A tarde em que a expressão «alto e tosco» perdeu o seu
significado. Não perca, este domingo pelas 17:15 horas, o Benfica v Nacional da 8ª jornada do campeonato nacional da primeira divisão.
«Prémio Nobel da execução […] genial lance
que proporcionou o golo […] Fintas, simulações, dribles e entrega perfeita ao
companheiro». Esfrega os olhos e volta à realidade. Não sabe bem de onde veio,
ou de que tempo veio, mas um conjunto de frases soltas estão em ricochete
constante na sua memória. É isso: tarde amena de futebol na Luz, uma entre
tantas outras, vitória escassa mas segura com um lance genial a originar o
único golo da tarde. Mas lance genial de quem? Do Benfica, pois claro, mas
protagonizado por quem? Não consegue lembrar-se. Concentra-se, faz mais um
esforço, mas nada.
Por esta altura está o leitor também a puxar
pela memória, mas sem mais pistas é difícil acercar-se da resposta. Que raio de
maneira de começar um texto. Pois então vamos lá: 1989 foi o ano, Nacional da
Madeira o adversário. 1989… Lance de génio… (já sei, já sei) … Valdo de
certeza; ou então Paneira, só pode! Parece óbvio, não parece? Mas não é. Naquela
tarde de futebol na Luz, o verdadeiro protagonista foi um nórdico, alto e loiro
nascido 26 anos antes em Helsingborg, Suécia. Mats Magnusson, pois claro.
Num Abril que recebera a Primavera de braços abertos,
o Sport Lisboa e Benfica defrontava então o Nacional da Madeira em mais uma jornada
do nacional da 1ª divisão, tentando manter o status quo do campeonato,
isto é, a vantagem de seis pontos que detinha sobre o segundo classificado. E
assim aconteceu. Duas vitórias pela margem mínima (do Benfica na Luz e do FCPorto em
Chaves) deixavam tudo na mesma na frente da tabela, mantendo os encarnados um
inquestionável favoritismo (depois confirmado) nas contas do título.
Os nacionalistas, orientados por Paulo Autuori, foram a jogo apostados em dificultar a vida ao provável campeão e a verdade
é que a muralha erguida em frente da baliza madeirense (guardião Gilmar incluído) apenas foi completamente ultrapassada vez. A estratégia era simples: Tito e Ladeira mantinham Magnusson e Vata sob
vigilância apertada; as pedras do sector intermediário emperravam Ademir, Valdo e Paneira; o jogo ofensivo encarnado ressentia-se. Por um lado até resultou, mas por outro o Benfica foi sempre a equipa que melhor
qualidade de jogo apresentou em campo e Magnusson estava em tarde de gala como provou ao minuto 26. Numa jogada plena de tecnicismo, o sueco sacou de toda a sua genialidade e assistiu Vata para o golo, provando perante uma plateia entusiástica que
de tosco não tinha nem um bocadinho. Grande jogada do sueco e 1-0 para o Benfica!
Com o momento do jogo ultrapassado e o título de melhor em campo atribuído a Magnusson (que ainda teve tempo de juntar ao lance do golo uma mão cheia de jogadas da mais requintada nota artística),
restou deixar passar o tempo e confirmar menções honrosas para as exibições de Samuel (impecável ao lado de Ricardo) e Valdo (a classe do costume). Do
lado do Nacional, merecido destaque para a notável exibição do seguríssimo Gilmar (o principal responsável
pelo magro 1-0) e para um tal Dino Furacão que, sem que ninguém o soubesse, deixava
um pré-aviso aos Benfiquistas para aquilo que faria anos depois no velhinho Mário
Duarte num malfadado jogo que (contas feitas) roubou ao Benfica mais um título de
campeão. Mas essa tarde em Aveiro o melhor mesmo é não recordar.
TEXTO BASEADO E ADAPTADO DA EDIÇÃO DO DIÁRIO DE LISBOA DO DIA 17/04/1989.