Já passámos os três meses de competição em 2011/12, e é a altura ideal para fazer um balanço antes da dificílima série de jogos que vamos enfrentar, já a começar na próxima quarta-feira.
Primeiro, vamos aos factos: o Benfica está invencível em todas as competições. Lidera o campeonato em igualdade de pontos com o Porto, e já foi ao Dragão empatar. Lidera o grupo da liga dos Campeões e pode nesta 4ª feira selar já o apuramento para os oitavos-de-final, dependendo ainda de si próprio para conservar o 1º lugar que tanto jeito daria para o sorteio da próxima fase.
Este ano temos uma nova forma de jogar, que muitos dizem ser um 4-2-3-1, outros tantos um 4-4-2 e outros ainda dizem tratar-se do velho 4-1-3-2 redesenhado. Pouco importa, o fundamental é que a equipa está bem diferente em todos os diversos momentos do jogo, e resulta daqui que este ano temos tido uma dimensão competitiva superior à dois dos anos anteriores, embora isso não garanta logo à partida um mar de rosas.
Não embarquei na euforia de pré-época em relação ao nosso plantel, e continuo a não achar que temos um plantel super completo e cheio de alternativas. Podíamos ter, face aqueles que foram os jogadores postos à disposição do treinador durante a pré-época, mas a selecção que Jorge Jesus fez enfraqueceu-nos substancialmente, no meu entender. Tenho no entanto algumas dúvidas que isso se esteja já a notar nesta altura, embora hajam sinais que é preciso interpretar.
Obviamente estou muito satisfeito com este início de época, bem acima das minhas expectativas. Para mim constituiu uma surpresa a forma como fomos bater o pé ao FC Porto no Dragão, mesmo tendo em conta que o nosso rival está a sofrer um pouco com a falta de dimensão e carisma e do seu novo treinador. Também não esperava o recital de futebol que demos no Estádio da Luz perante o Manchester United, num jogo em que tivemos tudo para vencer, menos um pouquinho de sorte que teria sido precioso para marcarmos mais um golo.
No entanto também parece evidente que estamos a ter algumas dificuldades nos jogos que, na realidade, constituem talvez 80% do nosso calendário - os jogos contra as equipas pequenas. Não peço goleadas, peço segurança na gestão dos resultados, e os últimos dois jogos do campeonato acabam por marcar de forma não tão positiva estes três meses que agora terminam. Há certamente vários factores que podem explicar as nossas dificuldades neste tipo de jogos, mas neste aspecto volto dois parágrafos atrás: o nosso plantel não é assim tão completo como se diz. Dos 3 alas que iniciaram a época (Pérez, Gaitan e Nolito), apenas um (Pérez) garantiria uma maior profundidade, e está gravemente lesionado. Aos outros dois somou-se entretanto Bruno César, incompreensível aposta de Jesus para as alas (como se tem visto, apesar dos golos), que sofre ainda mais do vício que é comum aos outros dois - interioriza excessivamente o jogo.
Mais para trás, não se percebe o papel de Amorim. Se é alternativa a Witsel, se é alternativa a Maxi. Falta-nos um jogador para ser alternativa ou a Maxi ou a Witsel, dependendo daquilo que for a visão do treinador em relação a Amorim. Falta-nos um trinco à altura (porque saíram Airton e Nuno Coelho?) de Javi Garcia. Matic tem-me desgostado profundamente, duvido que mesmo na posição 8 algum dia venha a ser jogador para o Benfica. Até ver, preferia ter ficado com Peixoto no plantel, e não me parece que Peixoto fosse uma boa alternativa ao Javi Garcia. Com o espanhol assolado por lesões, e com os jogos mais complicados a aproximarem-se, é legítimo o alarme. E mais para trás, Emerson tem-se revelado um erro de casting de estirpe semelhante a Roberto, beneficiando apenas da vantagem das suas falhas não se traduzirem automaticamente em golos, como no caso do guarda-redes espanhol. Quanto a alternativas, nem se percebe quem poderá ser. Depois do inenarrável caso Capdevila, obviamente descartado e sem hipóteses de se conhecer uma inversão da situação, resta-nos Luís Martins, que subiu este ano dos juniores directamente para os seniores, e que nem foi utilizado ontem frente ao Olhanense tendo em vista uma possível substituição de Emerson no jogo da liga dos Campeões. Se está cá só para fazer número, estamos conversados...
Sim, estou preocupado. Para o campeonato temos assinado exibições cinzentas (a excepção foi a recepção ao Paços de Ferreira), a fazer lembrar um pouco os jogos de Quique Flores. E se é evidente que desde que ganhemos, até podemos jogar sempre assim, não menos verdade é que jogando assim estamos mais perto de não vencer sempre. E num campeonato tão desequilibrado como este, perder pontos contra as equipas mais pequenas não me parece boa estratégia.
O balanço destes três meses tem por isso duas vertentes que não são misturáveis. Por um lado, os resultados. Nada a apontar. Por outro, a forma como a equipa joga. E aí, as minhas dúvidas são maiores. Estamos talhados para os grandes jogos (pelo menos até agora), mas não parecemos muito capazes de garantir um índice esmagador de vitórias nos jogos pequenos, onde a necessidade de dar mais profundidade ao nosso jogo emerge quase sempre com outra veemência.
É certo que não é possível já corrigir os erros de definição do plantel que me parecem evidentes, e também me parece certo que tão cedo Jesus não alterará a sua forma de ver Bruno César ou mesmo Witsel, muitas vezes directo substituto de Aimar, mesmo com Bruno César em campo. Confesso que me enerva a forma como Jesus parece querer sempre escolher o caminho mais difícil para triunfar, numa espécie de braço de ferro com um inimigo imaginário que na sua cabeça o desafia a provar que pode fazer o impossível. Digam-me com sinceridade, o que têm visto de Bruno César, além dos golos? O que é que justifica a continuada aposta no Emerson?
Destes três meses, o que me parece mesmo inequívoco, é que temos uma dupla de centrais que está entre as melhores da Europa. Apesar de uma certa falta de agressividade a sair à bola que já nos custou alguns golos, Luisão e Garay têm feito excelentes exibições (e aqui destacaria principalmente o argentino), e garantindo juntamente com Artur (que contratação!) uma solidez defensiva por que os adeptos do Benfica já desesperavam. Isto mesmo tendo em conta os muitos golos que apesar de tudo já sofremos neste campeonato... é um daqueles factos curiosos que merece reflexão.
Baralhando e voltando a dar, para já foi bom termos passado três meses com excelentes resultados em pleno processo de construção da equipa. Por outro lado, é preciso ter cuidado com alguns sinais ameaçadores para o futuro. Vem aí uma série de jogos verdadeiramente diabólica, e não podemos de maneira nenhuma facilitar, sobretudo no campeonato. Jesus tem a palavra.
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