FOTO: ARCHIVO FUTBOL
Quando o Benfica se estreou na Amoreira com
uma vitória. Não perca, este domingo às 20:15, o Estoril v Benfica em mais uma
jornada do campeonato nacional.
Outubro de
1944. Enquanto a guerra ecoava lá longe e os aliados conseguiam importantes
avanços sobre as forças alemãs, em Portugal um domingo de outono era sinónimo
de folhas amarelecidas e castanhas assadas, mas também de futebol. Em mais uma
jornada do Campeonato de Lisboa, o Benfica do húngaro János Biri deslocava-se
ao campo da Amoreira para defrontar um Estoril-Praia que pela primeira vez
militava na divisão maior do campeonato regional da capital.
Esperava-se
um obstáculo difícil de ultrapassar para a equipa de encarnado vestida, mas
feitas as contas o Benfica venceu com relativa facilidade numa tarde em que o vento foi o
principal adversário de duas equipas que queriam jogar bem e não conseguiam. E
se alguém mereceu uma estatueta dourada por ter tentado fazê-lo afincadamente desde início,
esse alguém foi o pequeno e irrequieto Pires, o grande inspirador do triunfo
benfiquista. O pontapé de saída pertenceu, assim, ao Benfica e nem meio minuto após o
jogo se ter iniciado já a bola entrava redonda na baliza de Valongo. Ataque encarnado
pela esquerda e imediatamente golo para surpresa de todos, obra
de Pires, claro está. Inspirados pela vantagem, os jogadores encarnados continuaram a carregar no ataque e ao minuto cinco apareceu mais um
golo, o segundo da conta benfiquista. Foi mais uma vez Pires que, solicitado
por Julinho, logrou meter a bola no fundo daquele rectângulo ao fundo do campo,
contando desta vez com a ajuda de Éolo. Os deuses eram encarnados.
Dois golos
em cinco minutos, mas não se julgue que ficamos por aqui. Recomeçada a partida,
o Estoril teve o seu melhor período em todo jogo e conseguiu mesmo reduzir.
Raúl Silva passou por César Ferreira e Moreira, meteu a bola na frente, e
Lourenço, «acorrendo lesto», fez o golo perante um impotente Martins. 1-2 no
placard e jogo relançado. Ou talvez não. O Benfica voltou imediatamente ao
ataque com Julinho a comandar as tropas e a solicitar, de cabeça, Teixeira para este fazer um grande
golo. O relógio marcava na altura apenas onze minutos e estava
feito o resultado final sem que, no entanto, ninguém o soubesse. Referida esta informação,
torna-se quase inútil o resto da prosa mas continuemos. O tempo que faltava até ao fim da
primeira parte, o Benfica jogou-o todo no meio-campo estorilista, com Francisco
Ferreira, Julinho e Rogério sempre em evidência vendo os seus remates serem
parados à vez pelo poste, pelo guardião Valongo e pela sua falta de pontaria.
No segundo
tempo, aguardava-se a reacção do Estoril-Praia mas ela não chegou a aparecer. O
jogo foi mais dividido, é certo, mas mesmo com o vento a varrer o campo na direcção
da baliza de Martins, a procura de oportunidades de golo por parte dos
estorilistas foi muito superior à oferta, e como o Benfica não carregou tanto
no ataque, tudo ficou como estava. E se me permitem, ficou bem. Ganhou o
Benfica logo no começo porque era melhor e assim tinha de ser. Terminado o campeonato, os comandados
de János Biri veriam o rival Sporting festejar a conquista do Campeonato de
Lisboa com dois pontos à maior, mas os papéis inverter-se-iam no final da época e aí seria o Benfica a festejar a conquista do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, por sinal o sexto título
da sua já então bonita história.
TEXTO BASEADO E ADAPTADO DA EDIÇÃO DO DIÁRIO DE LISBOA DO DIA 23/10/1944
TEXTO BASEADO E ADAPTADO DA EDIÇÃO DO DIÁRIO DE LISBOA DO DIA 23/10/1944
2 comentários:
Quando o Benfica era Benfica!
Quando o Benfica era Benfica!
Eso es bueno! Gracias por compartir
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