FOTO: ABOLA
Quando César Brito calou as Antas ajudando o Benfica a dar um passo
decisivo rumo a mais um título nacional. Não perca, este sábado pelas 20:30
horas, o confronto entre FCPorto e Benfica a contar para a 29º jornada do
campeonato nacional.
Minuto 81 de um clássico jogado
numa tarde inesquecível de primavera. César Brito dirige-se para o centro do
relvado e prepara-se para entrar em campo, camisola vermelha para dentro dos calções brancos, 15 nas costas e
símbolo do Benfica junto ao coração. A aparência carregada de concentração não
deixa antever aquilo que se seguiria. César estava a poucos minutos do melhor
momento da sua carreira de futebolista.
Estávamos, como o leitor
certamente já adivinhou, na longínqua época de 1990/91. O Benfica, orientado
por Sven-Goran Eriksson, chegava às Antas na liderança do campeonato com um
ponto de vantagem sobre o FCPorto. A quatro rondas do fim, o clássico foi
apresentado como decisivo e o clima que rodeava a partida remetia para um
autêntico cenário de guerrilha. Onze dias antes, ambas as equipas se tinham
defrontado para a Taça de Portugal com a vitória a sorrir aos azuis e brancos por
escassos 2-1 – golos de Domingos e Rui Águas – num jogo marcado pelas muitas
queixas do Benfica em relação ao trabalho do árbitro Rosa Santos. Também a
nomeação de Carlos Valente, árbitro setubalense que dirigiu o jogo naquela
tarde de Abril, esteve no centro da polémica. Muito contestado pelo Porto, foi
falsamente posto a circular na altura que o juiz tinha viajado, desde Lisboa,
no mesmo comboio que transportava a equipa do Benfica. Como se isso fosse prova
do seu desvio para o encarnado. Não era e não foi. Durante o jogo, a pressão
dos responsáveis portistas sobre a equipa de arbitragem foi tal que ninguém se
sentava no banco de suplentes – não havia ainda quarto árbitro -, tendo havido
mesmo agressões no já famoso túnel das Antas, tanto ao intervalo como no final
do jogo. Talvez por isso, tenha ficado por assinalar um penalti de Aloísio
sobre Pacheco do tamanho da Torre dos Clérigos.
Do jogo propriamente dito, rezam
as crónicas que foi bem disputado, equilibrado, nervoso e emotivo. As
oportunidades escassearam e ambos os guarda-redes apenas se viram incomodados
em lances de bola parada ou em cruzamentos para a área. Durante grande parte do
tempo, entre quezílias e lances disputados no limite da agressividade, apenas
Rui Águas dispôs de uma grande oportunidade de desatar o nó atado pelo teimoso
zero-zero que se verificava. Falha de Aloísio em plena área portista e remate
fortíssimo de Águas para grande defesa de Vítor Baía. Era o sinal que o Benfica
estava nas Antas para fazer algo de bonito. E estava mesmo.
Regressemos ao minuto 81. César
Brito entra em campo com uma fé que só ele sabe e corre para a área; Paneira
avança pela direita em velocidade, detém o seu movimento junto à linha de
fundo, olha e cruza de forma tensa para o primeiro pau; César salta no meio de
três portistas e de cabeça, na primeira vez que a bola se chega a ele, desvia
para o golo do Benfica. Festa encarnada nas Antas, mas havia mais. Bola a
meio-campo, jogadores reocupam posições, joga e não joga e lançamento lateral para
o Benfica na meia esquerda; a bola chega aos pés aveludados de Valdo e o
brasileiro coloca-a na frente de César Brito de forma soberba; à aproximação de
Baía, César responde com um pequeno toque que faz a bola elevar-se por cima do
guardião portista e anichar-se feliz no fundo das redes. 2-0 para o Benfica no
decisivo clássico das Antas e a tarde era de César Brito – o título, saber-se-ia
mais tarde nos Barreiros, também. O covilhanense saltava pela segunda vez em
quatro minutos os placares de publicidade para ir festejar com os adeptos
benfiquistas situados atrás da baliza de Vítor Baía. Dois festejos e dois golos
dedicados à eternidade.
22 anos depois o cenário repete-se. Clássico na invicta com o Benfica líder com mais um ponto que o rival Porto, desta vez a apenas duas jornadas do fim. Na noite deste sábado, todos se vão lembrar de César Brito, todos vão querer ser César Brito, todos vão gritar e festejar Benfica como César Brito. Mais alto que nunca, rumo ao 33º.