Rubrica onde iremos analisar lances, jogadas ou momentos dos jogos do Benfica que, apesar de importantes, passam normalmente despercebidos a um olhar menos atento.
Voz aos escribas do Chama Gloriosa, para se pronunciarem sobre os mais diversos assuntos relacionados com o clube.
Sempre com a acutilância, independência e fervor Benfiquista que nos caracterizam.
Aqui vais encontrar jogos de todas as modalidades e os mais diversos programas de televisão sobre o Benfica. Não fiques fora de jogo e recorda tudo o que gravita à volta do nome Benfica!
Se não conheces a equipa que vai jogar contra nós no próximo jogo, não desesperes!
Temos pronto para ti um resumo da informação mais relevante sobre o adversário!
Quando a maldição do «Wankdorf» e a tenacidade dos
jogadores «encarnados» lograram ao Benfica a primeira Taça dos Campeões Europeus
da sua história. Não perca, esta quarta-feira pelas 19:45, o decisivo jogo
entre Barcelona e Benfica a contar para a fase de grupos da Liga dos Campeões.
1 de Junho de 1961, Lisboa. Eram
quase 19 horas e a expectativa na sala era grande. Excepcionalmente, a Rádio
Televisão Portuguesa começava a sua emissão mais cedo a fim de transmitir uma
reportagem em directo de um acontecimento inédito e bastante especial. No dia
anterior, no Wankdorf Stadium em Berna, uma bravíssima equipa do Benfica tinha
colocado o futebol português no topo da Europa ao vencer o Barcelona na final
da Taça dos Campeões Europeus por três bolas a duas. Essa brilhante equipa
«encarnada» chegava ao aeroporto de Lisboa pouco depois das 19 e 30.
31 de Maio de 1961, Berna. Após
um período de bastante frio, o bom tempo voltara à cidade mesmo a tempo da tão
aguardada final. Benfica e Barcelona defrontavam-se num «Wankdorf» que se
esperava lotado, tal como acontecera anos antes na final do Mundial de 1954
perdida pela Hungria de Puskas e Hidkeguti frente à Alemanha Ocidental por… três
bolas a duas (ah, as coincidências). Coincidências? Sim. À altura, duas das
principais peças daquela fabulosa geração húngara – campeã olímpica em 1952 e
vice-campeã do mundo em 1954 – jogavam precisamente no Barcelona e davam pelo
nome de Kocsis e Czibor. Para eles, como se veria no final, a maldição do
«Wankdorf» continuava bem viva e até parecia querer rir-se deles.
Os blaugrana,
era reconhecido por todos, possuíam um ataque fabuloso. Dispostas num «WM» que
na altura já ia dando lugar a um mais vulgar «4-2-4», das onze peças do conjunto
espanhol destacava-se o quinteto ofensivo que perfazia o «W». Kocsis, o
interior direito, era quase um avançado, fazendo lembrar os anos dourados da Hungria
54 devido às constantes combinações com o brasileiro Evaristo, emulador do
papel de Hidkeguti como – quase - «falso 9». Nas alas do ataque, os húngaros
Kubala e Czibor partiam da direita e da esquerda respectivamente, desbaratando
qualquer defesa e abrindo espaço para as incursões do maestro Luis Suarez, o interior
esquerdo da equipa que, já era público, sairia do clube no final da época para
jogar no Inter de Milão, pagando os italianos… 25 milhões de pesetas.
O Barcelona era, por estas e por
outras, tido como o grande favorito; estas, sim, porque o ataque era, como se
disse, verdadeiramente fabuloso; outras, também, porque após cinco títulos
consecutivos o Real Madrid tinha finalmente caído na prova num apaixonante
duelo com esta equipa nos quartos-de-final e isso era, só por si, um feito
irresistível. Assim, quando o jogo se iniciou e a prática pareceu querer
confirmar a teoria na perfeição ninguém se mostrou surpreendido. Os catalães,
fazendo uso da notável mobilidade do seu ataque, imprimiram ao jogo uma toada
verdadeiramente arrasadora que lançou o pânico no sector mais recuado da equipa
portuguesa. As chances de muito perigo acumulavam-se e o massacre blaugrana nos
vinte minutos iniciais culminou fatalmente em golo, apesar dos valiosos esforços
de Mário João (em cima da linha) e Costa Pereira no evitar da festa espanhola. O
maestro Luis Suarez cruzou para o segundo poste e Kocsis – talvez um dos
melhores cabeceadores de todos os tempos – fez o de sempre para colocar o Barcelona à
frente do marcador. Um-zero.
A vantagem não inibiu o domínio catalão e, quando ninguém esperava, a partida modificou-se
radicalmente numa daquelas aleatoriedades tão pródigas do jogo que dá pelo nome
de futebol. Após solicitação de Coluna, numa das suas iniciativas pelo vértice
esquerdo do «W», Cavém tirou um impecável centro que provocou a primeira
decepção nas hostes catalãs. A inoportuna saída do «portero» Ramallets abriu
caminho para que a bola se dirigisse para a baliza deserta, não sem que antes
José Águas, pelo sim pelo não, lhe desse o toque final confirmando a igualdade.
Um-a-um. Dois minutos depois, a superioridade benfiquista naquilo que tinha
sido o factor aleatório do jogo até ali materializou-se ainda mais. Um balão de
Neto seguido de uma infeliz intervenção de Verges levaram a bola a
encaminhar-se para a baliza; esta, passando por cima do desafortunado
Ramallets, bateu no poste esquerdo e deslizou junto à linha de baliza. O
árbitro, por sinal bem colocado, não hesitou em confirmar um golo que José
Águas celebrou imediatamente e que realmente aconteceu. Entre os blaugrana pouco se reclamou e o jogo
seguiu, correctamente, com o Benfica em vantagem. Dois-a-um. Até ao intervalo
nenhuma surpresa. O jogo foi seguindo equilibrado, com Coluna a deixar o aviso
do que seria a sua segunda parte e o Barcelona aqui e ali a aproximar-se do
empate, tendo Neto salvado os comandados de Béla
Guttmann ao interceptar mais um cabeceamento de Kocsis sobre a linha de golo.
FOTOGRAFIA: GETTY IMAGES
O recomeço confirmou os sinais do
fim da primeira metade e mostrou um Benfica mais equilibrado, em contraste a um
Barcelona menos afoito no ataque. Dez minutos passados, o imenso Mário Coluna,
já recuperado do choque com um adversário que o deixou sem sentidos durante
alguns minutos no início da partida, rubricou um dos mais espectaculares
momentos do jogo ao desferir um portentoso remate de primeira que bateu inapelavelmente o
guarda-redes Ramallets. Um golaço a vinte metros da baliza e três-a-um para o
Benfica. Sim, contra todas as expectativas o Benfica tinha a taça na mão. Com a
tranquilidade do resultado, os encarnados tentaram consolidar ainda mais a
vantagem, mas foram, pouco a pouco, sucumbindo e recuando perante a pressão
catalã. Ainda antes do golo de Czibor que colocaria três-a-dois no placar, o
Barcelona confirmou a má fortuna daquela tarde-noite ao desperdiçar
oportunidades incríveis pelo excesso de pontaria de Evaristo e Kubala. Três
vezes beijou a bola os postes da baliza de Costa Pereira, duas delas no mesmo
lance. A 10 minutos do fim, surgiu a quarta bola no ferro, desta vez num grande
remate de Czibor que simbolizou o triunfo da tenacidade benfiquista sobre a
técnica e a mobilidade catalã. Conta a lenda que foi este festival de bolas rechaçadas
pelos postes que levou a FIFA a adoptar, nos anos seguintes, as balizas com
postes cilíndricos e não quadrados, como até ali.
Os bravíssimos jogadores «encarnados» jamais
acreditaram na realidade que sugeria a supremacia evidente do Barcelona e,
apoiados numa tremenda ambição e vontade de vencer, fizeram história e
trouxeram a primeira Taça dos Campeões Europeus para o clube, confirmada, como
se sabe, no ano seguinte. Para o Barcelona, a derrota foi uma das mais
dolorosas da sua história tendo os seus adeptos que esperar mais de 30 anos
pela primeira Taça dos Campeões. Entre eles, os húngaros Kocsis e Czibor eram
os expoentes máximos do desgosto catalão. É que depois do doloroso três-a-dois
da final do Mundial de 1954, seguiu-se o doloroso três-a-dois da final da Taça
dos Campeões de 1961. Czibor, no final do jogo, não tinha dúvidas: - “Nunca
mais ponho os pés neste maldito estádio”. Desgosto de uns, festa de outros; em
Lisboa, ninguém se queixou da maldição do «Wankdorf».
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*Stifler: *
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Fim
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