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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Para o meu Benfica


O Benfica faz hoje 107 anos, e comemora-os na altura de maior orgulho e maior pujança de que me lembro. Joga bem, dá espectáculo, luta com galhardia, honra os adeptos, os adeptos amparam a equipa, enfim… tudo o que temos visto!

Nunca é fácil falar do que representa algo como um clube, cujo sentimento associado é tão profundo e alojado no subconsciente, que se torna difícil de representar por palavras. Mas vou tentar.

O que é o Benfica para mim, porque lhe agradeço e porque festejo o seu aniversário?

Benfica é a maior congregação de sentimentos que conheço – alegria, tristeza, euforia, depressão, amor, amizade. É a maior fábrica de sonhos do nosso país, a maior instituição portuguesa, a maior reunião absolutamente voluntária de pessoas num país tão pouco dado a associativismos.

O Benfica é paixão, glória, superação, honra, dignidade, esforço e trabalho. Valores indissociáveis da minha vida, e o mais incrível é serem comuns a tantos milhares de pessoas, a tantos milhões. Numa sociedade tão fria e que distancia tanto as pessoas, é admirável como um símbolo faz remar tanta gente para o mesmo lado, coloca tanta gente a sofrer lado a lado, tantos a partilharem o êxtase. O Benfica retira-nos as artificialidades que o dia-a-dia molda, e devolve-nos a criancice – durante aqueles 90 minutos, não somos mais as pessoas obcecadas com responsabilidades, com a seriedade do quotidiano, com as etiquetas que a sociedade que cultivamos e ao mesmo tempo que não gostamos nos impõe. O Benfica mostra-nos ao fim e ao cabo o bom que é sermos seres humanos. Podermos rir, chorar, saltar, abraçar, cantar e celebrar sem constrangimentos, sem olhares censores e sem direito a correcções patrocinadas pelo socialmente aceitável.

O Benfica é festa, é liberdade e comunhão. De Norte a Sul do país, do árido golfo pérsico ao frio siberiano, os adeptos fazem romarias para poderem estar junto dos seus. Dos seus jogadores e dos outros adeptos, amigos implícitos e nunca renegados, antes assumidos e acarinhados. Chegar ao Estádio da Luz, mesmo quando não há jogos, e ver por ali pessoas atentas ao jornal do Benfica, na fila para comprarem bilhetes, ou a discutirem futebol no “3º Anel”, traz-me logo um grande sorriso à cara. Ao fim e ao cabo, todas aquelas pessoas me dizem muito, apesar de não me dizerem nada. Conheço-as todas sem as conhecer, seria capaz de ajudar todas elas e elas a mim, sem nunca nos termos visto antes. Há um laço entre nós, que não é de sangue mas é mais forte que isso, que nos ligou ontem, que nos liga hoje e que nos ligará amanhã.

A beleza de ver Portugal vestido de vermelho, a libertação dos enormes complexos que historicamente o nosso povo tem, a assumpção de uma grandeza que é compatível com os nossos sonhos e com os nossos desejos de realização, o poder ter cá dentro uma chama que nos aquece mesmo nos dias mais frios da nossa existência, é algo que não tem preço.

Nos dias da grande depressão porque passa Portugal, é bom saber que há mais vida para além das dívidas, do custo de vida, do preço dos combustíveis, até de um certo mal estar social que se sente nas ruas. Ainda existe o Benfica, qual referência civilizacional que estabiliza emocionalmente milhões de pessoas, capaz de nos transformar em pessoas ambiciosas, confiantes e abertas.

Os incontáveis amigos que já fiz, as incontáveis noites passadas a ver o Benfica, aquelas tardes maravilhosas quando pela mão dos meus pais me encantava com o gigantismo da antiga Catedral, as viagens para acompanhar a equipa, o nervoso miudinho antes de jogos importantes, as aulas a que faltei para poder ver os jogos… tudo isso fez de mim muito melhor pessoa. Tudo isso construiu e constrói a minha identidade.

Aquela sensação vulcânica de abraçar tantas pessoas no estádio que não conheço de lado nenhum, aquela magia que é chegar à bancada e cumprimentar tantas pessoas que lá vejo jogo após jogo, faça chuva ou faça sol, seja noite ou dia, estejamos em primeiro ou em segundo, numa onda de vitórias ou numa onda de derrotas. Aquelas viagens nocturnas do Porto para Lisboa só para ver jogar o Benfica, muitas vezes mal, mas a que não conseguia faltar. Tanta coisa…

Por tudo e por nada, pelas vitórias, pelos empates, pelas derrotas, pelos amigos, pelos jogadores, técnicos e dirigentes, pelas chuvadas que apanhei, pelo Sol que me escaldou, pelo dinheiro que gastei, o tempo que perdi e os quilómetros que fiz, pelas pessoas que abracei, pelas pessoas com quem chorei, pelas pessoas com quem saltei, pelas pessoas com quem cantei, pelas pessoas com quem falei, muito obrigado Benfica! Muitos parabéns, e cá continuaremos todos por muitos e bons anos fazendo de ti o que sempre foste, és e serás!

8 comentários:

Aterrador, empolgante, sublime!

Obrigado por escreveres tal e qual como eu penso.......é o melhor post que li nos meus 51 anos.....PARABENS!!

Excelente texto, muitos parabéns ao autor e muitos parabéns BENFICA!!!

Texto sublime que retrata tudo o que me vai na alma. Este amor que te tenho BENFICA é eterno... nasceu em mim quando despertei para a vida e levarei na alma para a eternidade!!!

Grande texto... das poucas coisas que ainda amo no meu país, esteja eu onde estiver, levarei sempre comigo o amor eterno que tenho pelo nosso Benfica.

Train, eu bem dizia.

Merecias receber um comboio só para ti nos teus anos.

Lindíssimo texto Train.

Fiquei emocionado.

Que texto fantástico, muito bem! O Benfica é isto, de facto!

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