como presidente do Alverca e era assíduo convidado da tribuna do Estádio das Antas. Os sócios perderam a honra e o respeito por si próprios. Exorcizaram do clube pessoas como Abílio Rodrigues, Manuel Boto, Luís Tadeu ou Jaime Antunes, para criarem uma fileira de Guerras, Colaços, Vieiras e outros que tais.
Hoje quem critica algo neste clube, é de imediato apelidado de abutre e de outras coisas piores. Eu próprio preparei uma intervenção minha numa assembleia-geral, porque falava essencialmente de números e essas coisas não se podem falar de cor, e não faltou quem na plateia perguntasse se aquele jovem que estava a falar era pago pela oposição para dizer aquilo. Mas já ninguém acredita no Benfiquismo descomprometido e apaixonado? E isso da oposição é hoje em dia algo de errado? Algo pecaminoso? Não somos nós o clube dos valores da liberdade, da pluralidade, do debate? Porque agem assim os Benfiquistas?
Hoje o Benfica tem estatutos aprovados pelos sócios, e propostos pela direcção, que são o maior atentado de sempre à nossa história e aos nossos valores. Ao fim e ao cabo, criaram-se condições para se oficializar o Benfica como o feudo de algumas personagens obscuras que tomaram de assalto o clube e o expõem a ridículos que eu dificilmente engulo. Sejam resultados desportivos humilhantes, sejam problemas financeiros para os quais há muito alerto e que continuam ignorados pela maioria.
Aquilo que me desconforta mais é ver que o Benfica que se caracterizava pelo trabalho de todos em prol do clube, que se caracterizava pela humildade, pela honra de sermos os mais puros e os mais honestos, está hoje transformado numa paródia. A arrogância de quem se julga por natureza melhor que os outros clubes. Os maiores, o clube com mais sócios, com mais adeptos, e outros predicados bons para encher a boca durante discursos ocos e contrários à nossa história. Nunca fomos clube para nos exaltarmos perante os outros, mas sim um clube que sempre trabalhou para si mais, e mais, e mais… ganhando, respeitando e querendo ganhar mais outra vez!
O Benfica é hoje um clube burguês. As pessoas já vão ao estádio como quem vai ao cinema, vêem o Benfica como entretenimento, e que lhes dá gozo se ganhar, que lhes é mais ou menos indiferente se isso não acontecer. Um clube que abdicou do esforço, da superação, para abraçar a soberba e a fanfarronice, tentando atropelar adversários com a sua grandeza em vez de os tentar bater pelo seu mérito. Um clube que trocou títulos no campo por obras que muitos outros clubes também fizeram nesta última década, como o novo Estádio ou o Centro de Estágios. Tudo isso é bom e até fundamental para as vitórias futuras, mas será que são feitos assim tão grandes? Feito era terem sido erguidos e o Benfica pouco ter pago, como aconteceu na construção da velha Luz em que cada Benfiquista deu um pouco de si para erguer aquela Catedral. Hoje não é assim, e das obras ficaram dívidas que agora temos de pagar com muito custo.
Abdicámos dos jogadores nacionais, porque achamos bastante saloio isso de termos Sílvios, Joões ou Miguéis no plantel. É muito mais engraçado termos Fernandez, Sidneis e outros que tais, nomes de craques e pagos a peso de ouro, vindos de fora e não de um qualquer Barreirense ou de outro clube qualquer de uma terra de trabalho. Num clube que ainda há três décadas proibia estatutariamente o recurso a estrangeiros, é incrível olharmos para o plantel e vermos apenas dois jogadores na selecção nacional. É isto que os Benfiquistas continuam a aplaudir?
Não me consigo rever em assobios estéreis a estrangeiros que vestem a camisola do Benfica sem saberem o que isso significa. A culpa não é deles, mas é de uma estrutura que não existe e devia existir. De uma estrutura que deixa ao abandono os seus jogadores e famílias, não quer saber se precisam de alguma coisa neste país que não é o seu, que não puxa de regras claras de conduta para incrementar a responsabilidade, que não paga prémios a tempo e horas aos seus campeões, que não lhes incute o espírito e a sede de vitória. Que não mantém sequer portugueses suficientes para, por osmose, transferirem tudo isso para os estrangeiros. Os portugueses vivem cá, sabem o que é o Benfica, e se a carreira cá lhes correr mal, depois de abandonarem o futebol cá continuarão para ouvir os cidadãos falarem deles. Têm por isso uma responsabilidade natural e assumida para se esforçarem, darem o litro! Mas o Benfica despreza isto!
Custa-me muito ver um clube em que mais facilmente é vangloriado numa casa do Benfica um tipo asqueroso como o Pedro Guerra, do que é reconhecido em Coimbra em plena final da Taça da Liga um ídolo como o nosso Vítor Paneira! As pessoas perderam a noção de quem nos fez grandes.
Custa-me ver um clube cujos presidentes se sucederam de dois em dois anos mesmo em períodos de fortes desempenhos desportivos, a fazer um culto de personalidade ao actual presidente, que além do seu passado anti-benfiquista acumula nomeações de portistas e sportinguistas para a estrutura do clube e da SAD, que tem um passivo galopante e que é especialista em… perder! Perder, perder, perder! Na sua estadia no Benfica já vi mais vezes o Porto erguer troféus europeus do que o Benfica ganhar campeonatos nacionais, neste que é já o segundo mandato mais longo de sempre da nossa história.
Tento fazer ver tudo isto aos meus caros consócios. Umas vezes de forma mais racional, outra de forma mais emocionada. Mas este Benfica já não descola das cassetes. É a herança de Vale e Azevedo (já alguém percebeu que já lá vão 11 anos e que o nosso passivo quintuplicou desde então?), são os abutres que dizem mal da direcção, são os treinadores todos que não prestam, os jogadores que deviam vir da América do Sul a dizerem que são Benfiquistas desde pequenos, são os árbitros, etc. Tudo, menos exigir responsabilidades ao topo! Topo que se dá ao luxo de admitir à televisão do clube que perdeu devastadoramente um ano de enorme investimento porque andou o ano todo a festejar um título ganho, tudo isto dito sem haverem consequências depois, e perante o aplauso generalizado.
Estou a chegar a um ponto em que muita coisa no Benfica me mete nojo. Quando vou às Assembleias-Gerais, venho de lá com uma azia maior do que quando o Benfica perde. Olho para o meu lado e vejo 90% dos sócios a receberem as contas, a pousarem-nas nos joelhos sem as abrirem, e a votarem incondicionalmente a favor. A única coisa que devia ser incondicional é o amor ao Benfica… tudo o resto devia ser mais do que condicional!
Eu por exemplo condiciono o meu apoio a quem serve o Benfica à competência demonstrada, aos resultados, aos valores morais e éticos que demonstram, e por aí fora. O que nunca belisca que em relação ao Benfica seja um incondicional adepto!
Estou farto de ver o meu clube em jogos reles para forçar rescisões com quem contratou de livre vontade, com quem assinou contratos longos, só porque se enganou no casting. O Benfica tem de assumir o que faz, e os dirigentes devem dar a cara por isso. Não é ostracizando atletas, pondo-os a treinar à parte, que se resolvem as coisas. Não é a desligar luzes e a ligar a rega que se criam condições para sermos melhores no futuro. Só estamos a cavar a nossa sepultura, se não tivermos a coragem de ver os outros ganhar quando nós não estamos à altura sequer de defender a nossa honra num jogo caseiro com o principal rival!
Não é com a venda de um complexo anti-Porto que lá vamos. Nós não somos contra nada, nós somos o Benfica e isso devia bastar! Temos de o ser nas atitudes e não só nas palavras.
Em suma, vejo hoje no Benfica muito menos condições para se ter um futuro risonho do que há uns anos. Além da questão financeira que me preocupa, o Benfica já não tem hoje a mesma massa adepta exigente, interventiva, alerta. Hoje o seguidismo impera, a resignação é palavra de ordem e em último caso culpa-se algo externo ao Benfica pelos fracassos. E quando a massa adepta começa a dar sinais de fraqueza, então algo de muito grave se está de facto a passar. Uma coisa é sermos pisados em campo, perdermos campeonatos, vendermos jogadores para compensar problemas financeiros, etc. Outra coisa é a massa adepta estar alienada, hipotecada e distante da grande, exigente e muito valiosa massa adepta que fez deste um grande clube.
Os meus choques com esta massa adepta começam a ser demasiados. No estádio, em assembleias, em esplanadas, em fóruns ou em blogs. Eu continuo a defender e a reger-me pelos valores de Cosme Damião, algo que olhando à volta manifestamente a maioria já nem reconhece, quanto mais praticar…! Todo o Benfica mudou, deixou de ser um clube trabalhador e humilde, para passar à fanfarronice, arrogância e burguesia que aliás fez com que por exemplo o Sporting deixasse muito cedo na sua história de ser o melhor clube nacional. Vamos pelo mesmo caminho…
Que me desculpem o Shéu Han, o Chalana, o Ruben Amorim, o Nuno Gomes, o Carlos Martins, o Moreira ou até o Rui Costa, mas se este ano o Fábio Coentrão sair da equipa de futebol, então o pouco em que me revia absolutamente no Benfica deixa de existir. Aquela garra, aquele amor à camisola, aquela galhardia, aquela lealdade… enfim, aquele Benfica que cada vez menos existe! O meu texto vem bater num único jogador, mas isso já diz tudo sobre o Benfica e funciona como súmula do muito que já escrevi. Quando num clube tão imenso como o Benfica, todo o nosso legado histórico, moral e desportivo está concentrado num único jogador, então o clube está gravemente doente.
E está doente, como doentes estão os seus adeptos. Com os quais já não tenho estômago para dividir o mesmo espaço. Sinceramente. Estou cada vez mais consciente de que amo um clube que não existe, pelo menos enquanto algo (o quê?) não acordar toda a massa adepta. Não sei se chegará mudar de presidente, embora uma direcção à Benfica fosse sem dúvida algo fundamental e para já. Sei que nessa altura, eu cá estarei como sempre para abraçar o clube que sempre amei. Não me peçam é para gostar deste clube que existe agora. Sim, partilha o nome, o símbolo e a história, mas não é o mesmo.
Para onde vais, Benfica? Para onde te levam? Quando a maioria quiser finalmente acordar, cá continuarei à espera para retomarmos a história que nunca devia ter sido interrompida. Até lá, espero que compreendam a minha pausa. A dor é demasiada, não tanto pelos resultados desportivos mas por tudo o resto de que já falei. Chegou a um ponto em que não a consigo mais suportar, e não vejo que suportá-la seja minimamente útil para mudar o rumo dos acontecimentos. A minha consciência diz-me que tudo o que estava ao meu alcance foi feito. Tentei alertar nas reuniões magnas do clube, em blogs, em fóruns, em cafés. Manifestei-me, tentei reunir pessoas à volta de algo que pudesse germinar para mover montanhas… não sendo eu um notável, sendo jovem e sem recursos para mais, chega a altura de me afastar um pouco e esperar que um dia o bom senso impere.
Colocarei as quotas em stand-by se o rumo directivo continuar a ser este. Porei de lado todos os meses o dinheiro das quotas para no futuro recuperar a minha filiação. O cativo talvez fique a arder já este ano, e que fique claro que não é por causa de resultados desportivos. Na época do Quique fazia eu de 15 em 15 dias 600 quilómetros para estar no meu lugar a ver desgraças épicas, como tantas outras nestes últimos 15 anos. É mesmo pelos valores do clube que mudaram demasiado para o meu estômago.
Já sabes Benfica… se um dia te deixarem de novo sonhar com outros episódios estarei cá. Nem que seja para subscrever uma nova operação coração, que não foi vergonha nenhuma e apenas mostrou que em tempos os Benfiquistas ainda tinham um papel importante na construção do clube, mesmo em momentos trágicos como a falta de dinheiro para salários. Até lá, perdoa-me, mas já não consigo mais… estou exausto e sem forças para continuar a remar contra a maré.
Até um dia.